CAÇA
AOS VOTO
Ellza Souza (*)
Vou repetir uma historinha que gosto
muito. Ivanete chegou na minha casa para fazer a faxina da semana e me contou
que passou um tempo sem trabalhar porque estava arrancando os dentes. O que
aconteceu? perguntei-lhe. Ivanete, calmamente, me explicou que estava tirando
os seus dentes (arrancou quatro e ia tirar mais) para “aproveitar” a política
para ganhar uma dentadura novinha. Pasmem. Isso não aconteceu há décadas mas em
2010. Fiquei, então, pensando no grau de educação do nosso povo.
O candidato que pede o seu voto e em
troca lhe dá dentadura, meia dúzia de tábuas ou seja lá o que for incorre num
crime eleitoral. Como você vai votar numa pessoa que transgride a lei? A pena
desse tipo de delito é de até quatro anos de reclusão. Fique atento aos candidatos
que falam em nome dos pobres e desvalidos, aos que vão na sua casa e como um
grande amigo lhe tascam um beijo no rosto, aos que prometem moradias para
todos, fome zero. Desconfie dos que usam a mídia para alcançar as comunidades
mais carentes. A única dificuldade que esse tipo de político vai resolver é a
sua própria. Geralmente ele entra na política pobrezinho, feinho, humilde,
desconhecido e depois de um tempo está milionário e só veste Armani. E sempre
carente de mais um mandato para completar a obra inacabada. O povo continua
reclamando e sem nada do que interessa que é a sua própria dignidade, até a
próxima eleição.
Os problemas são os mesmos. Água,
saneamento, urbanização, escola, saúde, transporte, segurança. Parecem
insolúveis pois nunca são resolvidos. E pioram com o tempo. A cidade
cresce desordenadamente e as estreitas ruas vão sendo entupidas de carros. Não
sobra espaço para a bicicleta e para o pedestre. Portanto cuidado com promessas
mirabolantes que envolvem altos custos. O governo não gera dinheiro e portanto
a sociedade sempre vai pagar a conta. Você, eleitor, é o dono dessa riqueza e
precisa saber como os políticos estão gastando o dinheiro tão suado dos seus
impostos.
É difícil encontrar a pessoa certa para
votar. O jeito é ir por exclusão. Estão fora: O candidato pidão- aquele que
pediu o voto, foi eleito e só aparece agora para pedir de novo; o candidato
escândalo- está sempre acusado de corrupção; o vitalício- aquele que vai e
volta para concluir sua obra e nunca a conclui; o candidato da mídia- aquele
que só aparece na tv para ler o seu nome e número, não promete nada porque não
dá tempo; candidato-família – assim que entra chama toda a família
(não importa a idade) e amigos para sua assessoria; candidato-jurador- aquele
que jura que metrô é a solução do trânsito no berço da cidade.
Exercer sua cidadania é ficar de olho
nas ações dos políticos eleitos. Precisamos votar com seriedade para o nosso
próprio bem. Nada de votar em político engraçadinho e bonzinho mas burrinho com
relação ao seu papel de político decente. E esquecer esse mau costume de vender
o voto. Isso representa vender a própria alma, sua dignidade, sua melhoria de
vida, os sonhos de seus filhos. Reflita muito bem nesses dias que antecedem as
eleições: O que eu tenho a ver com a corrupção? Fazer uma escolha menos ruim já
ajuda.
(*) É escritora, jornalista e
articulista do NCPAM/UFAM.
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