VIDA
MANSA NÃO TEM PREÇO
Ellza
Souza (*)
Aprendi
com a vida que a pressa é inimiga da perfeição. Nem uso mais relógio, mas devo
dizer que sou pontual em meus compromissos. Em face desse aprendizado tinha um
sonho bem simples que era andar de bonde.
Achava um transporte tão singelo e
amigável. Tão limpo, claro e sem pressa nenhuma para chegar ao seu destino.
Consegui realizar esse sonho em Lisboa onde cabem todos os tipos de transporte:
metrô, ônibus, trem, carros e o bonde que pode até ser chamado de desejo, do
meu desejo.
Olhar
e andar nesse tipo de veículo me dá uma sensação de felicidade. E subir
lentamente uma das colinas da capital portuguesa, Alfama, é indescritível pelas
torres brancas das igrejas, pelos becos e ruas muito limpos, pelas calçadas
largas e até parecem enceradas. Pelo rio Tejo que me pareceu profundamente
verde. Pelas cerâmicas artisticamente desenhadas no chão e nas paredes. Da
charmosa janela do bonde a gente vê muita coisa. Vê o movimento de pessoas
diferentes nas ruas, nas lojas, nos mirantes, nas tabernas apertadas grudadas umas
nas outras com o típico português no balcão vendendo seu queijo, seu presunto,
seu azeite de oliva, vendendo de um tudo no seu pequeno comércio. Se for uma
padaria então é a melhor das visões. Não comi bacalhau, fiz grande desfeita aos
portugueses mas comi todos os pães cascudos que foi possível comer. E os doces
também. Vê as varandas floridas, os varais coloridos, os belos lampiõezinhos,
os paralelepípedos intactos dando trabalho nas ladeiras aos saltos das
mulheres. Mesmo assim é único, é lindo, é maravilhoso observar tudo isso de um
bonde.
Ele
dá prego sim mas facilmente é colocado nos trilhos geralmente pela própria
motorneira e continua seu rumo. Como diz um velho ditado português “Se tens
pressa, vai andando”. De bonde ou andando, circular por uma cidade como Lisboa
é tão delicioso como comer um pastel folhado recheado de creme de ovos, acho.
(*)
É escritora,
jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.
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