sábado, 4 de junho de 2011

A INSUSTENTÁVEL DUREZA DOS ESTUDANTES NO AMAZONAS

Ellza Souza (*)

Os empregadores no país reclamam que não tem mão de obra qualificada e por isso os salários de quem trabalha honestamente são baixos e por pouco não acontece apenas uma troca pelo prato de comida como nos velhos tempos da borracha, no caso do Amazonas. É difícil entender essa reclamação quando a cidade de Manaus está abarrotada de faculdades e cursos específicos que atraem a juventude local que entopem as vias públicas do centro com seus carros. Ou estes jovens estão estudando pelo status de universitário e para curtir o meio ou o mercado de trabalho não é o propalado por aí. As queixas são muitas. Os que se esforçam dificilmente encontram a ocupação de acordo com o que estudou e com a qual sonhou durante a preparação universitária.

Greylândia Labra e Girlândia Batista não formam a dupla sertaneja Grey e Gi mas se formassem resolveriam melhor seus problemas financeiros. Uma é estudante de Enfermagem, 23 anos; a outra está concluindo Engenharia de Produção e tem 34 anos. Jovens, bonitas, engajadas, militam no movimento estudantil e atuam na política com suas idéias, com seus objetivos da busca pela melhora da sociedade, fazendo valer os direitos dos estudantes que buscam na universidade pública um ensino da melhor qualidade. Sim, as duas são da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e defenderam no Programa Na Terra de Ajuricaba as suas posições em relação ao papel da juventude nesse mundo tão “moderno” e tão confuso.

O apresentador Ademir Ramos, um caboclo experiente, provocava as duas estudantes e citou dados da UNESCO que trata da vulnerabilidade dos jovens brasileiros entre 15 a 24 anos quanto a violência, prostituição, drogas, renda e trabalho, saúde e tantos outros temas para os quais não existem programas governamentais eficientes. Depois de sete anos de luta, Grey e Gi festejavam uma conquista para a qual não precisava de esforço e de barulho dos estudantes: a inauguração do restaurante que deverá atender os 10 mil alunos da capital a preço de R$ 1,40 a refeição.

“Orgulhosa da universidade”, Gi esclarece que precisa de muita superação e persistência para concluir um curso universitário no Amazonas. “A mulher precisa se organizar e participar mais politicamente” e se queixa das agremiações que não se identificam com nenhum ideal ou projeto político. Para o professor e entrevistador Ademir “qualquer omissão nesse contexto é crime” e declara emocionado que seu “amor pela UEA” vem desde sua criação. Na universidade estadual as mulheres lideram o movimento estudantil. Grey conta que aos 16 anos começou sua militância política levada por uma revolta interior, quando sua escola ainda se denominava Escola Técnica Federal do Amazonas.

A juventude amazonense quer muita coisa como ensino de qualidade, inserção no mercado de trabalho, saúde, compromisso dos governantes, maior investimento na pesquisa e nos laboratórios, o respeito dos vereadores que nas audiências lêem jornais e mantém conversas paralelas sem prestar atenção no debate. Grei reconhece que o que mobiliza os estudantes em Manaus é o aumento da passagem de ônibus o que é até válido mas não é suficiente. Segundo as universitárias fora o programa Pró Jovem Urbano da UEA ou o que isso venha a significar, no Amazonas não existem políticas públicas voltadas para os jovens.

Uma visão crítica e reflexiva não interessa aos políticos que não querem saber de ouvir a sociedade sobre os seus problemas. “É preciso produzir ciência e conhecimento” diz Ademir Ramos e debater as nossas dificuldades regionais apresentando propostas coerentes. É alienante sair da universidade apenas “com a visão de ganhar dinheiro”. Para as estudantes o desafio é ser mulher, participar dos movimentos que levam a uma maior politização dos jovens e “não perder a ternura”. E isso serve para qualquer um, independente de sexo e idade.

(*) É jornalista, escritora e articuladora do NCPAM/UFAM.

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