ARANHAS
CARANGUEJEIRAS
Ellza Souza (*)
Dentro
do projeto “Poesia solta na rua” que acontece às quintas feiras na Escola de
Samba Reino Unido do Morro da Liberdade, cujo enredo para 2013 é
dedicado ao livro (Samba Lê-Ler) contou no último dia 13 com o “poeta maior”
Thiago de Melo. Assim chamado por alguém da platéia, o poeta indagou se ali
tinha alguma fita métrica para medir aos três que se apresentavam naquela noite
para ver quem de fato era o maior. Na linha humildade do Thiago de Mello, a
jovem Pollyanna Matos, amazonense, disse ser uma “iniciante” com dez anos na
estrada. O outro a se apresentar foi o carioca Mauricio Matos, com trabalhos
publicados e estudioso do Camões, portanto um poeta de peso (não precisa pedir
uma balança para pesar e comprovar).
Não é fácil escrever um poema. Não é
fácil entender uma poesia. Não é fácil revirar os
sentimentos ao ouvir as palavras de um verso. Eu me revolvo toda ao
ouvir algumas poesias mas outras simplesmente passam por mim e só me dão
calafrios. A poesia tem que emocionar, tem que fazer feliz. Pode ser um
versinho simples, pode ser uma frase até mas preciso sentir verdade e
lacrimejar para poder gostar.
Nessa noite quentíssima no galpão da
Escola quem comandou o show foi realmente o Thiago. Contou suas histórias,
declamou poesias e um texto do seu livro Manaus-Amor e Memória onde homenageia
seu “enrolado” amigo Luiz Bacellar com quem ele brigou todos os dias
vividos em Manaus. Falou dos poetas que estão começando, ralhou com os
desatentos da platéia e com os que não conhecem a língua portuguesa. e não
dominam uma certa técnica poética para fazer das palavras a expressão da beleza
e da verdade.
Concordo quando ele diz que falta nos
versos de muitos autores algo chamado musicalidade. E é isso mesmo que separa a
boa poesia da poesia não tão boa assim. Quando não existe um certo fluir das
belas palavras alma adentro, simples, melodiosas mas escritas com alguma
segurança pelo poeta que preza a matéria prima usada, essa para mim não é uma
boa poesia.
Thiago de Mello falou em alto e bom som
que faz poemas de amor. As palavras do poeta ecoam até agora no meu ser: “É
preciso aprender a amar, doce e constante”; “Paz feita de fúria”; “...vir
comigo acender toda paz das estrelas; “Vida a serviço da vida”; “canto molhado
e barrento”; “Nas águas da minha infância/ Estou no meio do rio/ no centro da
praça...” Coisas assim, simples e belas.
Tenho um medo incompreensível de aranha
e o poeta dos barrancos, de Barreirinha, sua terra natal, das águas negras,
falou nessa noite do encontro amoroso de duas caranguejeiras delicadamente
observado por ele na “sombra sobre sombra em levíssimos movimentos”.
A partir dessa subida ao Morro da Liberdade nunca mais serei a mesma. O terror
que eu sentia pelas aranhas foi amenizado pelo poder do amor da poesia do
Thiago de Mello.
(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.
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