quarta-feira, 5 de setembro de 2012


CAÇA AOS VOTO

Ellza Souza (*)

Vou repetir uma historinha que gosto muito. Ivanete chegou na minha casa para fazer a faxina da semana e me contou que passou um tempo sem trabalhar porque estava arrancando os dentes. O que aconteceu? perguntei-lhe. Ivanete, calmamente, me explicou que estava tirando os seus dentes (arrancou quatro e ia tirar mais) para “aproveitar” a política para ganhar uma dentadura novinha. Pasmem. Isso não aconteceu há décadas mas em 2010. Fiquei, então, pensando no grau de educação do nosso povo.

O candidato que pede o seu voto e em troca lhe dá dentadura, meia dúzia de tábuas ou seja lá o que for incorre num crime eleitoral. Como você vai votar numa pessoa que transgride a lei? A pena desse tipo de delito é de até quatro anos de reclusão. Fique atento aos candidatos que falam em nome dos pobres e desvalidos, aos que vão na sua casa e como um grande amigo lhe tascam um beijo no rosto, aos que prometem moradias para todos, fome zero. Desconfie dos que usam a mídia para alcançar as comunidades mais carentes. A única dificuldade que esse tipo de político vai resolver é a sua própria. Geralmente ele entra na política pobrezinho, feinho, humilde, desconhecido e depois de um tempo está milionário e só veste Armani. E sempre carente de mais um mandato para completar a obra inacabada. O povo continua reclamando e sem nada do que interessa que é a sua própria dignidade, até a próxima eleição.

Os problemas são os mesmos. Água, saneamento, urbanização, escola, saúde, transporte, segurança. Parecem insolúveis pois nunca são resolvidos. E pioram com o tempo.  A cidade cresce desordenadamente e as estreitas ruas vão sendo entupidas de carros. Não sobra espaço para a bicicleta e para o pedestre. Portanto cuidado com promessas mirabolantes que envolvem altos custos. O governo não gera dinheiro e portanto a sociedade sempre vai pagar a conta. Você, eleitor, é o dono dessa riqueza e precisa saber como os políticos estão gastando o dinheiro tão suado dos seus impostos.

É difícil encontrar a pessoa certa para votar. O jeito é ir por exclusão. Estão fora: O candidato pidão- aquele que pediu o voto, foi eleito e só aparece agora para pedir de novo; o candidato escândalo- está sempre acusado de corrupção; o vitalício- aquele que vai e volta para concluir sua obra e nunca a conclui; o candidato da mídia- aquele que só aparece na tv para ler o seu nome e número, não promete nada porque não dá tempo;  candidato-família – assim que entra chama toda a família (não importa a idade) e amigos para sua assessoria; candidato-jurador- aquele que jura que metrô é a solução do trânsito no berço da cidade.

Exercer sua cidadania é ficar de olho nas ações dos políticos eleitos. Precisamos votar com seriedade para o nosso próprio bem. Nada de votar em político engraçadinho e bonzinho mas burrinho com relação ao seu papel de político decente. E esquecer esse mau costume de vender o voto. Isso representa vender a própria alma, sua dignidade, sua melhoria de vida, os sonhos de seus filhos. Reflita muito bem nesses dias que antecedem as eleições: O que eu tenho a ver com a corrupção? Fazer uma escolha menos ruim já ajuda.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.

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