13 MOTIVOS PARA NÃO ACEITAR A PROPOSTA DO
GOVERNO
O Comando
Grevista da Universidade Federal do Amazonas representado pela ADUA/ANDES
decidiu em Assembleia Geral (19), por unanimidade, a continuidade da greve,
rejeitando a proposta do governo na totalidade. Para justificar a decisão da
Assembleia foram aprovados 13 pontos contra a medida governamental. Nesta
segunda (23), o governo/MEC promete retomar as negociações, o que é esperado
pelo movimento grevista, na expectativa de reverter esse quadro em defesa da
qualidade do Ensino, Pesquisa e Extensão agregado a institucionalização de um
Plano de Carreira que valorize o Magistério e o quadro técnico dos
trabalhadores da educação. A greve dos professores faz parte de uma luta maior,
que mobiliza força dos servidores públicos federais visando qualidade nas
políticas públicas. Veja os 13 pontos:
1- Desrespeita o movimento grevista e aprofunda a desestruturação da
carreira do magistério superior;
2- Não apresenta nenhuma solução para resolver as péssimas condições de trabalho nas Universidades Federais;
3- Em não aceitar que a inflação passada e futura acarretará perdas
salariais para uma parcela significativa dos professores das Universidades;
4- Em não aceitar a proposta de carreira única do ANDES se amplia a
desigualdade salarial entre os professores;
5- 80% da categoria por mais competente e produtiva que seja não poderá
chegar ao topo da carreira;
6- Agravam-se os problemas de desestruturação da carreira, pois não
estabelece piso, teto ou sistema de progressão racional entre os níveis;
7- Desvaloriza a carreira do magistério superior e desestimula o ingresso
de profissionais com qualificação acadêmica;
8- Fere a autonomia universitária ao delegar ao MEC os critérios de
promoção e progressão funcional;
9- Aumenta a carga horária semanal de ensino em prejuízo das atividades de
pesquisa e extensão;
10- Insiste em modelos produtivistas e elitistas, além de criar novas
barreiras para progressão dos professores, que com título de mestre, não
poderão mais ascender à classe de adjunto;
11- Não enfrenta as injustiças e a disparidades existentes entre ativos e
aposentados;
12- Não apresenta nenhuma indicação em termos de criação de um plano
nacional de qualificação estruturando para os próximos anos que atenda as
demandas do movimento docente;
13- É autoritário, midiático e enganosa porque vende a ideia de que há um
aumento de 45,1% enquanto na prática esse valor não corresponde à verdade dos
fatos.
A GREVE DOS PROFESSORES E A BURRICE DO PT
DA DILMA
Frei Betto (*)
Eis
que esbarro no aeroporto com um amigo, alto funcionário do governo federal.
Fomos colegas de Planalto nos idos de 2004. Fui direto ao ponto:- E quando
o governo acabará com a greve dos professores das universidades públicas, que
já dura mais de 60 dias? Ela paralisa 57 das 59 universidades federais e 34 dos
38 institutos federais de educação tecnológica. São 143 mil profissionais de ensino de braços cruzados.
- O governo? reagiu surpreso. - Eles
é que decidiram parar de trabalhar. Já é hora de descruzarem os braços e
aceitar nossa proposta apresentada na sexta, 13 de julho. A partir do ano que
vem um professor titular com dedicação exclusiva poderá ter aumento de 45,1%.
- Sexta-feira 13 não é um bom
dia para negociar... Sei que o PT tem tido sorte com o 13. Mas, pelo que me
disseram professores, a proposta do governo está aquém do que eles querem. E só
favorece os professores que atingiram o topo da carreira, e não os iniciantes. Como é possível um professor adjunto,
com doutorado, ganhar R$ 4.300, e um policial rodoviário com nível superior R$
5.782,11?
- O que pedem é acima do
razoável. E se a greve prosseguir, nem por isso o país para.
- Você parece esquecer que o PT
só chegou à Presidência da República porque o movimento grevista do ABC,
liderado por Lula, encarou a ditadura, desmascarou as fraudes dos índices
econômicos emitidos pelo ministério de Delfim Netto e exigiu reposição
salarial.
O amigo me interrompeu:
- Aquilo foi diferente. Máquinas
paradas atrasam o país.
- Este o erro do governo, meu caro. Não avaliar que escola fechada
atrasa muito mais. Quem criará as máquinas ou, se quiser, trará ao país
inovação tecnológica se os universitários não têm aulas? Quem estanca a fuga de
cérebros do Brasil, com tantos cientistas, como Marcelo Gleiser, preferindo as
condições de trabalho no exterior? A
maior burrice do governo é não investir na inteligência. Já comparou o
orçamento do Ministério da Cultura com os demais? É quase uma esmola. Como está
difícil convencer o Planalto de que o Brasil só terá futuro se investir ao
menos 10% do PIB na educação.
Meu amigo tentou justificar:
- Mas o governo tem que
controlar seus gastos. Se ceder aos professores, o rombo nas contas públicas
será ainda maior.
- Como pode um professor
universitário ganhar o mesmo que um encanador da Câmara Municipal de São Paulo?
Um encanador, lotado no Departamento de Zeladoria daquela casa legislativa,
ganha R$ 11 mil. Um professor universitário com dedicação exclusiva ganha R$
11,8 mil. Agora o governo promete que, em três anos, ele terá salário de R$
17,1 mil.
- O governo vai mudar o plano de carreira. Professores passarão a
ganhar mais em menos tempo de trabalho.
- Ora, não me venha com
falácias. Quando se trata do fundamental (saúde, educação, saneamento) o governo nunca tem recursos suficientes.
Mas sobram fortunas para o Brasil sediar eventos esportivos internacionais
protegidos por leis especiais e comprar jatos de combate para um país que já
deveria estar desmilitarizado.
- Você não acha que é uma honra
o Brasil sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo? Não é importante atualizar os
equipamentos de nossa defesa bélica?
- Esses eventos esportivos
estarão abertos ao nosso povo, ou apenas aos turistas e cambistas? E quanto à
defesa bélica, há tempos o Brasil deveria ter adotado a postura de neutralidade
da Suíça e abolir suas Forças Armadas, como fez a Costa Rica em 1949. Quem nos
ameaça senão nós mesmos ao não promover a reforma agrária para reduzir a
desigualdade social e manter a saúde e a educação sucateadas?
Meu amigo, ao se despedir, admitiu em
voz baixa:
- O problema, companheiro, é
que, por estar no governo, não posso criticá-lo. Mas você tem boa dose de
razão.
(*) É escritor, autor de A obra do Artista - uma visão holística do Universo (José Olympio), entre outros
livros.www.freibetto.org <http://www.freibetto.org> Twitter:@freibetto.
Fonte: http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2012/07/22/brasil-so-tera-futuro-se-investir-ao-menos-10-do-pib-na-educacao/
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