MARUBO, MAYURUNA, MATIS, KANAMARI, KULINA GRITAM CONTRA A
VIOLAÇÃO DOS SEUS DIREITOS CONSTITUCIONAIS
A Coordenação Geral da União dos Povos Indígenas do Vale do
Javari – UNIVAJA, organização indígena representativa dos povos Marubo,
Mayuruna, Matis, Kanamari e Kulina, vem a público por meio do Informativo
(008/2013) externar o apoio às mobilizações relacionadas à Programação do Abril
indígena/2013 que vem ocorrendo na capital do País. Consideramos as
mobilizações realizadas no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto a
expressão de todos os povos indígenas do Brasil, que vêm sendo rechaçados continuamente
em suas lutas pela sobrevivência, pelo reconhecimento, pela oportunidade de
discutirem e serem ouvidos nos temas que lhes dizem respeito, pela opção de
viverem no interior de suas terras conforme seus usos e costumes e, sobretudo,
de fazerem com que seus direitos constitucionais sejam respeitados.
É
evidente que nos últimos anos, e mais precisamente no Governo da Presidente
Dilma Rousseff, os povos indígenas têm presenciado um retrocesso de suas
conquistas de décadas, que consolidaram os artigos 231 e 232 na Constituição
Federal do Brasil. Há uma mobilização, tanto dos setores econômicos e políticos
quanto do próprio Executivo Federal, com o objetivo de aniquilar esses direitos
no mais completo desrespeito a carta magna do país, em nome de um
desenvolvimento econômico condicionado à exclusão das minorias, à destruição do
meio ambiente, à imposição de suas vontades por meio militarista e à eliminação
da plurietnicidade. O País vive um período pelo qual seu Congresso é dominado por
ruralistas e evangélicos e que juntos têm direcionado seus interesses escusos e
opressores sobre uma pequena parte da sociedade brasileira. Hoje não somos nem
1 milhão de índios no Brasil, quando estudos citam que já fomos quase 6
milhões. Fazemos parte deste País, portanto, integrantes legítimos dessa mesma
sociedade. O que queremos é simplesmente viver harmoniosamente num país que se
diz pluriétnico, que se diz almejar ser uma potência mundial, que se diz se
indignar com as atrocidades cometidas por déspotas mundo a fora, que se diz ser
um dos respeitadores dos direitos humanos e protetor de suas florestas.
A atual
política de governo nos lembra as atrocidades do período da ditadura militar,
que para implementar seus projetos megalomaníacos como a transamazônica tiveram
de exterminar índios usando a estrutura das forças armadas contra as minorias,
como foi o caso do genocídio cometidos pelo Exército Brasileiro contra o povo
Waimiri-Atroari. E, coincidentemente, nos deparamos com a regulamentação e o
uso, mais uma vez, da Força Nacional contra os povos indígenas, tendo como caso
mais evidente dessa postura a Operação Militar na região povo Munduruku no rio
Tapajós. Há o silêncio do Executivo Federal e a clara conivência na criação de
novos mecanismos legais, que a cada dia são pensados e arquitetados nos
bastidores do atual Governo e do Congresso Nacional, como: a Portaria 303 da
AGU, PEC 215, PEC 2037, Decreto 7.957 e a Portaria Interministerial 419/11.
O que mais nos surpreende é que se trata de um
Governo legitimamente eleito pela grande parte dessas minorias, com um apoio
maciço dos povos indígenas, e proveniente de um partido que na década de 80
tinha como bandeira as causas sociais. A própria Presidente do nosso país já
sentiu na pele o poder repressor a todo custo, e hoje usa os mesmos métodos
contra aqueles que querem ver seus direitos cumpridos.
O
sucateamento intencional e sistemático da FUNAI, e o seu enfraquecimento como
instituição, demonstra o desprestígio desse órgão por parte do atual governo,
bem como a ausência de uma política indigenista de Estado que garanta a
proteção dos diretos indígenas no país. Das 3.000 mil vagas disponibilizadas
pelo Governo Federal para compor o quadro de pessoal dessa instituição, pouco
mais de 600 foram ocupadas, sendo que nos próximos anos a grande parte do seu
quadro de funcionários devem se aposentar o que indica a clara intensão de extingui-lo.
Dessa forma o Governo Federal não garante o cumprimento das leis indigenistas e
a tendência é que estes fiquem a mercê de prefeitos e governadores
antiindígenas, que preferem fazer suas próprias leis, geralmente como as que
vêm sendo aplicadas em regiões como o sul da Bahia e o Mato Grosso do Sul, onde
jagunços a mando de políticos e oligarcas caçam índios e usurpam as terras
tradicionais desses.
A
Política de Saúde Indígena continua sendo tratada de forma displicente e
ineficaz, mesmo depois da criação da SESAI, que ainda não conseguiu deslanchar,
apesar dos vultosos investimentos oficializados pelo Governo Federal. A
autonomia do DSEIS continua sendo uma utopia, o que contribui com os atuais
protestos Brasil a fora sobre uma atuação medíocre.
A
Educação Indígena é uma Política de Governo relegada ao esquecimento, o que
torna ainda mais os povos indígenas excluídos da opção de poderem se capacitar
frente às exigências do mundo moderno. As escolas indígenas continuam sendo
“miragens” nas aldeias, contribuindo para o aumento do êxodo de centenas de
jovens para as cidades; gerando assim, problemas sociais nos municípios vizinho
às Terras Indígenas. É o nosso grito nesse dia...
Nenhum comentário:
Postar um comentário