domingo, 19 de maio de 2013


VIDA MANSA NÃO TEM PREÇO

Ellza Souza (*)

Aprendi com a vida que a pressa é inimiga da perfeição. Nem uso mais relógio, mas devo dizer que sou pontual em meus compromissos. Em face desse aprendizado tinha um sonho bem simples que era andar de bonde. 

Achava um transporte tão singelo e amigável. Tão limpo, claro e sem pressa nenhuma para chegar ao seu destino. Consegui realizar esse sonho em Lisboa onde cabem todos os tipos de transporte: metrô, ônibus, trem, carros e o bonde que pode até ser chamado de desejo, do meu desejo.

Olhar e andar nesse tipo de veículo me dá uma sensação de felicidade. E subir lentamente uma das colinas da capital portuguesa, Alfama, é indescritível pelas torres brancas das igrejas, pelos becos e ruas muito limpos, pelas calçadas largas e até parecem enceradas. Pelo rio Tejo que me pareceu profundamente verde. Pelas cerâmicas artisticamente desenhadas no chão e nas paredes. Da charmosa janela do bonde a gente vê muita coisa. Vê o movimento de pessoas diferentes nas ruas, nas lojas, nos mirantes, nas tabernas apertadas grudadas umas nas outras com o típico português no balcão vendendo seu queijo, seu presunto, seu azeite de oliva, vendendo de um tudo no seu pequeno comércio. Se for uma padaria então é a melhor das visões. Não comi bacalhau, fiz grande desfeita aos portugueses mas comi todos os pães cascudos que foi possível comer. E os doces também. Vê as varandas floridas, os varais coloridos, os belos lampiõezinhos, os paralelepípedos intactos dando trabalho nas ladeiras aos saltos das mulheres. Mesmo assim é único, é lindo, é maravilhoso observar tudo isso de um bonde.

Ele dá prego sim mas facilmente é colocado nos trilhos geralmente pela própria motorneira e continua seu rumo. Como diz um velho ditado português “Se tens pressa, vai andando”. De bonde ou andando, circular por uma cidade como Lisboa é tão delicioso como comer um pastel folhado recheado de creme de ovos, acho.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM. 

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