Eduardo Hoornaert (*)
A igreja católica hoje tem necessidade urgente de ‘protestantes’, ou seja, de pessoas que - na linha de personalidades dos séculos XV-XVI como Hus, Wycliff, Lutero, Zwingli, Calvino, Karlstadt, Münzer, Erasmo e Morus - protestam contra a condução da igreja católica pelos seus mais altos representantes em Roma. Está na hora de se resgatar o genuíno espírito protestante, exemplarmente representado por Martinho Lutero. Teço aqui algumas considerações em torno de seu trabalho de reforma da igreja católica em seu tempo.
1. De início, Lutero pensava em aproveitar de uma viagem a Roma para alertar o papa diante dos abusos cometidos por pregadores de indulgências. Portanto, sua primeira intenção não era formar uma igreja separada de Roma, mas reformar a igreja existente. Mas ele se decepcionou. Os burocratas do Vaticano não queriam ouvir falar de eliminar ou mesmo diminuir os lucros provenientes da venda de indulgências. Lutero resolveu então passar por cima de Roma e ir direto ao cristianismo bíblico.
2. Ele se mete imediatamente a trabalhar. Ao longo de 14 anos empreende a tarefa gigantesca de traduzir a bíblia em língua alemã. Refugiado no castelo de um príncipe amigo, ele manda de vez em quando alguém à cidade a fim de anotar, na feira, palavras utilizadas por vendedores de produtos agrícolas e que, em sua opinião, são adequadas a traduzir em alemão as palavras que ele encontra em hebraico, grego ou latim nos textos bíblicos. Pois Deus tem de falar a língua do povo. A paixão de Lutero pela tradução da bíblia em língua alemã faz dele um dos principais formadores dessa língua, tal qual ainda é falada hoje. Esse árduo trabalho intelectual é a melhor resposta de Lutero aos que dizem que ele é sonhador, idealista, e que seu projeto não tem futuro. É como se ele argumentasse: ‘Eu não sonho, trabalho. Faço o que posso para mudar as coisas, por mínima que seja minha contribuição’. Eis o que ele entende por ‘viver da fé’ (o justo vive da fé). Como Abraão, o primeiro homem (pelo menos na tradição bíblica) a viver da fé, Lutero vive da convicção de que as coisas podem mudar.
3. O filósofo Ernst Bloch escreveu um livro (‘Thomas Münzer, um teólogo da revolução’, 1921) em que ele critica Lutero por não ter participado da guerra dos camponeses. Em sua opinião, foi uma lamentável omissão. Mas há uma frente de combate em que Lutero se meteu e que talvez escape à atenção do filósofo materialista: o combate em terreno religioso. Lutero combate de forma destemida uma opressão menos patente que a opressão econômica, mas que penetra mais fundo na alma humana, perpetuando-se por sucessivas gerações. É o combate contra o que o historiador Jean Delumeau chama de ‘pastoral do medo’. O clero introduz na alma do povo o medo do diabo, do inferno, da condenação eterna, do pecado, e assim conquista respeito e autoridade. Fortalecido pela leitura do evangelho, Lutero levanta-se contra essa prática perversa em seu texto ‘Do cativeiro babilônico da igreja’ (publicado no Brasil pela editora sinodal, São Leopoldo, 1982). No entender das pessoas comuns, a vida cristã consiste em assistir à missa e às novenas, rezar muito, mandar celebrar missas pelos defuntos, participar de romarias, tudo isso para salvar sua alma e as almas de entes queridos. Lutero escreve: são exatamente essas práticas, criadas e encorajadas pela igreja, que mantêm o povo num cativeiro ‘babilônico’, do qual Jesus vem nos libertar. O mesmo raciocínio está na base do opúsculo ‘Da liberdade do homem cristão’ (igualmente publicado pela editora sinodal de São Leopoldo). O homem cristão liberta-se de cultos e práticas devocionais que não levam a nada e passa corajosamente a ‘viver da fé’, ou seja, a fazer algo em benefício dos outros, aqui e agora.
4. Eis o espírito de Lutero. O que importa hoje é captá-lo e traduzi-lo em práticas adaptadas ao nosso tempo, sejam elas de cunho religioso ou não. Lutero pertence à humanidade, não pode ser privatizado por alguma igreja ou confissão religiosa. Sempre existe uma diferença entre a inspiração de um inovador e o modo como seus seguidores ou admiradores conseguem captar e viver sua mensagem. Há diferença entre Lutero e luteranismo assim como há diferença entre Calvino e calvinismo, Agostinho e agostianismo, Marx e marxismo e, principalmente, entre Cristo e cristianismo. A constatação já foi feita por Marcião, um mestre cristão particularmente lúcido do século II, que dizia que nem todos os apóstolos conseguiram captar o espírito de Jesus. Não basta conviver com alguém para captar sua inspiração profunda. É possível que pessoas fisicamente distantes de alguém particularmente iluminado captem melhor seu espírito que os que convivem com ele. É o que aconteceu com os familiares de Jesus e os vizinhos da aldeia de Nazaré: não captaram seu espírito, como testemunha o evangelho de Marcos.
5. A cena do século XVI repete-se atualmente em Roma. Os(as) que trabalham pela reforma da igreja católica são considerados(as) ‘personae non gratae’. Reina um espírito de prepotência, fechamento e mesmo cinismo, como afirmou recentemente o escritor Saramago. Todos e todas que ousam apresentar uma sugestão que não é do agrado das autoridades do Vaticano sentem isso na pele. Como nos tempos de Lutero, necessitamos atualmente de uma reforma protestante a sacudir a igreja católica pela força do espírito evangélico. Temos de protestar, fazer ouvir nossa discordância dos desmandos praticados pelo papa e pelas autoridades do Vaticano.
A igreja católica hoje tem necessidade urgente de ‘protestantes’, ou seja, de pessoas que - na linha de personalidades dos séculos XV-XVI como Hus, Wycliff, Lutero, Zwingli, Calvino, Karlstadt, Münzer, Erasmo e Morus - protestam contra a condução da igreja católica pelos seus mais altos representantes em Roma. Está na hora de se resgatar o genuíno espírito protestante, exemplarmente representado por Martinho Lutero. Teço aqui algumas considerações em torno de seu trabalho de reforma da igreja católica em seu tempo.
1. De início, Lutero pensava em aproveitar de uma viagem a Roma para alertar o papa diante dos abusos cometidos por pregadores de indulgências. Portanto, sua primeira intenção não era formar uma igreja separada de Roma, mas reformar a igreja existente. Mas ele se decepcionou. Os burocratas do Vaticano não queriam ouvir falar de eliminar ou mesmo diminuir os lucros provenientes da venda de indulgências. Lutero resolveu então passar por cima de Roma e ir direto ao cristianismo bíblico.
2. Ele se mete imediatamente a trabalhar. Ao longo de 14 anos empreende a tarefa gigantesca de traduzir a bíblia em língua alemã. Refugiado no castelo de um príncipe amigo, ele manda de vez em quando alguém à cidade a fim de anotar, na feira, palavras utilizadas por vendedores de produtos agrícolas e que, em sua opinião, são adequadas a traduzir em alemão as palavras que ele encontra em hebraico, grego ou latim nos textos bíblicos. Pois Deus tem de falar a língua do povo. A paixão de Lutero pela tradução da bíblia em língua alemã faz dele um dos principais formadores dessa língua, tal qual ainda é falada hoje. Esse árduo trabalho intelectual é a melhor resposta de Lutero aos que dizem que ele é sonhador, idealista, e que seu projeto não tem futuro. É como se ele argumentasse: ‘Eu não sonho, trabalho. Faço o que posso para mudar as coisas, por mínima que seja minha contribuição’. Eis o que ele entende por ‘viver da fé’ (o justo vive da fé). Como Abraão, o primeiro homem (pelo menos na tradição bíblica) a viver da fé, Lutero vive da convicção de que as coisas podem mudar.
3. O filósofo Ernst Bloch escreveu um livro (‘Thomas Münzer, um teólogo da revolução’, 1921) em que ele critica Lutero por não ter participado da guerra dos camponeses. Em sua opinião, foi uma lamentável omissão. Mas há uma frente de combate em que Lutero se meteu e que talvez escape à atenção do filósofo materialista: o combate em terreno religioso. Lutero combate de forma destemida uma opressão menos patente que a opressão econômica, mas que penetra mais fundo na alma humana, perpetuando-se por sucessivas gerações. É o combate contra o que o historiador Jean Delumeau chama de ‘pastoral do medo’. O clero introduz na alma do povo o medo do diabo, do inferno, da condenação eterna, do pecado, e assim conquista respeito e autoridade. Fortalecido pela leitura do evangelho, Lutero levanta-se contra essa prática perversa em seu texto ‘Do cativeiro babilônico da igreja’ (publicado no Brasil pela editora sinodal, São Leopoldo, 1982). No entender das pessoas comuns, a vida cristã consiste em assistir à missa e às novenas, rezar muito, mandar celebrar missas pelos defuntos, participar de romarias, tudo isso para salvar sua alma e as almas de entes queridos. Lutero escreve: são exatamente essas práticas, criadas e encorajadas pela igreja, que mantêm o povo num cativeiro ‘babilônico’, do qual Jesus vem nos libertar. O mesmo raciocínio está na base do opúsculo ‘Da liberdade do homem cristão’ (igualmente publicado pela editora sinodal de São Leopoldo). O homem cristão liberta-se de cultos e práticas devocionais que não levam a nada e passa corajosamente a ‘viver da fé’, ou seja, a fazer algo em benefício dos outros, aqui e agora.
4. Eis o espírito de Lutero. O que importa hoje é captá-lo e traduzi-lo em práticas adaptadas ao nosso tempo, sejam elas de cunho religioso ou não. Lutero pertence à humanidade, não pode ser privatizado por alguma igreja ou confissão religiosa. Sempre existe uma diferença entre a inspiração de um inovador e o modo como seus seguidores ou admiradores conseguem captar e viver sua mensagem. Há diferença entre Lutero e luteranismo assim como há diferença entre Calvino e calvinismo, Agostinho e agostianismo, Marx e marxismo e, principalmente, entre Cristo e cristianismo. A constatação já foi feita por Marcião, um mestre cristão particularmente lúcido do século II, que dizia que nem todos os apóstolos conseguiram captar o espírito de Jesus. Não basta conviver com alguém para captar sua inspiração profunda. É possível que pessoas fisicamente distantes de alguém particularmente iluminado captem melhor seu espírito que os que convivem com ele. É o que aconteceu com os familiares de Jesus e os vizinhos da aldeia de Nazaré: não captaram seu espírito, como testemunha o evangelho de Marcos.
5. A cena do século XVI repete-se atualmente em Roma. Os(as) que trabalham pela reforma da igreja católica são considerados(as) ‘personae non gratae’. Reina um espírito de prepotência, fechamento e mesmo cinismo, como afirmou recentemente o escritor Saramago. Todos e todas que ousam apresentar uma sugestão que não é do agrado das autoridades do Vaticano sentem isso na pele. Como nos tempos de Lutero, necessitamos atualmente de uma reforma protestante a sacudir a igreja católica pela força do espírito evangélico. Temos de protestar, fazer ouvir nossa discordância dos desmandos praticados pelo papa e pelas autoridades do Vaticano.
(*) É historiador e autor de diversos títulos sobre a Historia da Igreja da América Latina, um dos principais historiadores da CEHILA e um dos principais formadores da nova história, que muito contribuiu para educação escolar dos religiosos (as) no Amazonas na década de 80.
Fonte: http://eduardohoornaert.blogspot.com/
8 comentários:
A Igreja Católica, em todo o mundo, está no caminho certo. Quem estiver descontente com os seus rumos e práticas que se retire; procure outra religião ou deixe de tê-la (recomendo a segunda opção). Dogma não se discute. Não precisa de reforma protestante alguma: se catolicismo fosse protestatismo, não haveria a necessidade de existir catolicismo, bastaria o próprio protestantismo. Igreja Católica, continue assim porque eu ainda quero estar vivo para ver a sua queda.
BRENO O QUE FOI MESMO QUE VÇ QUIS DIZER COM ISSO QUE QUEDA E ESSA,O QUE MESMO VÇ ENTENDE DA PALAVRA CATOLICISMO,PROTESTANTISMO.QUERO A INTERPRETAÇAO CORETA E A LUZ DA PALAVRA.A NAO VALE INTERPRETAÇAO GRAMATICAL QUERO QUE VÇ DESCREVA OUTROS ASSUNTOS.COMO DIZIMO,INFERNO,SALVAÇAO,ENCARNAÇAO,BATISMO,IDOLATRIA,SANTIDADE E OUTROS.A SO VOU LOGO TE FALAR MINHA RELIAO SOU CRITAO PROTESTANTE SOU DEVOTO DE JESUS CRISTO E PERTENÇO AO GRUPO DOS EVANGELICOS SE VÇ QUISER POSSO ME INDENTIFICAR A VÇ PESSOALMENTE MARQUE O LUGAR A HORA OU ME DE UM NUMERO DO SEU CONTATO POIS TEREI O PRAZER DE LHE FALAR DO UNICO CAMINHO QUE LEVA A DEUS.DISSE JESUS "EU" PRONOME PESSOAL "SOU" VERBO DE LIGAÇAO "O" ARTIGO DEFINIDO CAMINHO A VERDADE E A VIDA
Meu amigo anônimo, o que você andou fumando por aí... Não deu para perceber que eu sou ateu de carteirinha. Não quero ver apenas a queda da igreja católica; se todas as religiões, inclusive a sua, fizessem o favor de cair de quatro já seria algo fabuloso para a nossa civilização. Sonhar não custa nada. Caso você queira estudar teologia, te aconselho a entrar numa faculdade - não deve ser tão cara assim. Mas se a sua curiosidade é tamanha então começe a ler Agostinho, Tomas de Aquino, kiekeggard, Frei Betto... Eles provavelmente te ajudarão no ajuste dos dilemas existenciais e religiosos. Dá teu jeito e curta seu cristianismo em paz. Eu tô fora desse jogo.
Ta brendo O que quer dizer teologia,que nao sei,Breno pra mim todo ateu e covarde sabe porque porque nao tem coragem de desafiar O MEU DEUS TODO PODEROSO cujo o nome Esta sobre todo Nome.BRENDO SO PRA TE LEMBRAR FOI ELE QUE TE DEU O FOLEGO DE VIDA. A PRA COMPLETAR TU E OUTROS QUE QUE NAO CREREM NO SEU PODER SE NAO SE AREPENDEREM DOS SEUS PECADOS VAO SER CONDENADOS PORQUE TA ESCRITO QUEM CRER E FOR BATIZADO SERA SALVO. POREM QUEM NAO CRER JA ESTA CONDENADO ESSES AI QUE VÇ MECIONOU SO SERVIRAM PRA SER CONTADORES DE ESTORIA E HISTORIAS TODOS JA FORAM PRO TUMULO E NAO VOUTARAM MAS AQUELE QUE VEIO AO MUNDO ESINAR O HOMENS A AMAREM UNS AOS OUTROS SOFREU PELO PECADO DE TODOS MOREU NA CRUZ MAS AO TERCEIRO DIA RESSUCITOU ESTA VIVO SENTADO A DIREITA DE DEUS PAI VAI VIM UM DIA COM PODER E GRANDE GLORIA INDEPENDENTE QUE VÇ CREIA OU NAO
Realmente, o maná se transformou em lixo para os subalternos convencendo os incautos a se curvarem perante o poder se quiserem ter acesso as migalhas. Tanto Lutero como o próprio Cristo não aceitariam tamanha ignorancia porque sem luz a caminhada é um precipício. Como diria o negão, então morra na ortodoxia de sua própria ignorancia, Zé beletrista.
Ze beletrista tua mae seu f... d.. p.......
A igreja não está no caminho certo, devemos convir de a idolatria é ato reprovado por Deus. Também, os maus costumes nas festas, incentivando ao: tabagismo, alcoolismo, e foguetórios (que lança imensa quantidade de toxinas no ar que respiramos, assusta os animais, afugentam os pássaros, nos proporciona desconforto auditivo e preocupação, além do desperdício de dinheiro que poderia ser aplicado inteligentemente em algo útil.
Abrçssss !
A igreja romana já iniciou errada quando interferiu na igreja primitiva. A igreja primitiva, na véspera da vinda de Cristo, já estava bem à desejar, tanto é, que, a alta cúpula da igreja não foi avisada do nascimento de Jesus e, sim, os três reis magos, pois, Deus sabia muito bem quais seriam as trágicas consequências. A partir dos anos 330 DC, o romanismo, cada vez mais veio piorando e multiplicando as barbaridades com os mais variados meios de mentiras, enganos, criminalidades, destorcendo a verdade, fora o que não chega ao nosso conhecimento mas, Deus sabe. Lá no alto não há noite, estão constantemente lá em cima nos contemplando e anotando tudo, o "caboquinho" não procede direito (kkkkkkk... depois quer que o Papai dos céus o abençõe).
É muito fácil enganar e iludir alguém mas, no dia do julgamento, iremos prestar contas dos nossos pensamentos, palavras e ações, tim-tim por tim-tim.
Abrç. !
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