A redução da desigualdade
O Brasil
continua sendo um dos países mais desiguais do mundo, quanto à divisão da renda
e da riqueza, mas ninguém pode menosprezar a melhora das condições de vida de
cerca de 40 milhões de pessoas e sua incorporação ao mercado de consumo.
Uma das grandes marcas da
economia brasileira nos primeiros dez anos do novo século foi a redução
simultânea da pobreza e da desigualdade, como confirma o estudo intitulado A
Década Inclusiva (2001-2011), recém-divulgado pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea). O Brasil continua sendo um dos países mais desiguais
do mundo, quanto à divisão da renda e da riqueza, mas ninguém pode menosprezar
a melhora das condições de vida de cerca de 40 milhões de pessoas e sua
incorporação ao mercado de consumo. Em outros grandes países emergentes, o
crescimento econômico nos últimos 20 anos foi acompanhado de redução da pobreza
e aumento da desigualdade, porque a situação de alguns grupos melhorou muito
mais rapidamente que a de outros. Em várias potências do mundo rico, a
distribuição tem-se tornado mais desigual desde o quarto final do século
passado, numa trajetória quase sem desvio, seja em tempos de crise ou em fases
de prosperidade.
A mudança mais visível, no caso do
Brasil, foi a diminuição da pobreza. Por qualquer dos critérios adotados para
definir a população pobre, a redução desse contingente, no País, foi superior a
55% em menos de dez anos, de acordo com os números da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad) analisados pelos técnicos do Ipea. Em menos de um
decênio, o País alcançou uma das mais importantes Metas do Milênio fixadas pela
Organização das Nações Unidas nos anos 90 - o resgate de metade dos pobres num
prazo de 25 anos. Ao mesmo tempo, as políticas adotadas permitiram reduzir de forma
significativa o indicador de desigualdade. Durante três décadas, a partir de
1970, o Índice de Gini - o mais usado para medir a distribuição de bens - pouco
havia variado, permanecendo próximo de 0,6. Esse índice varia entre zero e um.
Quanto mais baixo o número, menor a desigualdade. O índice caiu de 0,59 em 2001
para 0,53 em 2011.
Durante esse período, a renda dos
grupos mais pobres cresceu muito mais rapidamente que a dos mais ricos. A dos
10% mais baixos na escala da renda aumentou 91,2% ao longo de dez anos,
enquanto a dos 10% do topo acumulou um crescimento de 16,6%. De modo geral, o
aumento foi maior para os grupos da metade inferior da escala.
Várias fontes de renda contribuíram
para a redução da desigualdade. A mais importante foi o trabalho, com peso de
58%. A análise aponta, em seguida, a Previdência (19%), o Programa
Bolsa-Família (13%), os benefícios de prestação continuada (concedidos a certos
grupos de idosos e de deficientes) e outras (6%), como aluguéis e juros.
O aumento da renda do trabalho foi de
longe, portanto, o fator mais relevante. Esse aumento decorreu principalmente
da valorização do salário real, dependente tanto da expansão do emprego como do
aumento do salário mínimo. Curiosamente, os dois fenômenos - a expansão do
emprego e a elevação dos salários - ocorreram num cenário de crescimento
econômico muito menos acelerado que o de países como a China, a Índia e outros
emergentes. O espetáculo do crescimento, como observou o novo presidente do
Ipea, Marcelo Néri, foi sobretudo o do crescimento econômico dos pobres.
Será sustentável essa evolução?
Afinal, a desigualdade no Brasil ainda é muito ampla e é preciso avançar muito
até se alcançar um padrão mais aceitável. Uma das condições essenciais é o
controle da inflação. Nenhuma política de valorização dos salários ou de
transferência de recursos teria produzido resultados duradouros num ambiente de
inflação elevada, como aquele anterior ao Plano Real, em 1994. Isso boa parte
dos brasileiros parece haver aprendido. Outra condição importante é a
manutenção de fundamentos econômicos sólidos.
Finalmente, é preciso fortalecer o
lado da oferta - e isso inclui a melhora dos padrões educacionais e o
investimento em ciência e tecnologia. Sem um setor produtivo capaz de responder
à elevação da demanda interna, o descompasso entre o aumento da renda familiar
e o potencial das empresas resultará em graves desequilíbrios internos e
externos e em crises devastadoras, como as já vividas muitas vezes no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário