NEM TUDO QUE PARECE, É.
Ellza Souza (*)
Aliás, a propaganda dos feitos e a fazer dos políticos, principalmente
às vésperas de eleição, é repugnante pois não combina com a situação real do
que encontramos nas repartições, nas escolas, nos hospitais, nas ruas apinhadas
de lixo e camelôs, nos ônibus lotados e com rotas mal planejadas, na má
conservação do patrimônio histórico, na falta de verbas para a pesquisa
científica e segurança pública.
Pela primeira vez fui ao Instituto da Mulher situado
ao lado do Pronto Socorro 28 de Agosto, fazer um exame de rotina. Sempre
passava no ônibus na rua Recife e me perguntava: para que serve um Instituto da
Mulher? Prédio bonito, grande, novo, bem pintado, hoje fui conhecê-lo de perto.
Entreguei a requisição do exame na recepção. A moça mandou que eu aguardasse
pois estava preenchendo uma ficha de outra paciente. No lápis e no papel, bem
do jeito que eu gosto mas um pouco antiquado para o tempo do computador.
Por algum motivo ela me mandou
contornar o prédio e procurar atendimento na recepção na parte dos
fundos do prédio. Pacientemente, fui. O dia, claro e belo, me fez apreciar o
espaço que circunda o prédio. Tudo apor ali é vivo, muita gente conversando, passando,
muitos carros estacionados que imagino não serem da clientela do Instituto. Na
recepção fui bem atendida mas com alguns probleminhas técnicos. O meu número no
SUS ou Sistema Único de Saúde não possibilitou a entrada no sistema o que gerou
um outro registro (aliás o terceiro). Precisava fazer dois exames. Um foi
marcado para daqui alguns dias. O outro, “faz aqui mas o aparelho está com
defeito”. Um tanto aborrecido o atendente fez questão de salientar que “a
propaganda não combina com a realidade” ou seja: tem belos prédios, isso é
óbvio, mas o sistema de saúde não funciona a contento para quem precisa. Um
aparelho desses, que tanto serve à população carente que não tem condições de
pagar trezentos reais numa consulta médica e depois fazer um exame de quase 200
reais (só aí foi quase o salário de um trabalhador), parado sabe lá há quanto
tempo e ninguém toma providência. Não é o primeiro aparelho de um hospital
público que ao chegar para fazer um exame, encontro parado por estar danificado
e sem previsão de conserto.
Tem alguma coisa errada em nossas
vidas, na vida de um cidadão comum. Não é favor nenhum dispor de um serviço de
saúde de qualidade pois para isso grande parte da nossa existência pagamos
taxas e impostos que deveriam ser bem empregados na saúde, na
educação, no transporte, nas calçadas, nas praças, na mobilidade urbana, para
dizer o mínimo. E o que vemos é o aparelho de um hospital que não funciona pela
má gestão de administradores que deveriam servir ao público e, ao contrário,
nos empurram goela abaixo, modelos ineficientes de serviços.
Aliás, a propaganda dos feitos e a
fazer dos políticos, principalmente às vésperas de eleição, é repugnante pois
não combina com a situação real do que encontramos nas repartições, nas
escolas, nos hospitais, nas ruas apinhadas de lixo e camelôs, nos ônibus
lotados e com rotas mal planejadas, na má conservação do patrimônio histórico,
na falta de verbas para a pesquisa científica e segurança pública. É um horror
a qualidade de nossos políticos e tenho absoluta certeza que eles não estão
preocupados com a melhoria da sociedade. Desconfio que nem sabem ao certo a
função de um vereador, deputado, senador, governador, prefeito, presidente. E o
pior é que nós é que nos deixamos levar por propagandas bem feitas mas
completamente enganosas e os escolhemos para serem os nossos algozes.
(*) É
jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM.
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