sábado, 22 de outubro de 2011

O JAPONÊS, O CABOCO DO LIMÃO E A SERVENTIA DA PONTE

Ademir Ramos (*)

Nagai, era japonês, foi candidato a Prefeitura do Iranduba, do outro lado de Manaus, perdendo as eleições para o ladino Muniz. Mas, de tanto insistir conseguiu se eleger vice do Nonato, atual Prefeito do Município, morrendo antes de tomar posse. Homem íntegro de boa alma que, junto com o Maia, empreendedor local, começou a desenhar a construção da Ponte sobre o Rio Negro.

Em sua campanha para Prefeito falava abertamente da possibilidade da construção da Ponte, inclusive de sua articulação com empresários japoneses para investirem neste empreendimento. Por diversas vezes, na época, tentou falar com o governador Amazonino Mendes, mas não obteve êxito, mesmo contando com a chancela do Senador Bernardo Cabral, que de ponte não tinha nada.

O Japonês, como ficou conhecido no folclore da política local, era ridicularizado pelos seus adversários quando falava da construção da ponte. Ninguém acreditava nessa possibilidade porque na verdade, a Ponte deveria ser uma liga e não apenas mais uma façanha de um político para ganhar eleição.

Quem explica melhor esta sentença é o caboco lá do lago do Limão, comunidade que fica à esquerda da estrada Manuel Urbano de quem vai para Manacapuru. Certa noite, o Nagai chegou com sua comitiva para participar de um misto entre comício e festa e a cabocada doida pra dá “facada” no japonês que, por sua vez, estava doido também que os candidatos a vereadores fechassem com o seu nome para a Prefeitura.

Nesse embate, Nagai começa a falar de suas propostas e dizia como ia fazer... assim, assado e de repente o caboco pergunta: Nagai tu acredita mesmo, que como Prefeito vai dar pra construir a Ponte? – Nagai, apressadinho como era, responde na bucha: sim, sim, vou buscar apoio no Japão e como eles querem investir, a gente vai unir força.

Mas, o caboco do Limão ficou assim e saiu-se com esta. Nagai, quem vai ganhar com esta ponte? Pra que ela vai servir? Não seria melhor a gente pensar em outra coisa que tivesse um resultado mais concreto pro povo e pra gente que mora aqui. Depois dessa conversa, os candidatos foram pra festa e o Japonês não pagava nada, então o caboco chegou à conclusão que o Nagai já estava economizando pra Ponte porque, segundo ele, devia custar além do sacrifício do povo milhões de dinheiro.

Por linhas tortas, o caboco do limão falava de uma situação que década depois iríamos comprovar na fala do Governador Omar Aziz, quando justificava o sacrifício que fez para a conclusão da obra, “só Deus sabe”, segundo comentava o radialista Valdir Corrêa. Enquanto isso, o benfeitor da Ponte estava nas “Europas”, na gastança, bem longe do caboco do limão e do povo do Amazonas, que pagou muito caro por uma vaga promessa de desenvolvimento a rolar pela Ponte. E o pior de tudo que tem gente que acredita.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.

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