O LEVANTE PELA EDUCAÇÃO
Deve-se
investir na construção de uma gestão coletiva, donde se conclui que a concepção
política dos gestores influencia diretamente na direção político-pedagógico dos
estabelecimentos de ensino, da cultura e das agências de pesquisa.
Ademir Ramos (*)
Os políticos populistas tratam a
educação no cabresto, impedindo e controlando o seu desenvolvimento, temendo
que as práticas pedagógicas promovam academicamente o levante das consciências contra
o mandonismo, a corrupção e os demais vícios que violam os direitos fundamentais
de nossa gente. O populismo tradicional desqualifica qualquer manifestação de
classe, reduzindo as lutas sociais dos trabalhadores (as), em favorecimento
pessoal e patrimonial, afirmando cada vez mais a subalternidade das lideranças
sociais frente ao carisma desses parlamentares e governantes que se alimentam
da desigualdade social e do desmantelamento da sociedade civil. No passado,
recorriam às escolas como curral eleitoral. Hoje, de forma mais sofisticada,
apelam aos meios de comunicação de massa para vender suas imagens como
salvadores e benfeitores da humanidade com máscara de honestos e responsáveis,
colocando-se acima do bem e do mal.
O
populismo ganha formas diferenciadas na America Latina, mas não resiste às
criticas e muito menos ao embate dos movimentos sociais. No entanto, em
contrapartida, além da massificação promovida pelos meios de comunicação, os
políticos e governantes populistas resolveram investir na Escola Pública, não
como instrumento de formação da cidadania, mas, como agência assistencialista com
programas sociais dos mais variados, visando mediar às necessidades básicas das
famílias integradas no sistema de ensino. O fato é que a desigualdade social
bate a porta das Escolas Públicas e a alimentação escolar que era meio transforma-se
em fim último, bandeira política exaltada nos meios de comunicação como
redenção da Escola. Tudo porque os alunos passaram a receber quatro refeições por
turno.
Em
cumprimento a estas práticas populistas pós-modernas, os trabalhadores da
educação responsáveis devem resistir a mais esta manipulação eleitoreira,
realinhando a Escola para o cumprimento de seus objetivos centrado no
desenvolvimento das capacidades e habilidades decorrentes das novas práticas
pedagógicas imbricados no processo de ensino-aprendizagem assentado na
organização da Escola como Unidade Participativa em respeito às decisões dos
seus colegiados – Pais e mestres, Congregação dos professores, Grêmio
estudantil representado no Conselho Escolar em formato de Fórum -, espaço
dialógico e fomentador de uma escola contextualizada comprometida com uma
educação libertadora, sem amarras para criar, inovar, convertendo a criança, a
juventude, homens e mulheres em protagonistas de sua história encorajados a
fazer uso do conhecimento, da cultura e da ciência como instrumento afirmativo
da soberana popular, pressuposto necessário para cultura da Democracia
Participativa. Por esta razão deve-se investir na construção de uma gestão
coletiva, donde se conclui que a concepção política dos gestores influencia
diretamente na direção político-pedagógico dos estabelecimentos de ensino, da
cultura e das agências de pesquisa.
CONAE
AMAZONAS
O
Amazonas, assim como em todo Brasil, vive-se momento propício, politicamente
favorável à educação, discutindo os temas geradores em preparação a II CONAE
2014 – Conferência Nacional de Educação – a realizar-se em Brasília de 17 a 21
de fevereiro, no próximo ano. Em Itacoatiara, na microrregião do Médio Amazonas,
o Fórum Municipal de Educação com a participação da sociedade civil realizou no
dia 9 e 10 de maio, a sua III Conferência Municipal de Educação e a sua I Conferência
Intermunicipal contando com a participação dos municípios do em torno. No dia
16 e 17 de maio foi a vez de Tabatinga e Tefé na Região do Solimões realizarem
suas Conferências Municipais discutindo o Documento Referência – O PNE NA
ARTICULAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO: Participação popular, Cooperação
Federativa e Regime de Colaboração – calçado nos seguintes eixos: (1) O plano
nacional de educação e o sistema nacional de educação: organização e regulação;
(2) Educação e diversidade: justiça social, inclusão e direitos humanos; (3)
Educação, trabalho e desenvolvimento sustentável: cultura, ciência, tecnologia,
saúde, meio ambiente; (4) Qualidade da educação: democratização do acesso,
permanência, avaliação, condições de participação e aprendizagem; (5) Gestão
democrática, participação popular e controle social; (6) Valorização dos
profissionais da educação: formação, remuneração, carreira e condições de
trabalho e (7) Financiamento da educação, gestão financeira, transparência e
controle social dos recursos.
Em
todas estas Conferências Educacionais estivemos presentes acompanhando a
Presidência da Comissão de Educação, Cultura e Assuntos Indígenas da Assembleia
Legislativa do Estado, tendo a frente o Deputado Sidney Leite. Na oportunidade,
podemos conferir o esforço dos presentes em discutir a matéria e formular
propostas objetivas e operacionais relativa aos eixos geradores superando a
formatação imposta pelo Documento Referência nos modos de “proposições
estratégicas”, identificando-se muito mais com objetivos e princípios do que
com propostas e ações para consecução de políticas educacionais.
Na
próxima semana, o Município de Manaus também vai realizar sua Conferência nos
dia 20 a 22 de maio, no Dulcila da Ponta Negra, para analisar e discutir os
eixos temáticos, discutir e aprovar as propostas e escolher também seus
delegados, suplentes e observadores. O fato é que se compararmos com a CONAE
2010, que contou apenas com apoio de 17 municípios, a CONAE 2014 é um grande
sucesso, pois conta com a participação de 52, dos 62 municípios do Estado,
comprometido com a realização das Conferencias Municipais e Intermunicipais
mobilizando dessa feita suas forças para participarem desse processo de ampla
discussão em defesa da Escola Pública com padrão de qualidade.
O
resultado de todo esses debates, seguido de propostas, será apresentado na
Conferência Estadual, a ser feita no final de agosto, em Manaus, quando serão
escolhidos os delegados, suplente e observador para a Nacional, em Brasília,
bem como também, a estruturação dos Fóruns Permanentes Municipais e Estadual
para dar continuidade a efetividade das propostas e metas a serem contempladas
no novo Plano Estadual e/ou Municipal de Educação.
UEA FAZ
ESTATUINTE
No
contexto dessas discussões acompanhamos também um amplo debate no âmbito da
Universidade Estadual do Amazonas (UEA), devendo fazer parte também das
Conferências Educacionais como tema transversal, que diz respeito à construção
coletiva da Estatuinte. As discussões intensificam-se no Núcleos e Centros da
UEA em todo o Estado, visando repensar a Universidade quanto à sua natureza e
finalidades, como também suas estruturas administrativas e pedagógicas focados
nas vocações regionais assentados no Ensino, Pesquisa e Extensão. Por onde
passamos, estudantes e professores questionavam a construção da Cidade
Universitária em relação a UEA como indutora do desenvolvimento regional. O
fato é que se deve intensificar as discussões e formular propostas que venham
fortalecer a estrutura colegiada da UEA fincada na autonomia, na gestão democrática
com a participação dos alunos, professores e servidores numa perspectiva
inovadora, criativa e responsável. E assim, possivelmente, antes de 19, 20 e 21
de agosto, quando se fará a Assembleia da Estatuinte, no Auditório Belarmino
Lins, na Assembleia Legislativa do Estado, deverá se fazer uma ampla
mobilização para a realização de uma Audiência Pública no seio da Comissão de
Educação da Assembleia Legislativa do Estado dando visibilidades às temáticas
em questão sob o foco de uma política de Estado, em cumprimento ao Plano
Diretor da Universidade para os próximos 10 anos sob o controle parlamentar e
dos colegiados representativos da Instituição de Ensino Superior do Estado.
Esta discussão deve se espraiar por todo os segmentos e setores educacionais do
Estado e por toda a Sociedade amazonense, informando e consultando os interessados
quanto à elaboração, as propostas e encaminhamentos referentes ao Estatuto da Universidade porque a UEA é também nosso patrimônio.
(*)
É professor, antropólogo e coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.
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