sábado, 6 de abril de 2013


BARRADA NA BIBLIOTECA

Queria pegar o livro, queria sentir o livro, queria apenas ler o livro e tirar as minhas dúvidas. Será que isso é a modernidade? Será que é moderno complicar a entrada a uma biblioteca, complicar o acesso ao conhecimento?

Ellza Souza (*)

Depois de anos esperando a reabertura da Biblioteca Pública, hoje (terça-feira) fui fazer uma consulta aos jornais antigos do seu acervo. Me aproximei do balcão para falar com a recepcionista que pediu identidade e CPF. Apresentei a ela os documentos. A jovem funcionária passa a preencher meus dados no computador. Endereço, telefone, tudo. Eu só queria entrar na biblioteca e ponto final, como antigamente, poder me debruçar no material, manuseá-los, sem a interferência de uma tela de computador. Queria pegar o livro, queria sentir o livro, queria apenas ler o livro e tirar as minhas dúvidas. Será que isso é a modernidade? Será que é moderno complicar a entrada a uma biblioteca, complicar o acesso ao conhecimento?

Quando pensei estar tudo resolvido, a jovem informou que tinha que deixar meus pertences num daqueles feios armários onde ficariam devidamente trancados, protegidos. Argumentei: “E meu caderno, caneta, celular”?  “Leve na mão mas deixe a bolsa no armário”. Aí também já foi demais. Desconfiar do leitor de cara. Depois da complicação para fazer a minha pesquisa ainda ter que deixar a minha bolsa (e eu estava com duas sacolas) numa clara desconfiança de que poderia sair com elas cheias das preciosas obras que sabemos que existem mas não podemos vê-las facilmente.

Desisti da consulta e da pesquisa. Sempre achei que o acesso aos livros e a cultura deveria ser facilitado ao público. Catraca, armário pra bolsa...aí também não.

Pelo menos a entrada da nossa bela biblioteca está mais feia pois somos recebidos com normas, entraves, burocracia, desconfiança. O povo já não lê, assim todos vão correr para a ignorância, para o computador, para o mais fácil.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.

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