Carla Nagel (*)
O sociólogo Octávio Ianni, foi um dos fundadores da sociologia no Brasil e um dos expoentes da “escola paulista de sociologia”. Foi um intérprete brasileiro que interrogou continuamente a sociedade nacional, construindo e reconstruindo problemas históricos e teóricos, reconhecendo o jogo das forças sociais.
A sua obra: A Idéia de Brasil Moderno (1992), nos faz pensar sobre o que tem sido o Brasil ao longo de sua história, onde estão sempre em causa: a questão nacional; as condições de formação da sociedade nacional; a contrapartida da Sociedade Civil e Estado; a possibilidade e impossibilidade de formação do estado-nação; a democracia e a tirania; a reforma e a revolução. Ianni nos faz refletir sobre a teoria sociológica e seus desdobramentos, evoluções e rupturas, desde as teorias que pensam na sociedade brasileira como amorfa até os que pensam numa sociedade complexa, priorizando o povo, visto como uma coletividade de cidadãos.
No primeiro capítulo: “Independência ou Morte”, Ianni nos fala sobre o Brasil até 1822, como um país que ainda não tinha conseguido entrar no ritmo da história, mesmo com os movimentos e lutas populares e que isso gerou a oportunidade aos arranjos de conciliação pelo alto. Porém, segundo o autor, essa história se rompeu em vários pontos, onde a monarquia e seus interesses foram postos em causa pelos movimentos sociais e pela forças das pressões de interesses externos. Entre esses rompimentos estavam as figuras de Mauá, ligado ao interesse do capitalismo mundial e às forças burguesas, beneficiadas pelos movimentos e partidos interessados em mudanças. Com o país visto como um país atrasado e deslocado, se comparado a outros países capitalistas, favoreceram os ensinamentos evolucionistas e darwinistas para estudar e explicar que país era este e como poderia se transformar. Porém, a realidade social, econômica, política e cultural, não se ajustavam facilmente às idéias e aos conceitos emprestados da Europa. Diante da persistência do escravismo e os artifícios do manto monárquico, favoreceram-se a legitimidade imposta pelo alto e a indiferença aos movimentos mais gerais da sociedade.
Em “Ordem e Progresso”, o autor nos oferece o cenário de um Brasil tentando entrar no ritmo da história, com a proclamação da república e a abolição da escravatura, liberando forças econômicas e políticas interessadas na agricultura, indústria e comércio e jogando na europeização e no branqueamento da população a chave para a modernidade. Diante disto, os diferentes setores populares não encontraram lugar nas esferas de poder, gerando problemáticas e reflexões que buscavam compreender e refletir sobre as heranças de séculos de escravismo, e patriarcalismo para explicar o Brasil. Ianni também reflete sobre a questão nacional e a busca da compreensão do país e suas possibilidades de progresso, civilização e nação. A questão nacional passou a estar sempre presente, como desafio, obsessão, impasse ou incidente, onde as preocupações passaram a ser as diversidades regionais, étnicas, raciais e culturais, além das questões sociais, econômicas e políticas, buscando explicações ainda nas raízes escravocratas e também na natureza e nos modelos europeus. E o povo continuava a ser uma ficção política.
Segundo o autor, pensava-se no Brasil moderno com interpretações múltiplas e contraditórias, onde se encontram desde aqueles que tentaram exorcizar o passado até aqueles que ainda preferiam corrigir o presente pelos parâmetros do passado, abrindo-se um leque bastante amplo de compreensões de propostas liberais, corporativistas, fascistas, socialistas.Entre estes pensadores estavam: Oliveira Viana, que influenciado pelo pensamento conservador europeu, privilegiava a organização do Estado como “civilizador”, e também a interpretação de Gilberto Freyre, que privilegiava as formas de sociabilidade, superando os equívocos que associavam raça a cultura. Assim uns explicavam o Estado e outros a sociedade.
No segundo capítulo, em ”O Sentido da História”, o autor fala da importância da interpretação marxista da história onde as relações, os processos e as estruturas que constituem as configurações sociais da vida são evidenciados, e as figuras históricas, as cronologias e as façanhas registradas na historiografia oficial e oficiosa, são recriadas à luz das formas de vida e trabalho. Para esta interpretação, os fatos gerais e singulares revelam-se tensos, críticos ou antagônicos. Assim, esta reinterpretação da história, revela as forças sociais que operam na composição e transformação da sociedade nacional, através da pesquisa globalizante e ao mesmo tempo sensível a aspectos sociais, humanos e culturais. Esta interpretação revela também como o presente se articula com o passado, onde cada grupo pode suscitar um modo de resgatar o passado e imaginar o futuro. Parte da idéia de que a história não é única e homogênea, mas modifica-se com as alterações das forças que predominam interna e externamente.
O sociólogo Octávio Ianni, foi um dos fundadores da sociologia no Brasil e um dos expoentes da “escola paulista de sociologia”. Foi um intérprete brasileiro que interrogou continuamente a sociedade nacional, construindo e reconstruindo problemas históricos e teóricos, reconhecendo o jogo das forças sociais.
A sua obra: A Idéia de Brasil Moderno (1992), nos faz pensar sobre o que tem sido o Brasil ao longo de sua história, onde estão sempre em causa: a questão nacional; as condições de formação da sociedade nacional; a contrapartida da Sociedade Civil e Estado; a possibilidade e impossibilidade de formação do estado-nação; a democracia e a tirania; a reforma e a revolução. Ianni nos faz refletir sobre a teoria sociológica e seus desdobramentos, evoluções e rupturas, desde as teorias que pensam na sociedade brasileira como amorfa até os que pensam numa sociedade complexa, priorizando o povo, visto como uma coletividade de cidadãos.
No primeiro capítulo: “Independência ou Morte”, Ianni nos fala sobre o Brasil até 1822, como um país que ainda não tinha conseguido entrar no ritmo da história, mesmo com os movimentos e lutas populares e que isso gerou a oportunidade aos arranjos de conciliação pelo alto. Porém, segundo o autor, essa história se rompeu em vários pontos, onde a monarquia e seus interesses foram postos em causa pelos movimentos sociais e pela forças das pressões de interesses externos. Entre esses rompimentos estavam as figuras de Mauá, ligado ao interesse do capitalismo mundial e às forças burguesas, beneficiadas pelos movimentos e partidos interessados em mudanças. Com o país visto como um país atrasado e deslocado, se comparado a outros países capitalistas, favoreceram os ensinamentos evolucionistas e darwinistas para estudar e explicar que país era este e como poderia se transformar. Porém, a realidade social, econômica, política e cultural, não se ajustavam facilmente às idéias e aos conceitos emprestados da Europa. Diante da persistência do escravismo e os artifícios do manto monárquico, favoreceram-se a legitimidade imposta pelo alto e a indiferença aos movimentos mais gerais da sociedade.
Em “Ordem e Progresso”, o autor nos oferece o cenário de um Brasil tentando entrar no ritmo da história, com a proclamação da república e a abolição da escravatura, liberando forças econômicas e políticas interessadas na agricultura, indústria e comércio e jogando na europeização e no branqueamento da população a chave para a modernidade. Diante disto, os diferentes setores populares não encontraram lugar nas esferas de poder, gerando problemáticas e reflexões que buscavam compreender e refletir sobre as heranças de séculos de escravismo, e patriarcalismo para explicar o Brasil. Ianni também reflete sobre a questão nacional e a busca da compreensão do país e suas possibilidades de progresso, civilização e nação. A questão nacional passou a estar sempre presente, como desafio, obsessão, impasse ou incidente, onde as preocupações passaram a ser as diversidades regionais, étnicas, raciais e culturais, além das questões sociais, econômicas e políticas, buscando explicações ainda nas raízes escravocratas e também na natureza e nos modelos europeus. E o povo continuava a ser uma ficção política.
Segundo o autor, pensava-se no Brasil moderno com interpretações múltiplas e contraditórias, onde se encontram desde aqueles que tentaram exorcizar o passado até aqueles que ainda preferiam corrigir o presente pelos parâmetros do passado, abrindo-se um leque bastante amplo de compreensões de propostas liberais, corporativistas, fascistas, socialistas.Entre estes pensadores estavam: Oliveira Viana, que influenciado pelo pensamento conservador europeu, privilegiava a organização do Estado como “civilizador”, e também a interpretação de Gilberto Freyre, que privilegiava as formas de sociabilidade, superando os equívocos que associavam raça a cultura. Assim uns explicavam o Estado e outros a sociedade.
No segundo capítulo, em ”O Sentido da História”, o autor fala da importância da interpretação marxista da história onde as relações, os processos e as estruturas que constituem as configurações sociais da vida são evidenciados, e as figuras históricas, as cronologias e as façanhas registradas na historiografia oficial e oficiosa, são recriadas à luz das formas de vida e trabalho. Para esta interpretação, os fatos gerais e singulares revelam-se tensos, críticos ou antagônicos. Assim, esta reinterpretação da história, revela as forças sociais que operam na composição e transformação da sociedade nacional, através da pesquisa globalizante e ao mesmo tempo sensível a aspectos sociais, humanos e culturais. Esta interpretação revela também como o presente se articula com o passado, onde cada grupo pode suscitar um modo de resgatar o passado e imaginar o futuro. Parte da idéia de que a história não é única e homogênea, mas modifica-se com as alterações das forças que predominam interna e externamente.
Em “A Revolução Brasileira”, Ianni nos fala do desafio de compreender as condições, características e tendências desta revolução, onde o presente se acha fortemente impregnado de vários passados. O Brasil, ao mesmo tempo que se desenvolve e se diversificava, preserva e recria traços e marcas do presente, torna-se muito forte o peso do passado, formando novos arranjos nas relações entre cidade e campo, regiões e a nação, sociedade nacional e o capitalismo mundial. Por isso, a burguesia brasileira tornou-se dependente, acomodada e não avançou para um projeto alternativo de sociedade nacional, representando interesses de uma sociedade envelhecida, onde a grande chave da revolução passou a ser o campo, onde são evidentes os encontros e desencontros peculiares do desenvolvimento desigual .
Ianni cita Caio Prado Júnior como um intérprete fundamental para esse entendimento complexo do país e para a contribuição para as ciências sociais, por ter se beneficiado de diversas contribuições e ter aberto perspectivas antes desconhecidas para os teóricos. Inaugurando um estilo de pensar a realidade brasileira.
No terceiro capítulo intitulado: “A Questão Social”, o autor nos fala que a história da sociedade brasileira está permeada de situações nas quais um ou mais aspectos importantes da questão social estão presentes como elementos essenciais das formas e movimentos da sociedade nacional. Isto também suscita enfoques diferentes e contraditórios sobre a sociedade brasileira. Por conseguinte, a questão social também passa a receber diversas denominações, onde alguns autores procuram descrever, explicar, resolver ou exorcizar as manifestações, criminalizando a questão social, vendo a sociedade civil como incapaz.
No quarto capítulo “Raça e Povo”, Ianni nos fala sobre a problemática racial como perspectiva importante para se compreender a formação do povo brasileiro. Ele observa que há muito racismo aberto e velado nas pesquisas. Ianni nos fala também que em toda a discussão sobre a problemática racial, há um debate sobre as metamorfoses das raças que compõem o Brasil, que alguns se restringem à transformação das raças e mestiços em uma população de trabalhadores, e outros avançam no sentido de compreender como se dá a emergência do povo, enquanto coletividade. Há ainda aqueles que procuram ver as raças e mestiços não somente como uma população de trabalhadores e um povo, mas um complexo de grupos raciais e classes sociais.
Por meio do que Ianni chama de “taxionomia inocente”, constroem-se os elos e cadeias de uma estrutura na qual se distribuem os chamados puros e impuros, superiores e inferiores, civilizados e bárbaros, históricos e não-históricos. Há também a preocupação com o encadeamento entre raça, clima e saúde, explicados pelo determinismo geográfico, o racismo, o darwinismo social, o positivismo, que incluem pensadores como Oliveira Vianna, Roquette Pinto, Arthur Ramos. Na literatura, a problemática racial está sempre presente e acaba realizando uma espécie de denúncia do caráter injusto e autoritário da sociedade burguesa em formação. Seguindo este pensamento estão Lima Barreto e Antônio Callado. E assim, em todas as épocas e diferentes situações, subsiste o dilema que põe e repõe a importância da problemática racial na explicação da questão nacional, principalmente quando se refere ao negro em épocas de conjunturas críticas. Em contrapartida, o negro cria e recria sua singularidade no interior e nos poros da sociedade diante das adversidades.
No quinto capítulo: “Cultura e Sociedade”, o autor reflete sobre a cultura brasileira e diz que a cultura não é inocente, mas cria-se nas relações sociais, onde se manifestam as diversidades e os antagonismos sociais, políticos e econômicos. A cultura também é dinâmica, pois apresenta especificidades, sistemas significativos, conjuntos que articulam passado e presente, ideais, representações, valores, visões de mundo. Muito da diversidade, desigualdade e antagonismo que constitui a sociedade aparece no âmbito da cultura. Por tudo isto, a relação dos acontecimentos históricos não é a mesma para todos e não há uma cultura brasileira conclui o autor. Ianni aborda a questão da cultura, como evidência da problemática da sociedade civil, nação e Estado nacional, compreendendo as diversidades e os antagonismos. Para o autor, o debate da cultura, em termos históricos e sociais, reabre o debate sobre a questão nacional, colocando e recolocando o problema da definição de povo, nação, Estado nacional, sociedade civil e democracia. A cultura compreende também hegemonia, pois pode ser construída por uma classe, composição de forças sociais, bloco de poder, Estado e até reivindicações de outros grupos que não se acham necessariamente no poder. E Ianni conclui nos falando que a democracia somente se torna efetiva se compreendermos as condições culturais de um povo.
No último capítulo, Ianni busca entender a formação do Brasil - Nação, percebendo que as mesmas forças que trabalham para integrar o país, promovem a dispersão, numa história de diversidades e desigualdades sociais, econômicas, dispersando estados e regiões, raças e classes. Por tudo isto, o autor chega a conclusão de que a cidadania continua a ser um elo crucial dessa história, por mostrar como o cidadão aparece, ou não, na fisionomia de uma nação em processo, em busca de um conceito.
Podemos concluir que esta obra torna-se fundamental para o entendimento da formação da cultura política brasileira, numa perspectiva crítica e histórica, e para a percepção dos componentes fundamentais para a construção desta cultura, que estão além dos comportamentos visíveis, ou seja, nos movimentos sociais , nas relações de produção, na escola, na família, nas igrejas, na hierarquia militar, na administração pública.
(*) É acadêmica de introdução à ciência política do curso de Ciências Sociais da UFAM.
Um comentário:
samy-essa analise sobre a obra de ianni me ajudou muito a enteder o texto!valleu ai
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