O PERFIL DOS CANDIDATOS
E O COMPORTAMENTO ELEITORAL
Ademir Ramos (*)
As eleições reclamam dos candidatos
investimentos de diversas ordens. De
início espera-se que o candidato tenha algum lastro de conhecimento vinculado a
um determinado trabalho social ou situação de comprometimento que justifique a sua candidatura. Ao contrário,
pode também ser um “candidato proveta” bancado financeiramente por grupos empresariais
que visam, sobretudo, se apropriar da máquina do Estado a serviço de interesses
privados.
No passado, os candidatos
consultavam os oráculos, os terreiros, os templos com propósito de ler e compreender os sinais
que afirmavam ou não suas lideranças na perspectiva da conquista do poder em
questão. A narrativa desses fatos ganha visibilidade ainda mais na história do
império Romano.
Atualmente, os candidatos recorrem a leituras menos obscuras,
valendo-se das ciências sociais para avaliar,
analisar e definir estratégias eleitorais frente ao comportamento dos
eleitores. Nesse campo, a Sociologia torna-se uma das principais
ferramentas para se compreender o fato social e político, recorrendo às
estatísticas para quantificar e qualificar a manifestação dos eleitores. Somado
a estas questões formulam-se novos gradientes metodológicos visando compreender
a política como “fato social total” amparada nas condições materiais que
determinam as opções individuais ou de massa.
Muito antes da
Sociologia, Maquiavel, em particular, já destacava o valor das aparências na
prática do poder,
enaltecendo a política não mais como serviçal da doutrina eclesiástica, mas com
protagonista dos interesses em disputa garantindo espaço e domínio sobre
território a ser conquistado.
O risco das
consultorias políticas muitas vezes é não saber conjugar a política no campo qualitativo,
reduzindo suas pesquisas nos índices estatísticos, ignorando o pântano que é o
universo das culturas de massa, induzindo os candidatos a erros primários, que
resultam em perdas irreparáveis no universo eleitoral. Desse modo, os
marqueteiros desavisados, que não ampliarem seus diálogos com as ciências
sociais – política, cultura, psicologia, sociedade – não prosperarão nesse
campo porque a compreensão do fato é mais importante do que o ocorrido. Assim
sendo, faz-se necessário tipificar o
voto e trabalhar em diversas frentes sob o foco do realismo político
considerando a perversa desigualdade social que nos bate a porta.
Nesse contexto, as lideranças
messiânicas são capazes de prosperar se forem contempladas com tempo
razoável no rádio e televisão. O perfil desses candidatos nota-se pelas
promessas fantásticas, de fala fácil, dizendo que tudo fazem e resolvem porque
só eles são capazes de resolver o problema do povo. O poder de persuasão desses
iluminados soma-se com a cultura de
massa, despersonalizando o voto e reduzindo o eleitorado num rebanho de ovelhas
convencidos que o matadouro é o melhor caminho para se alcançar o paraíso e que
tais candidatos são identificados como o “pai ou mãe dos pobres”,
principalmente, em se tratando de um povo que vive em extrema pobreza.
O voto por conveniência é outra tipificação que denuncia o
comportamento do eleitor que se deixa seduzir por interesses familiares e
patrimoniais. Neste segmento os eleitores manifestam-se por demandas imediatas,
individuais e particulares, possibilitando ganho direto para seus familiares,
exigindo dos candidatos forma de retribuição. A manipulação do voto e a
promessa do eleitorado são feitas a todos os candidatos que se apresentarem
nesse território. O corporativismo nesse meio é uma das marcas dessa fração
social bem ao molde do perfil do servidor público obtuso e de outras representações
sociais oportunistas, que de forma viciada trafegam na política para ostentar e
afrontar aqueles que realmente reclamam pelo Direito.
O voto por opção é bem
diferente podendo
ser compreendido tanto de forma objetiva como subjetiva. Isto é, o eleitor
sustenta certa identificação com o candidato tendo por referência as propostas
apresentadas. Embora tenha discordância, sua decisão respalda-se na trajetória
política dos candidatos traduzindo confiança e credibilidade. Nessa circunstância, o eleitor é convocado a avaliar, analisar e optar por um nome, partido
e propostas que respondam as indagações que se faz quanto à empregabilidade,
juventude, saúde, educação, meio ambiente, cultura, responsabilidade e outras
questões sociais e políticas que exigem da sociedade e dos Agentes Público
posicionamento firme na formulação de política pública que propiciem o acesso e
a oportunidade para todos. A opção é um ato de escolha que requer do eleitor responsabilidade
e cidadania exaltando a política como instrumento de luta para garantir Direitos com Justiça Social.
(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.
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