MANAUS,
DE CIDADE SORRISO A VALE DE LÁGRIMAS
Ellza
Souza (*)
A cidade
de Manaus cada vez mais caminha para o precipício. Abarrotada de gente e de
carro, não temos lideranças políticas capazes de organizar essa balbúrdia e
cada vez mais ficamos a mercê de grupos e apaniguados que se comportam como
donos não só do espaço mas também das verbas públicas que “não sei por qual
motivo” não chega a sociedade, nem aos que tem posses quanto mais aos
despossuídos. A massa de crianças e jovens com titica na cabeça, facilmente
manipulados por televisão, por propagandas enganosas, por falsas promessas, é
grande. Isso cada vez mais se transforma em um caldeirão de violência pronta
pra explodir a qualquer momento com as drogas fáceis à mão de qualquer um que
não tem um projeto de vida, não tem educação de qualidade, não tem lazer, não
tem cultura.
Em Manaus tudo é possível acontecer. É
uma esculhambação latente mas acabei de ouvir num programa de televisão que “é
a cidade mais linda” dito por uma candidata à prefeitura. Ouvindo assim as
propostas e as falas, esses candidatos sabem dos problemas enfrentados mas
jamais se propõem a resolvê-los. E isso não é de hoje. E a população que
acredita piamente quando eles na calada da noite resolvem fazer os conchavos e
os alinhavos, cai no conto do abraço e da festinha. E tudo continua como dantes
na terra de Ajuricaba.
O calor que embaça nossas mentes e
corações nos deixa meio apáticos quanto à política. Quase dois milhões de
pessoas na capital vivem sem uma boa estrutura de serviços. Podemos citar o
lixo (uma parceria entre governo e população), o abandono de nosso patrimônio
histórico, o descaso com o meio ambiente, não temos nem um mercado
onde possamos reunir os nossos produtos regionais que são abundantes, não temos
eficiência na saúde, na educação, na pesquisa científica, na
prevenção das drogas, no transporte coletivo. Não temos uma infra estrutura que
facilite a vida dos valentes produtores trazendo com rapidez para a cidade o
que é plantado e pescado na área rural. O resultado é que até o cheiro verde
vem de fora. No interior a fruta ou estraga no pé ou chega a preço de ouro nas
feirinhas que nada tem a oferecer. Preço alto e falta de higiene é o que
merecemos pois isso não é assunto para o administrador da cidade. O mercadão
continua lá, esperando, esperando, esperando...ah, lembrei...as pedras de Liós.
Os portugueses que trouxeram para cá essas belas pedras e que têm mais
histórias do que nós, continuam até hoje com suas calçadas de pedra, tão limpas
que parecem enceradas. E o brasileiro continua fazendo piada de português,
esquecendo que eles estão bem nós é que precisamos avançar.
Preciso falar de algo que está me
incomodando muito. Como posso acreditar num governante que deixa abandonado um
hospital onde nasceu a maioria dos manauenses, dos mais ricos aos mais pobres.
Trata-se da Santa Casa de Misericórdia, um lugar que faz parte de nossa
história cujo prédio está, literalmente, às moscas. Com o descaso das
autoridades logo apareceu o verdadeiro dono que instalou por lá um pequeno
negócio no setor de alimentos saudáveis. Não me admiro com o invasor, fico
assustada é com a clientela que come, no centro, com o maior prazer do mundo
esses salgadinhos empanados na poeira do antigo necrotério. Também já não é de
assustar pois já vimos empadinhas recheadas com picadinho de gente, churrasquinho
de gato e outras barbaridades desse tipo país afora.
Estamos nas mãos da má política. Até
quando entendermos que “eles” vêm de nós. Profundo isso. Ao votarmos levados
por impulsos do troca-troca estamos contribuindo para o declínio de toda a comunidade
e apimentando a festinha dos corruptos.
(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.
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