O
DOMÍNIO DO TECNOCRATISMO
Uma
política educacional que aviltou os professores, transformando-os em mendigos.
Pelo menos a ANDES não sucumbiu e esboçou uma reação acima do corporativo,
articulado um combate com o espírito republicano. As lideranças da ANDES explicaram
que não estava em greve reivindicando aumento de salários, mas por algo maior,
um plano de carreira que trouxesse dignidade aos professores universitários.
Márcio
Souza (*)
O Brasil que arrota ser a sexta maior
economia do mundo foi reprovado em matéria de educação. Os índices de
aproveitamento de nossos jovens cursando o ensino fundamental foram lamentáveis.
Realmente abaixo da crítica. E o que disse o nosso Ministro da Educação, que é
economista e, para aqueles que não são desmemoriados funcionais, é aquele mesmo
que apoiou a sandice da Zélia Cardoso de Melo, senhora da tecnocracia que bem
poderia estar no gineceu administrativo da Dona Dilma.
Pois
bem, o senhor Ministro da Educação decidiu diminuir o número de matérias, pois
de acordo com o seu curto raciocínio, tem matérias em demasia e isto confunde a
pobres mentes impúberes. Lembra o imperador da Áustria dizendo a Mozart que
suas óperas tinham notas demais. Ou aquele marido adúltero tentando livrar a
cara dizendo à esposa que trocaria o sofá onde fora flagrado. Esta é a educação
que vão continuar oferecendo aos jovens brasileiros.
O
raciocínio do Ministro, se é que isto é raciocínio, insulta pelo elevado grau
de cinismo, além de demonstrar uma burrice atroz. Guarda um assustador apego à
tecnocracia, mostrando a incapacidade do governo federal do PT, que deveria ser
o instrumental de transformação, de enxergar além desse horizonte de indigência
algo mais que um enxugamento de currículo. Este viés tecnocrata, pragmático, é
muito grave. Mostra o porquê de o movimento estudantil atual ser incapaz de se
libertar do corporativismo, abraçando as grandes causa de nosso tempo. São as
próprias autoridades educacionais que dão o mau exemplo.
Era
de se esperar que o Ministro pelo menos consultasse os especialistas, evitando
dizer as besteiras que lhe são contumazes. Resta aos cidadãos conscientes
repudiarem esses absurdos, sintomas de uma política educacional que tem mais
retórica eleitoral que fatos.
Uma
política educacional que aviltou os professores, transformando-os em mendigos.
Pelo menos a ANDES não sucumbiu e esboçou uma reação acima do corporativo,
articulado um combate com o espírito republicano. As lideranças da ANDES explicaram
que não estava em greve reivindicando aumento de salários, mas por algo maior,
um plano de carreira que trouxesse dignidade aos professores universitários.
Foram tratados pelo Ministro com escárnio e surtos repressivos. É certo que há
uma clara intenção de evitar a chegada às salas de aula do espírito crítico. É
o velho reflexo do acordo Mec-Usaid implantado pela ditadura militar, ainda
vigente, que pretende formar mão de obra alfabetizada, capaz de entender um
manual de instruções, mas sem qualquer possibilidade de raciocínio crítico.
A
posição brutal e inarredável do governo federal investe num currículo escolar
talhado para manter o nosso país na retaguarda do progresso educacional. Este
tecnocratismo que adora estatísticas obesas de números contamina toda uma
geração de estudantes ao conformismo, à alienação e à ignorância. Ou seja, o
processo de imbecilização dos jovens tem um aliado inesperado no próprio Ministro.
Certa
vez comentei que a indiferença do movimento estudantil por grandes causas, como
a questão da construção de um porto no encontro das águas, ou agressão ao
centro histórico com a construção absurda e suspeita de um monotrilho, além das
demais questões políticas e sociais, era um sinal de demissão das futuras
gerações. Fiz esse comentário com muita amargura, e, estando no campus da UFAM,
encontrei algumas das lideranças a quem provoquei, levantando essas questões; perdi
meu tempo, pois esses estudantes não pareciam entender que existia algo mais
que seu pequeno e pragmático mundo corporativo. Para eles nada era mais
importantes que garantir meia passagem (eu fiz toda a minha faculdade pagando
passagem inteira, como todo mundo). Ainda bem que não estarei para ver esse
Brasil Burro! Bananão, subdesenvolvido.
(*)
É escritor, dramaturgo e articulista de a Crítica.
3 comentários:
Concordo com você Márcio Souza e acho ainda que "burros unidos jamais serão vencidos". Infelizmente encabeçados por ministros e presidentes que não gostam de ler um livrinho não podemos esperar sabedoria em prol da educação. E cada vez mais elegemos quem não sabe ler nem escrever. Basta ser engraçadinho.
Agora que perceberam isso?
Não Ademar mas como simples cidadã manifesto a minha indignação quando possivel.
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