terça-feira, 29 de março de 2011

FÓRUM DA SUSTENTABILIDADE: NOVOS TEMPOS, VELHOS HÁBITOS


Ronaldo Pereira Santos (*)

Um desavisado que faça uma leitura rápida no título do Fórum Mundial da sustentabilidade(FMS) pensa logo em ONGs, movimentos sociais de esquerda, neoecologistas etc. Não se trata disso. É um evento do setor empresarial, com apoio e iniciativa do governo amazonense. Pouco se ouviu dos militantes da área. Claro, viu-se uma ou outra exceção, oriunda de algumas ONGs científicas e ponto. O Fórum, que acontece desde 2010 em Manaus, com segunda edição terminada no último dia 26 de março, já ganha em ineditismo por não ser no Sul maravilha. O segundo motivo de novidade vem logo a seguir: o Fórum tem no grosso de colaboradores (participantes e palestrantes) nomes que figuram no mundo político-corporativo das grandes cifras.

Bola dentro

A história nos mostra que dois séculos de capitalismo colocaram estas mesmas empresas na linha de frente dos problemas ambientais. Contraditório um evento com esta cara, então? Choro de arrependido ou pragmatismo de quem entende do riscado? A lógica do capital tem a resposta. Há de se adaptar às novas perguntas. Mas o evento tem méritos importantes. O Fórum saiu do tradicional quando se fala em debates do gênero. Geralmente, cientistas, técnicos e gente do ramo dominam palestras e reuniões. Ao trazer ao debate nomes que tem notoriedade, se ganha em bandeira de marketing (cinema, Política e televisão, afinal, são mais charmosos que a ciência crua e técnica em si). Enfim, o capital sabe fazer o jogo da atração. Outra conquista tem efeito prático. As grandes multinacionais – tidas como o lobo-mau da história– usam o espaço como cenário para um mea culpa (embora não haja claramente esta “confissão”). Mas não somente isso.

Outros Tempos

Mesmo (se) da boca pra fora – na sua maioria – as empresas sentem que falar em ecologia (ou o termo mais sedutor e da moda, sustentável), vão além de bom mocismo: trata-se de melhorar os resultados reais no balanço de final do ano; maquiar a imagem manchada pela história; distribuir simpatias ao outro lado; acenar com novas intenções. Mas que não nos enganemos. As corporações desfilam na discussão da sustentabilidade, mas também pensam na sustentação dos seus balancetes. Não pode ser diferente, por sinal. Empresas somente investem em ativos socioambientais se tiverem recurso extra. Este recurso vem de seus lucros; os lucros não vêm se não do pragmatismo empresarial, visão de futuro e instinto capitalista. Todavia, os tempos são outros. Os lucros oriundos de atividades moralmente questionáveis pela população podem ser um tiro no pé. Daí suas novas frentes de luta: consumo responsável, selo de sustentabilidade e investimento em projetos ecológicos agora fazem parte da agenda dos gerentes transnacionais.

Bola fora

Apesar da nova onda, há espaço para aparar algumas arestas. Em Manaus, rodinhas de pessoas antenadas levantaram algumas questões importantes. Indagou-se, por exemplo, qual a lógica de um Fórum que fala em sustentabilidade onde quem patrocina é quem polui; lembra-se que os dejetos dos três dias de evento, continuavam a ser lançados no rio Negro (quem garante que tratados?). O lugar comum de levar as estrelas às comunidades indígenas, provarem de culinária local. Podemos adicionar, ainda, outro fato. O evento foi à velha moda capitalista dos bons tempos: tudo regado ao melhor para poucos, privilegiados tratados a leite de pato, gastos estratosféricos. Pra entrar no banquete do Fórum somente pagando ou, mais bondosamente, se convidado. De fato é uma incongruência. Por outro lado, faz sentido para o mundo corporativo. Afinal, estamos falando, em última análise, de celebridades. Entende-se que para receber o “sim” deve-se oferecer algo comum aos seus mundos.

Melhorias no formato

Diante do velho formato apresentado no evento, claro que há espaço para “aperfeiçoamentos”. Ampliar os participantes empresariais e fazer do Fórum um similar do evento econômico mundial, anualmente na Suíça, em Davos; levar um “anexo” do evento aos Alpes, é um caso a se pensar. Assim, ser a alternativa ambiental às discussões puramente financeiras (embora já tenhamos o Fórum Social, mas ainda demasiadamente de esquerda). Transformar esta reunião na referência do debate mundial sobre o tema no ramo empresarial. Neste sentido cobrar por resultados práticos ainda é prematuro. A veia ambiental das corporações ainda é incipiente. Investimentos em matrizes limpas ou projetos de cunho socioambiental somente se também gerarem lucros. Finalmente, mesmo com suas falhas ideológicas o Fórum traz ao diálogo um parceiro que já deveria ter entrado faz tempo. O ganho é evidente e este mérito já pode ser comemorado. O mais importante é fazê-lo entender, também, que não basta um jogo de um só jogador. O povo, as comunidades e o setor político das esferas menores são elos desta grande rede. Rompê-los ou fortalecê-los? Fica a escolha.

(*) É Engenheiro Agrônomo.Mestre em Ciências Florestais, Especialista em Gestão Ambiental. E-mail: psantos.ronaldo@gmai​l.com

3 comentários:

Anônimo disse...

Excelente reflexão.
Precisa, concisa, crítica, mas não ácida e, acima de tudo, propositiva.
Oxalá a turma do “movimento” SOS tivesse uma visão ganha-ganha ao invés de ganha-perde. Parabéns pela lúcida leitura do evento.
Paulo Augusto

Anônimo disse...

Caro Leitor,

Agradeço, desde já, a leitura e a posiçaõ positiva que fez do texto.

Com efeito, o papel de quem observa os fatos é - além da crítica - focar em proposições realísticas.

Me parece que é esta, também, sua diretriz.

Abraços

Ronaldo P Santos

Anônimo disse...

Tenho certeza que a visão dos fanáticos pelo porto foi afetada pela ilusão de se dar bem apenas babando ovo de empresários rabo de cabra. Os coitados estão precisando urgentemente de uma intervenção psiquiátrica, é lamentável que eles não tenham inteligência suficiente para perceber que essa ideia sebosa de porto no ENCONTRO DAS ÁGUAS já foi pro saco, já era, eles têm é que ir atrás de um trabalho para suas próprias sobrevivências, é impossível se dar bem com pilantragem, se manquem enquanto é tempo, será que vocês não percebem que já viraram piada pra população de Manaus. Acordem, tenham coragem e vão trabalhar, O coselho tá dado. Quanto aos guerreiros do GLORIOSO MOVIMENTO SOS ENCONTRO DAS ÁGUAS, cada dia aumenta a prosperidade da luta de vocês, apenas os incompetentes teimam em fingir não perceber a importância SOCIOAMBIENTAL que esse movimento amplia a cada momento. Vocês são o meu orgulho de ser amazonense!!! Vão em frente Deus está conosco.