BARRADA
NA BIBLIOTECA
Queria pegar o livro, queria sentir o
livro, queria apenas ler o livro e tirar as minhas dúvidas. Será que isso é a
modernidade? Será que é moderno complicar a entrada a uma biblioteca, complicar
o acesso ao conhecimento?
Ellza Souza
(*)
Depois de anos esperando a reabertura da
Biblioteca Pública, hoje (terça-feira) fui fazer uma consulta aos jornais
antigos do seu acervo. Me aproximei do balcão para falar com a recepcionista
que pediu identidade e CPF. Apresentei a ela os documentos. A jovem funcionária
passa a preencher meus dados no computador. Endereço, telefone, tudo. Eu só
queria entrar na biblioteca e ponto final, como antigamente, poder me debruçar
no material, manuseá-los, sem a interferência de uma tela de computador. Queria
pegar o livro, queria sentir o livro, queria apenas ler o livro e tirar as
minhas dúvidas. Será que isso é a modernidade? Será que é moderno complicar a
entrada a uma biblioteca, complicar o acesso ao conhecimento?
Quando pensei estar tudo resolvido, a
jovem informou que tinha que deixar meus pertences num daqueles feios armários
onde ficariam devidamente trancados, protegidos. Argumentei: “E meu caderno,
caneta, celular”? “Leve na mão mas deixe a bolsa no armário”. Aí
também já foi demais. Desconfiar do leitor de cara. Depois da complicação para
fazer a minha pesquisa ainda ter que deixar a minha bolsa (e eu estava com duas
sacolas) numa clara desconfiança de que poderia sair com elas cheias das
preciosas obras que sabemos que existem mas não podemos vê-las facilmente.
Desisti da consulta e da pesquisa.
Sempre achei que o acesso aos livros e a cultura deveria ser facilitado ao
público. Catraca, armário pra bolsa...aí também não.
Pelo menos a entrada da nossa bela
biblioteca está mais feia pois somos recebidos com normas, entraves,
burocracia, desconfiança. O povo já não lê, assim todos vão correr para a
ignorância, para o computador, para o mais fácil.
(*) É escritora, jornalista e
articulista do NCPAM/UFAM.
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