segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

EM DISCUSSÃO O FUTURO DA UFAM


Em entrevista ao NCPAM, a professor Maria Izabel de Medeiros Valle, discutindo a Universidade Brasileira acredita que os dirigentes não conseguem superar o modelo tradicional em relação ”a implantação dos princípios empresariais”, que exige das instituições acadêmicas índices de produtividades, nos moldes que o mercado impõe. Quanto à presença da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) no interior do Estado, a professora Izabel Valle como é conhecida no movimento docente, diz que “tem sido tímido, muito tido”.

Relativo às eleições para Reitoria, que será no dia 02 de abril próximo, a professora Izabel reclama por um congresso universitário, que promova as discussões das teses em função de se construir coletivamente a universidade que queremos. “Acho que nós devemos pensar no processo eleitoral para o segundo semestre para valorizar a participação da comunidade”, enquanto instrumento de controle acadêmico.

A professora Izabel Valle é doutora em sociologia e antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi fundadora do curso de Ciências Sociais, juntamente com o coordenador do NCPAM, professor Ademir Ramos, fundou também a pós-graduação em Sociologia, onde exerce atualmente a vice-coordenadoria do programa. Foi eleita Presidente da Associação dos Docentes da UFAM para o exercício 1989-1991, sendo posteriormente eleita também para Direção do Instituto de Ciências Humanas e Letras da UFAM (2002 a 2006). Izabel Valle é professora efetiva da UFAM lotada no Departamento de Ciências Sociais, onde exerce sua prática política pedagógica com competência e determinação. Confira a entrevista participando das discussões e formulando propostas que possam contribuir para consolidação da UFAM como instrumento indutor do Desenvolvimento na Amazônia.

Professora nós queríamos saber se é verdade que a universidade brasileira realmente está na UTI?

Acho que essa pergunta é bastante instigante e provocadora também, como é seu estilo, mas o que eu penso é que a universidade brasileira, na verdade, teve toda uma perspectiva a partir do governo militar de aumentar a produtividade, quer dizer, essa idéia de aumentar a produtividade é uma coisa que vem desde a ditadura e que foi ao longo do tempo, se afirmando dentro da universidade de tal sorte que hoje, o que nós temos é a idéia que vigora com muita força, da implantação dos princípios administrativos e empresariais no âmbito da própria universidade. Isso obviamente tem gerado situações de conflito em função de que se passa a pensar o que é próprio da universidade, aumentando a competição em seu interior e ao mesmo tempo a universidade sofre em razão de que ela não detém as razões do trabalho necessários pra que essa competição efetivamente vigore nos termos das universidades européias e americanas.

Então, trata-se de uma discussão sobre modelo de gestão?

Sim, sobre o modelo de gestão. Eu penso que nós estamos vivendo uma crise bastante profunda que vai se refletir na sala de aula, nas condições de trabalho, na segurança e outros setores. Exatamente porque se passa a ter a universidade como uma instituição prestadora de serviço, enquanto tal, obviamente, como uma mercadoria, se passa a perceber o estudante como um cliente Ora, então a verdadeira função da universidade, enquanto formadora e produtora de conhecimento se dá simultaneamente numa luta para a implementação de princípios administrativos empresariais, objetivando, sobretudo a produtividade e, em alguns momentos a lucratividade também. Daí a explosão que se viu em determinados momentos dos cursos de especialização pagos, implantados na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), bem como outros cursos conveniados. A forma como foram implementados gerou uma cunha imensa entre os professores porque na verdade não se sabia lidar com aquele tipo de programas e, em face dos baixos salários, o que se via era na verdade uma disputa por quem haveria de ministrar as disciplinas para determinadas áreas.

Pois bem, diante dessas circunstancias, como explicar o nosso desenvolvimento em termos de UFAM, quer dizer, em termos regionais?

Eu penso que nós temos dado uma contribuição enorme em que pesem essas diretrizes porque nós fomos, assim como a universidade brasileira como um todo, avançando muito significativo no momento em que o movimento docente, organizado, local, nacionalmente; como também, os próprios servidores e estudantes engendraram toda uma luta no processo de democratização da instituição, promovendo as mudanças substantivas no seu interior, no sentido de buscar melhoria na graduação e fundar os cursos de pós-graduação. Veja como é recente a pós-graduação no Brasil e na Universidade Federal do Amazonas ela está em processo de construção porque também é muito recente. A universidade enquanto tal, pensada como articulação do ensino de graduação, de pós-graduação, juntamente coma pesquisa e a extensão é um fato muito recente na universidade brasileira, sobretudo na região norte, em função de que esses processos foram se dando muito lentamente mesmo. Avançamos em determinadas áreas, mas nós não avançamos em outras importantes também. Se nós formos pegar, por exemplo, a nossa regulamentação, ela ainda é oriunda do período militar. Nós pouco avançamos em termos da normatização. A universidade é uma burocracia pesada, ela é extremamente lenta, ela não responde as exigências da sociedade de uma forma mais imediata.

E nessa situação, como é que podemos definir o processo eleitoral? Representa um avanço quanto à gestão ou é uma prática demagógica que favorece e fortalece cada vez mais o corporativismo?

Eu tenho pensado muito nesse processo eleitoral dentro da universidade brasileira. Penso que nós avançamos muito quando nós dissemos: “nós queremos eleger os nossos dirigentes!”. Mas pouco se avançou quanto à cobrança dos nossos dirigentes referente aquilo que deveria pautar a política institucional. Então nós avançamos pouco, em termos propriamente ditos, da participação da comunidade, nos fóruns e nos processos decisórios. A comunidade, por sua vez, só é chamada no momento da eleição e no caso da nossa universidade eu acho que é um problema ainda maior porque essas eleições ocorrendo no primeiro semestre dão muito pouca margem de tempo para que se possa refletir e estar em contato com os candidatos. Veja, a nossa eleição é em abril, nosso período começa em março. Nesse sentido qual é o avanço efetivo que a comunidade pode ter em termos de participação, de cobrança na gestão e de participação no processo decisório. É muito pequeno, muito pequeno. Eu tenho criticado isso, acho que nós deveríamos começar a pensar no processo eleitoral para o segundo semestre, não obviamente nessa eleição de 2009, porque o quadro já está posto.

Nesse contexto, como se explica o papel das organizações representativas, dos estudantes, dos servidores e dos professores?

De uma maneira geral nós temos visto o enfraquecimento das nossas entidades representativas. Elas tiveram um papel extremamente importante na direção do movimento, na crítica, mas de alguns anos pra cá, elas foram incorporadas a própria prática institucional. Então você veja que há inclusive ex-dirigentes de associações que são objetos de medalhas. Na verdade, quem deveria reconhecer o seu papel era o movimento e não a instituição dirigente, que passa a reconhecer e a atribuir medalha, ou seja, é claramente um sinal de cooptação de nossas lideranças. Tudo está se resumindo hoje a uma definição dentro do Conselho Universitário e nesse sentido ode ter ade do a de mproblema çcultura em todo o Brasil. cho que deu uma boa contribuiç vamos dizer assim, sobra pouca margem para uma oposição efetiva e para a formulação de novas propostas em direção as próprias eleições. Nós não temos, por exemplo, um congresso universitário, que poderia e deveria preceder as eleições no sentido da comunidade apontar quais seriam as suas expectativas com relação às próximas eleições. Foram cooptados e o movimento esvaziado. Do ponto de vista político, creio que nós não avançamos. Principalmente, em se tratando da influência da comunidade organizada sobre a política institucional. Nesse ponto nós estamos devendo.

O Amazonas é um grande território, temos que ocupá-lo, desenvolve-lo. Qual tem sido o papel da nossa universidade nesse processo de interiorização? Como tem sido essa interlocução com as instituições públicas e privadas?

Sem dúvida, eu creio, vamos dizer assim, que os dirigentes têm o dever de promover as parcerias e as articulações Interinstitucionais. É fundamental, que a Universidade Federal do Amazonas tenha um papel extremamente importante, porque veja, em toda a região aqui do Amazonas, é a única Universidade Federal, num Estado da nossa dimensão. Em vez de se implantar várias Universidades Federais, qual foi a opção do governo brasileiro que atual gestão da UFAM obedeceu: expandir via campi ao invés de buscar a criação de novas Universidade Federais à exemplo de outros Estados infinitamente menores que o nosso e que hoje tem diversas Universidades Federais em seu território. Aqui nós só temos uma Universidade Federal e a estratégia adotada foi via campi vinculados a essa estrutura central de Manaus, num Estado que tem a dimensão de um país, pela sua grandiosidade. Então veja, hoje, quem cumpre, no meu entendimento, o melhor papel em termos de interiorização, da educação voltada à preparação do corpo docente e outras demandas, é a Universidade Estadual do Amazonas porque tem muito mais agilidade, tem muito mais recursos e meios.

Então, o futuro da UFAM a senhora não vê com muitas luzes?

Em termos, vamos dizer assim, relativo à sua presença no interior dificilmente nós iremos conseguir ir mais do que já fomos. É tímido, é muito tímido. Vejo que o futuro da Universidade Federal do Amazonas deveria apostar, efetivamente, no que seria o seu diferencial, porque temos hoje no Amazonas mais de vinte instituições de ensino superior criadas num período muito curto de dez a quinze anos no máximo, o diferencial da UFAM além da graduação dos cursos, estaria na ampliação de novos cursos tais como dança e música, no campo das artes, onde somos muito deficientes. Avançar também em áreas estratégicas com curso de graduação e apostar, sobretudo, na pós-graduação, na pesquisa porque as outras instituições estão muito aquém daquilo que a UFAM tem de melhor. Agora a nossa universidade deveria, no meu entendimento, ter uma política de graduação bastante sólida, criando, portanto, no seu interior todo um projeto para que o estudante se prepare para a pós-graduação e pesquisa, possibilitando que esses profissionais possam prestar serviços nas demais instituições e na própria UFAM.

Quanto ao desenvolvimento regional, a universidade continua de costas para esse desafio?

Eu penso que pouco se discuti o desenvolvimento regional e isso, no meu entendimento, tem haver com a fragilidade da pós-graduação e da pesquisa. Então, quando você observa outros grandes centros, como é feito esta articulação, percebemos que há institutos extremamente vinculados com essa preocupação de articulação com setores da sociedade, objetivando a promoção do desenvolvimento regional, por exemplo, relativos à moradia, saneamento e outros. A coordenação de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFRJ (COPE) é um grande exemplo disso, há projetos vinculados a saneamentos e outras demandas sociais. Nós aqui ainda não temos esses meios. Qual é a nossa articulação com o interior do Estado? Muito pouca. Qual é a nossa articulação com o Pólo Industrial de Manaus? Quase nenhuma. Qual é a nossa articulação com os trabalhadores que precisam de educação? Quase nenhuma. O quê nós oferecemos concretamente? Acho que nós precisaríamos dar um salto pensando além de nós. Hoje se pretende que a UFAM tenha cem anos. Mas, que cem anos são esses? O que é que nós acumulamos nesses cem anos? Houve um interregno muito grande, quase sessenta anos entre a criação da UFAM e a universidade de Manaus. Ora! Então nós temos hoje mais tempo como UFAM do que cem anos propriamente dito. O que quero dizer com isso: que se nós temos cem anos nós estamos devendo muito a sociedade do Amazonas.

As aulas estão começando em março, qual a sua mensagem, como educadora e pesquisadora aos alunos que estão ingressando na UFAM e em particular aos alunos do Curso de Ciências Sociais?

Creio que eles ingressam numa universidade que tem de mais relevante é o seu quadro docente e a sua estrutura física em termos de espaço, creio também que esses estudantes têm de aproveitar o máximo da sua estada aqui para aprender, em que pese toda dificuldade, como a ausência de bibliografia, que tem sido uma coisa extremamente reclamada por todos nós, ausências de uma convivência acadêmica mais profunda. Em que pese tudo isso, eu creio que eles estão entrando numa universidade que tem no seu quadro docente, aquilo que melhor pode expressar em termos de conhecimento e de possibilidade de relações propriamente acadêmicas. Então eu quero que todos os estudantes, professores e os técnicos tenham como perspectiva sempre a melhoria da Universidade Federal do Amazonas porque como instituição de ensino superior ela tem uma função extremamente importante que é formar, sobretudo para a cidadania, profissionais capazes de uma atuação responsável e conseqüente no âmbito da sociedade. . .

Foto: Elaine Alves.

4 comentários:

Astrid disse...

O Amazonas é um grande território, temos que ocupá-lo, desenvolve-lo
Por que???
Por que???
Por que???
O que significa "ocupá-lo"? Expliquem como pensam em "desenvolve-lo"?
A Amazonia é já ocupada pela sua floresta, é ela que deve crescer, continuar a desenvolver-se.
O resto significa perder a floresta. É simples.
Querido Ademir, perdoe-me se faço um comentário desse tipo mas é que em nome do "desenvolvimento", da "ocupação", do "crescimento", boa parte da floresta desapareceu.
Penso que faltam politicos e pensadores que tenham a coragem de afirmar : fora a Zona Franca das nossas terras!
A famosa "riqueza" provocada pela ZFM sempre foi uma riqueza para poucos. O resto é demagogia de uma politica muitas vezes sem coragem para ir contra a corrente de um modelo de gestão da vida que é suicida. Não pode existir desenvolvimento que seja sustentável.
A prova é a seca de 2005, para citar um exemplo, que evidenciou como a água da Amazônia seja uma realidade frágil dentro do contexto planetário...
Um abraço
Astrid Lima

Anônimo disse...

Xiii... pelo jeito minha colega Astrid prefere ver o Amazonas voltando terminantemente para a economia do extrativismo e monocultura.

O problema é equilibrar interesses internacionais de empresários e ecologistas, as necessidades do povo, com os interesses dos políticos "ongueiros", que ganham em cima com a propaganda: "Vamos proteger a Amazônia!"

Simplesmente a Amazônia virou uma panela de pressão!!!

Anônimo disse...

Veja, a questao do intermodal é somente um dos exemplos da total, absoluta incompatibilidade desse modo de estar no mundo e a sobrevivencia da floresta.
E penso que mais que "interesses internacionais" temos que ter cuidado com aqueles nacionais que sistematicamente destruiram boa parte da Amazonia. Quem esta' vendendo a Amazonia nao tem sobrenome estrangeiro, nao é gringo, ao contrario, fala portugues, tem cpf e com certeza gosta de samba.
E' esse o aspecto mais dramatico de tudo isso.

E quando falo da floresta falo dos povos indigenas, da fauna e da flora, dos pequenos agricultores e ribeirinhos, falo porque sou do interior e meu olhar foi formado na beira do rio. Penso que ninguém esta' ouvindo eles, penso que essa politica nao somente reflete o nosso vellho auto-colonialismo mas é perdente nesse mundo. Penso que essa visao desenvolvimentista é a mesma das sociedades liberais que criaram a maior crise depois da segunda guerra e identica aquela dos paises do bloco comunista: crescer, crescer, crescer, desfrutar, comer tudo até acabar, até entrever o branco osso que era vida.
E' triste pensar que existe uma homologaçao do pensamento, que direita, esquerda, azul, laranjado e vermelho pensam num mesmo identico modelo de estar na Amazonia. Para eles é o unico possivel.
Continuo repetindo que esse modelo, essas zonas vao determinar o fim da Amazonia, significam o deserto vermelho e arido com alguns parques no meio. Como uma velha fotografia amarelada e inadequada que nao pode reprersentar toda aquela beleza que foi a Amazonia...
Desse futuro eu nao quero ser cumplice.
Um beijo
Astrid Lima

Anônimo disse...

Uma coisa não deve nunca ocorrer e a eleição de gente do PT para ser reitor ou reitora da UFAM, pois essa especie de individuos já mostrou pra que veio neste pais, o bacanal de despesas e roubos que fazem em toda a maquina pública federal.
Caso esta seja eleita, a UFAM ficara entregue ainda mais nas mãos dos bandidos da FUNDAÇÃO UNISOL que recebe toda verba federal da UFAM, por isso que está centenaria universidade estpa super SUCATEADA, sem essa de apartidarios, corrupção já basta o PT E O PMDB e corrupto sim só não ve que não quer ou se faz de besta pra passar melhor!
PIETISTAS BANDIDOS LONGE DA UFAM, O MPF ESTÁ AI PARA INVESTIGALOS!