
Revista Educação: No Brasil vivemos um momento de grande discussão sobre a formação do professor, o que inclui a formação inicial, nas universidades, até a valorização dos profissionais mais experientes. Hoje, esta é uma questão mundial?
António Nóvoa: É uma questão de âmbito mundial. Num texto recente, apresentei cinco teses sobre a formação de professores que respondem à sua pergunta. É impossível desenvolvê-las, mas posso enunciá-las. A formação de professores deve: a) assumir um forte componente prático, centrado na aprendizagem dos alunos e no estudo de casos concretos; b) passar para ‘dentro’ da profissão, isto é, basear-se na aquisição de uma cultura profissional, concedendo aos professores mais experientes um papel central na formação dos mais jovens; c) dedicar uma atenção especial às dimensões pessoais, trabalhando a capacidade de relação e de comunicação que define o tato pedagógico; d) valorizar o trabalho em equipe e o exercício coletivo da profissão; e) estar marcada por um princípio de responsabilidade social, favorecendo a comunicação pública e a participação dos professores no espaço público da educação.
Nóvoa é uma das mais consideradas e respeitadas autoridades mundiais em educação. Lançou recentemente o livro “Professores – Imagens do futuro e do presente” e, nesta entrevista concedida a Revista Educação reforça mais uma vez a necessidade de mudanças no processo de formação de professores.
Ao enunciar cinco teses, resumidas em sua resposta acima, o educador destaca alguns pontos que, infelizmente, ainda estão distantes daquilo que é a realidade brasileira quanto a formação dos professores. Inicia, por exemplo, destacando a necessidade da componente prática, com foco no processo de ensino-aprendizagem e no exame da atuação de outros professores (estudo de casos), o que já deveríamos estar fazendo há bastante tempo!
O foco na aprendizagem do aluno, igualmente necessário mas difícil de colocar em prática (por conta da cultura estabelecida nas escolas, há décadas, que centra toda a ação pedagógica no professor), já preconizado por outros pensadores da educação, exige desprendimento dos educadores, capacidade de ouvir (difícil de encontrar) e também mudanças estratégicas no trabalho do educador, que passaria a ter que concentrar suas ações no papel do orientador das realizações dos educandos, trazendo e fomentando participações, esclarecendo idéias quando necessário e, em especial, levando os alunos a se tornar o centro do trabalho realizado na escola.
Se pensarmos a afirmação de Nóvoa quanto a idéia dos professores mais experientes auxiliarem na formação dos mais jovens (projeto em andamento em Nova Iorque que revigorou a educação local), tanto no Brasil quanto no mundo atual – globalizado, rápido e voraz – perceberemos que o espaço para a consecução desta prática ainda não existe. Deveria, é certo. Parece, inclusive, bastante óbvio, mas esbarra em problemas tais quais a resistência dos mais jovens a ouvir os professores experientes; a longa (e louca) jornada de trabalho atual dos professores brasileiros; a cultura individualista e competitiva que existe no mundo e que nos compele a ver no outro profissional não um colega, colaborador, que pode nos ajudar e, sim, um competidor…
Resolver a situação é possível. Começando por reconhecer e valorizar os méritos e o trabalho destes profissionais mais experientes, dando-lhes novas diretrizes e funções no espaço educacional, relacionadas a essa tutoria ou ‘coaching’. Neste novo trabalho, acompanhariam os mais jovens de perto, teriam momentos de reflexão e orientação sobre a ação pedagógica destes iniciantes na profissão, preparariam materiais (cursos, palestras, leituras) de apoio e estudariam tais recursos junto a seus ‘orientandos’…
Desenvolver a capacidade de comunicar idéias e, reforço, de pensar melhor não apenas as práticas mas também conceitos e proposições levadas a sala de aula é, do mesmo modo, ponto decisivo para que a educação melhore, como atesta Nóvoa. É certo que uma comunicação mais efetiva deve vir acompanhada de uma melhor capacidade de relacionar-se com os outros, em especial com os alunos. Estas competências não fazem parte do itinerário dos professores em formação. Praticamente se despreza o fato de que os professores são comunicadores e devem compreender tanto aspectos de relações públicas e pessoais quanto, até mesmo, estarem melhor formados para a compreensão da psiquê humana.
Os demais pontos mencionados pelo atual reitor da Universidade de Lisboa, que fecham sua explicação, são igualmente importantíssimos. A escola têm um claro e evidente papel no que tange a responsabilidade social.
Não apenas deve trabalhar conteúdos e saberes, mas evidentemente dar o norte quanto a cidadania, ética, vida em coletividade, compreensão do papel político de todos (estimulando maior engajamento e participação)…
Trabalhar de forma mais integrada dentro das escolas e redes então nem se fala… Os professores, a orientação, a coordenação e a direção tem que se ver como um único corpo, respeitadas e valorizadas as diferenças que fazem com que todos possamos crescer e ganhar dentro do grupo. O sentido coletivo da ação dá mais coerência e pertinência ao trabalho perante os alunos, a comunidade atendida e toda a coletividade.
Falas e ações alheias ao que a maioria dos profissionais trazem a público acabam fazendo com que a compreensão do projeto pedagógico, dos objetivos e realizações do grupo de trabalho acabem não sendo compreendidas pelos alunos, pais e comunidade como deveriam. Temos que agir coletivamente para que possamos realizar práticas e efetivar a educação de modo coerente!
Fonte: http://www.inclusive.org.br/?p=13881
PROFISSÃO PROFESSOR: IDENTIDADE E PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE.
Leliani Patrícia Santiago
Este livro intitulado: “Profissão professor: identidade e profissionalização docente” é resultante do trabalho realizado em um espaço determinado e imediato de decisões a sala de aula de Programa de Mestrado e Doutorado em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho”.
Os autores preferem dividi-lo em nove interessantíssimos capítulos integrando a profissão professor sua identidade há muitos outros pressupostos que nos antecederam para que nossa situação educacional apresentasse a identidade do profissional de educação na atualidade.
O texto é composto de 195 páginas distribuídas em prefácio, os nove capítulos, que são escritos por diferentes, autores e a conclusão expressa em cada capítulo. É um livro com linguagem acessível levando a uma integral compreensão da identidade do professor.
A intenção desta pesquisa foi a defesa da identidade do professor como um profissional que tenha o domínio dos saberes específicos de seu campo de saber, dos saberes pedagógicos, dos saberes transversais à sua área específica, dos saberes políticos e culturais, sendo também dotado de competência para produzir conhecimento sobre seu trabalho. E de atuar no processo constitutivo da cidadania do “aprendente”, seja ele criança, jovem ou adulto.
No primeiro capítulo denominado“Profissão professor: identidade e profissionalização docente” observa-se uma crítica muito bem elaborada e fundamentada à crise da profissão docente relacionando-a à uma crise de identidade, de autonomia e ao reconhecimento dos professores em todos os níveis da atividade educativa.
Vimos na obra que a profissionalidade docente será o conjunto maior ou menor de saberes e de capacidades de que dispõe o professor, no desempenho de suas atividades, e o conjunto do grupo profissional dos professores num dado momento histórico. Entendemos a desvalorização dos profissionais da educação quando o autor diz que “uma incursão pela história da educação brasileira revela que a função docente desenvolveu-se de forma não-especializada como uma ocupação secundária dos educadores religiosos, que recebiam preparo para a dupla função de evangelizar e de educar” (p. 11). Mais adiante percebemos que a educação aos poucos se evoluía, pois (p. 13) o reconhecimento do magistério como profissão apresenta como fundamento a conquista de um estatuto social e econômico dos profissionais da educação e impõe ações que superem a degradação em que se encontram a formação e a carreira dos profissionais.
Assim são levantadas as questões que estruturam e dão ênfase a profissão. O profissionalismo docente abrange cinco categorias apresentadas na obra, são elas: competência, licença, vocação, independência e auto-regulação.
A obra ainda fundamenta cada categoria evidenciando a sua importância em conformidade com as leis especificas da educação (Diretrizes Curriculares para Formação Inicial de Professores da Educação Básica). A partir das categorias que dão suporte à profissão docente revelando a identidade do professor, entendemos então, a função do professor que deve ser um profissional que domina o conhecimento específico de sua área e os saberes pedagógicos.
Categorias (competência, licença, vocação, independência e auto-regulação) percebe-se que a profissão professor abre espaço ao “semi-profissionalismo” dos docentes e à uma crise de identidade profissional. Conquanto, é importante frisar a importância do trabalho docente, sabendo que a educação exercida pela sociedade no sei cotidiano onde todos se educam e são educados nos diferentes tempos e espaços da vida social, mas o professor é aquele que tem por profissão a função específica e especializada, realiza parcela significativa da atividade educativa que a sociedade considera relevante para sua conservação e transformação.
No segundo capítulo denominado “os movimentos sociais e seu papel educativo”, percebemos que Alguns movimentos sociais foram importantíssimos para a formação da identidade do professor e uma destas manifestações consideradas fundamentais pelos autores da obra foi o feminismo, pois este movimento foi considerado uma das principais contribuições do movimento de mulheres tem sido evidenciar a complexidade da dinâmica social e da ação dos sujeitos sociais, revelando o caráter multidimensional e hierárquico das relações sociais e existência de uma grande heterogeneidade de campos de conflito.
Na obra ainda é levantada a questão que um espaço para refletir e desenvolver atividades a partir da perspectiva de gênero significa reconhecer que a sociedade está composta por homens e mulheres que existe discriminação e desigualdade baseada no sexo e que a educação tem um papel primordial na construção de projetos que visem a transformar esta realidade de dificuldades em propostas que signifiquem relações mais harmoniosas e equilibradas entre masculino e feminino.
No terceiro capítulo denominado “movimento de educadores e o curso de pedagogia: a identidade em questão” os autores trabalham a questão do conceito de identidade do curso de pedagogia, identificando a importância da auto avaliação que cada pedagogo deve exercer, sobre si e sobre a profissão através de movimentos pedagógicos, para a formação de sua própria identidade. Os autores levantam a questão da formação para a qualificação profissional, (p. 68) uma evolução dos estudos pedagógicos de nível superior desenvolvidos no período que vai de 1930 a 1960, centralizando-se em torno de um princípio unificador de verificação defendido pelos pioneiros, atribuindo caráter universitário à educação superior.
Quanto à Pedagogia e ao curso de Pedagogia os autores relatam que continuam a busca da identidade, ainda sem sucesso, e neste estudo revelou-se desdobrada em duas tendências vistas do lado da organização curricular. No quarto capítulo: “diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia no Brasil: um tema vulnerável às investidas ideológicas”, percebemos o quão importante foi a implementação de leis que regem a profissão educativa, pois na leitura do livro observamos que há tempos atrás a profissão era de quem se dispusesse a faze-la, e não a quem tinha condições para tal.
As Leis de Diretrizes e Bases regulamentaram a educação, tornando-a mais qualitativa, e os educadores e professores passaram a ter a necessidade de formação profissional para exercer a função. Sabemos que a formação universitária exigida para o exercício da função professor ainda não é completamente cumprida, mas aos poucos o Brasil se aprimora e começa a cumprir as leis estabelecidas na constituição. Percebemos importância das práticas sociais na educação quando os autores dizem que (p. 79) cada vez mais presentes na dinâmica das práticas sociais, a educação caracteriza-se por sua vasta amplitude, compreendendo extensa variedade de processos, sejam eles do âmbito da educação formal ou informal, intencional ou não intencional.
Conseqüentemente, soa muitas as categorias profissionais já envolvidas e as que, cada vez mais, tendem a se envolver nas várias tarefas aí existentes. O quinto capítulo intitulado “formação da profissão da Educação: a intervenção dos sindicatos” evidencia a complexidade que existe no entorno da educação, pois a identidade do professor, como profissional, passa necessariamente pela luta política, na qual se efetiva informalmente a formação contínua do docente. Os professores precisam ser críticos a tal ponto que as relações entre pedagogia e o sindicato sejam marcadas por certa reciprocidade, autonomia e independência, a fim de evitar que os sindicatos se transformem em instituições formais de educação.
Quando o assunto é crise profissional os autores trabalham muito bem o tema no sexto capítulo “a identidade e a crise do profissional docente” A identidade na educação deve ser concebida como prática social caracterizada como ação de influências e grupos, destinada à configuração da existência humana (p. 118). A educação deve, ou deveria, ser vista como uma das profissões mais exigentes do mercado. Baseando-nos no contexto histórico, sabemos que a questão da “semiprofissionalização” do professor está sendo abolida, e a mudança pode ser considerada geral, tanto educadores estão buscando uma formação, sua identidade profissional quanto os órgão públicos educacionais estão cobrando esta qualificação, oferecendo suporte para a melhoria na qualidade dos profissionais da área da educação.
Assim os autores trabalhando a crise na educação elaboram uma série de conceitos sobre o educador e sua função na escola. O ato de educar é sempre um ato conflituoso pelas implicações de confrontação entre duas consciências. A tarefa do professor é a produção e a criação das condições para que esta ocorra. Já a escola trabalha o conhecimento através de seus atores-autores produzindo-o, reelaborando-o ou reproduzindo-o.
Então os autores concluem o texto sobre a crise na identidade profissional dizendo que a construção de uma competência pedagógica passa pelos saberes didáticos, do conteúdo específico, das ciências da educação, da pesquisa e o saber do método que não podem atuar isoladamente sobre o professor. Iniciando o sétimo capítulo “trabalho docente” os autores trabalham com a questão do saber comum, o empirismo, para exemplificar e fundamentar o trabalho docente.
“Saber fazer para saber mandar”, assim compreendemos, fundamentalmente, que o professor deve ter conhecimento pleno sobre o conteúdo, convicção absoluta de seus saberes e autonomia estabelecida em seus momentos didáticos, pois não consegue fazer a mediação entre o aluno e o conhecimento aquele que não o tem bem definido para si.
Os autores ainda relatam que se educar é o ato de realizar uma síntese entre o passado e o futuro, ou ainda, é o ato de reconstruir os laços entre o passado e o futuro, ensinar o que foi para inventar e ressignificar o que será, o professor é aquele sujeito social cujo trabalho é de forma intencional e formal, o de realizar parcela significativa da atividade social de educar. Aprendemos que o ensino era transmissão de saberes a muito isso vem sendo desvinculado no meio educacional, sabemos agora que o professor não é o único que ensina, pois a educação está para todos e tanto ensina o professor quanto o aluno, e a palavra do momento no âmbito educacional é “mediação”, pois o professor é o mediador entre aluno e conhecimento sem jamais ter a intenção de transmissão de conhecimentos e saberes.
O oitavo capítulo revela como “tornar-se professor: um olhar sobre a prática docente”. Vemos que a profissão docente adensa as questões do próprio educador, sobre a sua ação. Ser professor é trabalhar com o ser humano, com pessoas, assim o professor também é um ser humano, portanto a importância de uma boa relação entre o professor e sua vontade de ensinar educando, essa passou a ser a função do educador.
Sabemos que não basta ter “o dom” para ser um educador são fundamentais o preparo, a formação e a qualificação profissional. Assim é possível compreender a construção da identidade profissional por meio do dispositivo de formação e do processo relacional, não sendo possível separar as dimensões pessoais e profissionais, pois a cultura, os saberes, as visões de mundo do profissional é que possibilitam a construção de sua identidade.
“Docência e a especificidade na formação e atuação: profissionalização” é o tema do nono capítulo, e entende-se com esse que no campo educacional, as transformações têm gerado intensos debates voltados para uma reavaliação do papel da escola e dos professores. A formação da profissão docente encontra-se intimamente vinculada à emergência dos sistemas de ensino estatais. Os autores consideram a pesquisa, em relação à formação profissional do professor, como condição básica para a construção de uma nova imagem que rompe com a visão funcionalista.
O professor deve tem consciência de seu papel na elevação do nível de qualidade educação, pois é notório que a educação só terá a excelência na qualidade quando tiver profissionais que busquem tal qualificação e para isso é necessário formação. Assim, entende-se na leitura do livro “Profissão professor: identidade e profissionalização docente” que a identidade do profissional docente é construída no cotidiano e esta construção de uma competência pedagógica passa pelos saberes didáticos, do conteúdo específico, das ciências da educação, da pesquisa e o saber do método que não podem atuar isoladamente sobre o professor.
Para um educador que realiza um estudo sobre o livro “Profissão professor: identidade e profissionalização docente” fica fácil projetar ou foco de trabalho pedagógico. Aprende-se na leitura desta obra, fundamentalmente, que a ação educar, ensinar, não é apenas adquirido pelo “dom”, ou ainda, pela prática, a educação é muito mais complexa que imagina muitas pessoas que a encaram como um “bico”, por falta de um trabalho melhor.
Esta é uma obra que não pode faltar na bibliografia de qualquer professor, formado ou em formação, preocupado em garantir a qualidade de sua profissão, e por conseqüência, a valorização da mesma.
BRZEZINSKI, Iria. Profissão professor: identidade e profissionalização docente. Brasília: Plano Editora, 2002. 196 p.
Fonte:http://www.uftm.edu.br/upload/ensino/AVIposgraduacao090731153244.pdf
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