sábado, 1 de outubro de 2011

PASSAGEIROS EM AGONIA NOS RIOS DO AMAZONAS

Ademir Ramos (*)

Há poucos dias atrás fiz uma viagem de barco até Maués - a 267 quilômetros de Manaus -, rio abaixo, terra dos Sateré-Mawé. Nesse percurso pude conferir a traquinagem que os donos de barcos fazem para se livrar da fiscalização da Capitania dos Portos, colocando em risco a vida dos passageiros que recorrem a este tradicional meio de transporte em nossa região.

Assim como presenciei gratuitamente o desmando será que os agentes da Capitania também não sabem ou fazem vista grossa frente ao descaso dos proprietários de barco quanto à segurança dos passageiros. Na Amazônia, este tipo de mobilidade é muito popular, permitindo que o cidadão comum possa recorrer com mais frequência a esse meio para o cumprimento de suas atividades sociais, afetivas, trabalho e assistência à saúde.

Por não se ter um Terminal Hidroviário em Manaus o deslocamento para o Porto é um sacrifício, ocorre entre carga pesada, filas de carro e empurrões dos carregadores, visto que os Barcos de Linha, os famosos recreios , faturam muito mais com carga do que com passageiro e por isso o tratamento é um dos piores. Aqueles que podem viajam de camarote, mas a maioria vai mesmo é de rede porque o custo é mais em conta, em média 70 reais.

A partida se dá às 17h, sob o olhar dos agentes da Capitania dos Portos, na verdade eles nem sempre se encontram no local, apenas em respeito à lei e pelo temor das multas. Parece que tudo está sob controle, quando se entra no Barco ao comprar a passagem você recebe uma fita a ser fixada no braço identificando o passageiro, o que facilita o controle pelos trabalhadores de bordo, bem nos moldes da instituição total.

Em seguida levanta-se a prancha, recolhem-se as cordas e a partida é anunciada com destino ao paradeiro que você escolheu. O Barco sai devidamente equipado e “armado” com o seu corpo técnico que vai do comandante ao taifeiro. Tudo nos conformes, como exige a vistoria da Capitania dos Portos.

Mas, as aparências enganam. Uma hora depois, antes de chegar ao nosso belíssimo Encontro das Águas, toda tripulação credenciada pela Marinha e às vezes o próprio proprietário do Barco “pega o beco”, retornando ao Porto de Manaus, deixando a direção do Barco sob o comando dos práticos auxiliares, que passam a dirigir a base do “olhometro”, como faziam e fazem nas proas de suas pequenas embarcações, deixando os passageiros mais atentos em agonia.

O valor do conhecimento tradicional é fato na Amazônia. Mas, em se tratando de atividade comercial de grande porte deve-se exigir também o cumprimento da norma seguido da fiscalização da Capitania dos Portos para que faça cumprir os protocolos de navegação, garantindo desta feita, a seguranças dos passageiros e evitando que haja novos acidentes nos rios da nossa Amazônia.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.

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