domingo, 6 de março de 2011

FALTA PURPURINA NO CARNAVAL

Ellza Souza (*)

Em Manaus, quando o bloco da banda do Galo passou, fui atrás. O carnaval é uma festa que aprecio principalmente o de rua e dos clubes. Botei a fantasia de brincante solitária e fui embora. Desci a avenida Darcy Vargas seguindo o trio elétrico. Muita gente com cerveja na mão. Não é uma festa para as crianças mas tinha algumas crianças com os pais. Os homens são um capítulo à parte nessa grandiosa festa. Eles saem de casa preparados para soltar a franga. E nesses blocos tudo pode. Fui até a Pedro Teixeira onde o carro da música estava parado. Vi de tudo. Muita sujeira pra todo lado. O gari pacientemente tentava juntar alguma coisa no meio fio. Os rapazes pegavam as moças com muita empolgação. Tudo família. Tudo na paz e amor.

Os caras com o bucho cheio de cerveja se postam na frente de todo mundo e tiram a água do joelho ou sei lá de onde na mata daquela área que tenta sobreviver aos maus tratos. Agora tá difícil escapar com a jorrada de liquido decantada e fedorenta que os animados foliões derramam sobre ela. Não ouvi as marchinhas que levantam até a pipa do vovô e estão sempre na moda. Não sei de onde sai tanta mulher feia e bombadinhos ou seja aqueles com as mamas acentuadas a custa de armadilhas.

O engraçado é que querem ter corpo de homem mas no carnaval soltam todos os desejos mais íntimos e profundos. Vestem-se de mulher para fazer graça (acho engraçado) mas sob o efeito do álcool deixam fluir o seu lado feminino e a agarração é macho com macho. E as mulheres ficam a ver o trio passar. Mas mulher também não é confete não. Estão se igualando aos espadas e procuram na bebida um meio de perder a timidez. Ao vivo e em público. Entre o exagero e a empolgação tá valendo o bom senso.

Carnaval é alegria, é batalha de confete e serpentina que aliás não existem mais. É, sob máscaras e fantasias, descortinar suas emoções, é soltar o bicho homem que tem dentro de cada um. E pular muito, muito, de cara limpa, vendo e sentindo todo o envolvimento que a festa proporciona. Desse jeito o folião vai ser mais feliz e a mata mais viçosa. Não vai ter tanto lixo na rua e as frangas se restringirão aos galinheiros. Quem pensa que cachaça é água está completamente enganado. Cachaça não é água não e as plantas que o digam.

Mas na festa do rei momo "foreiver de bêbado" não tem dono. Então juízo sempre é bom e todos gostam. Carnaval também pode representar tristeza. Pelo excesso, pelo álcool, pela falta de purpurina no coração. O poeta e compositor do carnaval Aldisio Filgueiras, que nos dá tanta alegria foi alcançado pela violência e barbárie sem freios que a Manaus, tão moderna e ovacionada por políticos que muito falam mas nada fazem de concreto. Estamos a mercê dos bandidos e do desprezo das autoridades. Ao poeta a nossa solidariedade.

(*) É jornalista, escritora e colaboradora do NCPAM/UFAM.