sábado, 1 de setembro de 2012


O DOMÍNIO DO TECNOCRATISMO

Uma política educacional que aviltou os professores, transformando-os em mendigos. Pelo menos a ANDES não sucumbiu e esboçou uma reação acima do corporativo, articulado um combate com o espírito republicano. As lideranças da ANDES explicaram que não estava em greve reivindicando aumento de salários, mas por algo maior, um plano de carreira que trouxesse dignidade aos professores universitários.

Márcio Souza (*)
O Brasil que arrota ser a sexta maior economia do mundo foi reprovado em matéria de educação. Os índices de aproveitamento de nossos jovens cursando o ensino fundamental foram lamentáveis. Realmente abaixo da crítica. E o que disse o nosso Ministro da Educação, que é economista e, para aqueles que não são desmemoriados funcionais, é aquele mesmo que apoiou a sandice da Zélia Cardoso de Melo, senhora da tecnocracia que bem poderia estar no gineceu administrativo da Dona Dilma.

Pois bem, o senhor Ministro da Educação decidiu diminuir o número de matérias, pois de acordo com o seu curto raciocínio, tem matérias em demasia e isto confunde a pobres mentes impúberes. Lembra o imperador da Áustria dizendo a Mozart que suas óperas tinham notas demais. Ou aquele marido adúltero tentando livrar a cara dizendo à esposa que trocaria o sofá onde fora flagrado. Esta é a educação que vão continuar oferecendo aos jovens brasileiros.

O raciocínio do Ministro, se é que isto é raciocínio, insulta pelo elevado grau de cinismo, além de demonstrar uma burrice atroz. Guarda um assustador apego à tecnocracia, mostrando a incapacidade do governo federal do PT, que deveria ser o instrumental de transformação, de enxergar além desse horizonte de indigência algo mais que um enxugamento de currículo. Este viés tecnocrata, pragmático, é muito grave. Mostra o porquê de o movimento estudantil atual ser incapaz de se libertar do corporativismo, abraçando as grandes causa de nosso tempo. São as próprias autoridades educacionais que dão o mau exemplo.

Era de se esperar que o Ministro pelo menos consultasse os especialistas, evitando dizer as besteiras que lhe são contumazes. Resta aos cidadãos conscientes repudiarem esses absurdos, sintomas de uma política educacional que tem mais retórica eleitoral que fatos.

Uma política educacional que aviltou os professores, transformando-os em mendigos. Pelo menos a ANDES não sucumbiu e esboçou uma reação acima do corporativo, articulado um combate com o espírito republicano. As lideranças da ANDES explicaram que não estava em greve reivindicando aumento de salários, mas por algo maior, um plano de carreira que trouxesse dignidade aos professores universitários. Foram tratados pelo Ministro com escárnio e surtos repressivos. É certo que há uma clara intenção de evitar a chegada às salas de aula do espírito crítico. É o velho reflexo do acordo Mec-Usaid implantado pela ditadura militar, ainda vigente, que pretende formar mão de obra alfabetizada, capaz de entender um manual de instruções, mas sem qualquer possibilidade de raciocínio crítico.

A posição brutal e inarredável do governo federal investe num currículo escolar talhado para manter o nosso país na retaguarda do progresso educacional. Este tecnocratismo que adora estatísticas obesas de números contamina toda uma geração de estudantes ao conformismo, à alienação e à ignorância. Ou seja, o processo de imbecilização dos jovens tem um aliado inesperado no próprio Ministro.

Certa vez comentei que a indiferença do movimento estudantil por grandes causas, como a questão da construção de um porto no encontro das águas, ou agressão ao centro histórico com a construção absurda e suspeita de um monotrilho, além das demais questões políticas e sociais, era um sinal de demissão das futuras gerações. Fiz esse comentário com muita amargura, e, estando no campus da UFAM, encontrei algumas das lideranças a quem provoquei, levantando essas questões; perdi meu tempo, pois esses estudantes não pareciam entender que existia algo mais que seu pequeno e pragmático mundo corporativo. Para eles nada era mais importantes que garantir meia passagem (eu fiz toda a minha faculdade pagando passagem inteira, como todo mundo). Ainda bem que não estarei para ver esse Brasil Burro! Bananão, subdesenvolvido.

(*) É escritor, dramaturgo e articulista de a Crítica.

3 comentários:

Ellza Souza disse...

Concordo com você Márcio Souza e acho ainda que "burros unidos jamais serão vencidos". Infelizmente encabeçados por ministros e presidentes que não gostam de ler um livrinho não podemos esperar sabedoria em prol da educação. E cada vez mais elegemos quem não sabe ler nem escrever. Basta ser engraçadinho.

Ademar Lopes disse...

Agora que perceberam isso?

Anônimo disse...

Não Ademar mas como simples cidadã manifesto a minha indignação quando possivel.