quarta-feira, 19 de outubro de 2011

TEM PERIQUITO NO CONDOMÍNIO DO GOVERNADOR

Ademir Ramos (*)

O teatro na floresta de forma picante, escrachado e satírico busca se apropriar de novos eventos para traduzir numa linguagem cênica, o conjunto de sentimentos abstraídos de uma manifestação exótica bem no estilo burlesco das Comédias Dell’art pautadas pelo improviso em respeito ao paladar popular, como se faz também nos Vaudevilles (veja o cartaz). O enunciado faz-se necessário, como nota explicativa, para descrever a revoada dos periquitos que ocorre todas as tarde no condomínio do governador do Amazonas caracterizado pela tietagem do em torno como evento inusitado de uma Comédia Amazônica.

O fenômeno é original por se tratar da presença desses pássaros no contexto urbano da cidade de Manaus, no Condomínio Residencial Ephigênio Salles, morada dos metecos da política, da justiça, da zona franca de Manaus e dos periquitos do governador como povo da rua passou a chamar os verdinhos da mangueira ou das palmeiras que por lá se encontram.

A vizinhança do governador e dos moradores do Condomínio Top do V- Oito são os trabalhadores da construção civil, que tanto pela manhã como ao cair da tarde se surpreendem com a revoada dos periquitos que, segundo alguns, têm perturbado os “bacanas” pelo barulho que fazem. Alguns até chegaram a propor soltar fogos ou derrubar as árvores para se livrar da periquitagem que tem abrigo no Condomínio provocando transtorno nas madames, o que resulta no desequilíbrio familiar, segundo a psicóloga de plantão.

O fato é audível e qualquer passante por lá, não sendo surdo, irá apreciar ou não a “sinfonia dos periquitos”, que passaram alegrar o pedaço e como música para os ouvidos demarcam o ritmo dos trabalhadores e trabalhadoras que correm para entrar nos ônibus enlatados de gente em direção aos seus dormitórios, bem longe dos periquitos que fazem coro ao governador e aos seus vizinhos.

Em tempo de manga os periquitos são barulhentos, falam pelos cotovelos, contrariando os metecos que se fecha em copa, vivendo de modo indiferente à miséria social que o cerca, Mas assim como os periquitos se fazem ouvir, os excluídos vitimados pela perversa desigualdade social que impera se organizam também para ser ouvidos e reconhecidos como sujeito de Direito tanto pelo governador como pelos poderes constituídos.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.

Um comentário:

Anônimo disse...

O governador andou desabafando esses dias: "Não aguento mais". Excelentissimo governador quem não aguenta mais somos nós, o povo decente dessa terra.O senhor ainda tem periquito pra por a mão e nós que nem sabemos mais o que é isso. Só papai do céu mesmo...