domingo, 13 de março de 2011

BORRACHA TEM ALTA NO PREÇO

Chico Siqueira (*)

A alta do preço da borracha natural – pico de US$ 6,5 mil a tonelada em fevereiro – faz o látex ser chamado de "ouro branco" no interior de São Paulo. Produtores do norte e noroeste do Estado comemoram preços recordes – reajustados em até 80% – e planejam a expansão das florestas de seringueiras.Nelsina Falleiros, 76 anos, complementa renda da pensão com látex extraído das seringueiras.A região é o maior polo produtor do País e responde por 40% da produção nacional. São 40 milhões de pés de seringueiras e 3 mil produtores, em 60 municípios, que vão produzir 50 mil toneladas de borracha seca a partir do látex.

Segundo a Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha (Apabor), a safra,que termina em julho, deve movimentar na região cerca de US$ 500 milhões contra US$ 300 milhões da safra passada.

A evolução da produção do produto teve início no começo de 2010, quando o mercado se recuperou da crise de 2008, que derrubou o preço da tonelada a US$ 1 mil na bolsa e R$ 1,10 o kg para o produtor. Em fevereiro de 2010,o preço chegou R$ 2,23 o kg e em 2011, atingiu média de R$ 3,60, mas há produtores recebendo R$ 4 ou mais. Nos primeiros dias de março, muitos negócios foram fechados acima de R$ 4.

"O látex é hoje um dos produtos que tem melhor remuneração e geram maior renda na atividade agrícola", diz Marcos Santim, presidente em exercício da Apabor. "A renda melhorou não só para os produtores, mas também para os parceiros, empregados e usinas beneficiadoras", completa.

A alta dos preços no Brasil é causada pelo efeito das cotações no mercado internacional, que têm sido elevadas devido a diversos fatores, entre eles, o aumento da venda de automóveis nos principais mercados mundiais; problemas climáticos nas regiões produtores, como o La Niña, no Sudeste Asiático; elevação dos preços de petróleo, que causam aumento do preço da borracha sintética e consequentemente da natural; e por especulações quanto à oferta de borracha diante da demanda.

No Brasil, o preço da borracha é formado a partir da coleta, por um período de dois meses, das cotações na Bolsa de Cingapura, das taxas diárias de câmbio e das taxas diárias da Selic, acrescido de outros custos. O preço é válido para o bimestre seguinte.

A Produção e os benefícios

A euforia causada pelos bons preços é sentida nas colônias das fazendas e nas cidades como Bálsamo, Buritama e Monte Aprazível, que possuem extensas florestas. Na zona rural, a atividade emprega 12 mil pessoas, ou como funcionários com registro em carteira ou como parceiros que ficam com 30% ou 35% da produção. "Consegui comprar este carro que estava precisando e ainda pretendo terminar a casa que estou construindo na cidade", diz Roberto Correia, parceiro em uma floresta de 150 mil pés de seringueiras em Monte Aprazível.

Com o lucro da safra passada, Correia comprou uma picape, que usa no trabalho. Este ano, ele diz, pretende acabar a construção da casa que iniciou há quatro anos na cidade. "Falta o acabamento, que é caro, mas acho que agora vai dar", disse. A aposentada Nelsina Perassoli Falleiros, 76 anos, diz que ainda não sabe o que fará com os lucros que dos oito mil pés que possui no sítio São João, em Buritama. "Acho que vai dar para dobrar a remuneração, mas como terceirizei a produção para meu filho, eu ainda não sei ao certo o que farei com o dinheiro. Mas posso dizer que hoje o látex rende mais que a aposentadoria e a pensão que meu marido deixou", diz.
Segundo Nelsina, o látex representa quase 70% do total dos seus rendimentos. As árvores devem produzir este ano cerca de 8 kg cada uma.

O otimismo também é sentido nas 13 usinas de processamento que compram o látex dos produtores e passaram, nesta safra, a receber 62% amais pela borracha. O produto é comercializado para as grandes indústrias de pneus, como Pirelli, Michelin e Goodyear, responsáveis pelo consumo de 75% da borracha produzida na região.

Uma das maiores usinas da região, a Hevea-Tec se expandiu. "Devemos processar entre 17 e 18 mil toneladas, mas há perspectiva de aumentar ainda mais essa produção", diz Percival Costa Júnior, um dos sócios. Segundo ele, com o aumento de produção, a empresa vai colocar em funcionamento os equipamentos adquiridos na ampliação do seu parque industrial, em 2008. "Houve a crise e tivemos de frear", diz Costa Júnior.

Em 2008, a Hevea-Tec processou 16 mil toneladas. O aumento de produção se deve a 3 milhões de pés de seringueiras que a empresa passou administrar e processar a produção como terceirizada a partir desta safra. A floresta, que fica em Rondonópolis (MT), foi vendida pela Michelin a Blairo Maggi, que agora não só é o maior produtor de soja como também o maior produtor de borracha do País. Maggi terceirizou o empreendimento à Hevea Tec.

(*) É jornalista do Estadão.

Fonte:http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,preco-da-borracha-dispara-e-sp-comemora,689684,0.htm

2 comentários:

Marcelo Seráfico disse...

A matéria sobre o aquecimento do mercado da borracha provoca em qualquer amazônida - e por que não, brasileiro - indagações acerca do uso atual dos seringais nativos da região.
Quanta borracha a Amazônia produz hoje? Qual o destino dessa produção? Quantas são as pessoas envolvidas nela? Qual o regime de trabalho que a caracteriza? Que participação a região tem na oferta global? Quais são os esforços governamentais e empresariais no sentido de inrementá-la?
Respondidas, essas questões podem indicar o quanto dentro e fora da região se está sendo capaz de forjar perspectivas de desenvolvimento baseadas na mobilização de forças produtivas "nativas".
Nota-se, no próprio Amazonas, a retomada de certas "culturas tradicionais", como a da juta, por exemplo. Em que medida, porém, esse renovado interesse corresponde a uma perspectiva mais ampla com o desenvolvimento econômico e social é algo que precisa ser esclarecido.

FLAVIO CANDIDO/RS disse...

EM RESPOSTA, COMENTARIO, INFELIZMENTE OS SERINGUAIS NATIVOS DA AMAZÔNIA JA ESTÃO EXAURIDOS HA MUITO TEMPO, POR UMA SÉRIE DE FATORES, ECÔNOMICOS, EXAUSTAÇÃO,DEGRADAÇÃO DE ARÉAS,
PRAGAS E EXPLORAÇÃO IRRACIONAL E PREDATIVA DIZIMANDO OS SERINGAIS NATIVOS. ENFIM POR TODOS MOTIVOS CÍTADOS O PROPRIO GOVÊRNO DEIXOU DE INCREMENTAR OS PROGRAMAS
CHAMADO DE PROPOR, QUE FOI UM GRANDE FRACASSO E DESPERDICIO DE DINHEIRO PUBLICO. SÃO PAULO, BAHIA E MT DO SUL, COM RECURSOS PROPRIOS
DA INICIATIVA PRIVADA, ACREDITARAM E PLANTARAM SERINGAIS DE CULTIVOS, E HOJE COLHEM O OURO BRANCO EM SEUS QUINTAIS.
-DIFERENTEMENTE DOS SERINGUEIROS REMANESCENTES DA AMAZÔNIA, QUE FICARAM A MINGUA E TIVERAM QUE MUDAR DE ATIVIDADE, PARA SOBREVIVER NO AGUARDO DE UM ESFORÇO GOVERNAMENTAL DE FACHADA
PARA INCREMENTAR ESSAS CULTURAS TRADICIONAIS QUE SÓ FICOU NA PROPAGANDA , E QUE HOJE É A GRANDE REALIDADE NOS PAISES ASIATICOS.
AINDA BEM QUE SÃO PAULO, BAHIA E MT, SAIRAM NA FRENTE, PARA AJUDAR EM N/BALANÇA COMERCIAL COM MENOS 50% NAS IMPORTAÇÕES DE BORRACHA NATURAL ASIÁTICAS.VIVA A INICIATIVA PRIVADA!!