sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

UM ESPECTRO RONDA O MUNDO...

Portanto, Marx está de volta, para o bem ou para o mal. Ele voltou para nos lembrar que o modo de produção capitalista, este monstro terrível desejando subjugar tudo e modelar a sua própria imagem, tem, em seu próprio bojo, o germe da sua ruína, em seu âmago, a sua própria imperfeição, em sua essência, a chave para seu aniquilamento...

Ricardo Lima*

Hard Times... Mais uma vez o capitalismo enfrenta uma de suas crises e os defeitos a ele inerentes começam a tornar-se mais nítidos; as idéias que outrora o ratificavam começam a ser questionadas; num processo lento, mas contínuo, os paradigmas de um processo histórico em decadência são substituídos por outros.

Assim ocorrera com o feudalismo, com o mercantilismo, com o capitalismo industrial, o Estado do Bem Estar Social, o socialismo real e, agora, acontece com o neo - liberalismo...

Hard Times... Mais uma vez o sistema, por meio de sua lógica implacável, nos mostra o quanto é imperfeito, e como tudo que parecia tão sólido, na modernidade, se desmancha no ar...

Tudo que é sólido desmancha no ar. Uma das mais conhecidas e, talvez, a mais enigmática frase de Marx, que até se tornou titulo do belíssimo ensaio de Marshall Berman, sintetiza bem o espírito moderno, espírito este que se renova, que se reinventa e que se destrói, como um furacão tétrico que, arregimentando tudo em volta, consome a si mesmo. O poeta americano Henry Miller descreveu muito bem o dilema do homem que vive a época moderna:

Eis o destino que confronta o homem moderno: fixado no fluxo, não morre, mas desmorona feito estátua, desintegra-se e se desfaz no nada.

Portanto, Marx está de volta, para o bem ou para o mal. Ele voltou para nos lembrar que o modo de produção capitalista, este monstro terrível desejando subjugar tudo e modelar a sua própria imagem, tem, em seu próprio bojo, o germe da sua ruína, em seu âmago, a sua própria imperfeição, em sua essência, a chave para seu aniquilamento...

Por isso seus escritos são agora um dos mais vendidos na Europa, mais uma vez ele é lido, comentado, estudado; é recolocado, outra vez, entre os maiores pensadores econômicos de todos os tempos; é a vingança de um clássico que vem nos assombrar, como o espectro do pai de Hamlet, com sua analise correta, com suas ponderações perspicazes, com seu estilo ferino e inconfundível de todo grande escritor...

Aquele homem de temperamento irascível, que passara por inúmeras dificuldades para levar a cabo o seu projeto intelectual, tantas vezes considerado por certos intelectuais como um ser anacrônico, como simples ideologia ou, quando muito, como um arremedo de pensamento filosófico, foi uma estrela, não apenas no FSM em Belém, mas também no fórum de Davos, onde, na tentativa de encontrar soluções para uma das crises mais terríveis desde 1929, os lideres mais importantes do planeta usaram parte dos seus paradigmas, mesmo de forma indireta, para salvar o sistema...

As idéias sobre protecionismo e uma maior presença do poder público, no sentido de direcionar de maneira mais energética a economia, outrora esquecidas durante os anos áureos do neoliberalismo, ganham cada vez mais força, um dos seus mais ilustre defensores, o premio Nobel de economia de 2008, Paul Krugman, já declarou que a única forma de sair desta crise é aumentando os investimentos públicos; Obama já recentemente disponibilizou uma pacote gigantesco, 819 bilhões de dólares, para salvar os banqueiros esfaimados e os trabalhadores em situação de risco.

Hard Times... Quando o livre mercado mostra que não pode se auto regular, as idéias de um "anacronismo filosófico" ganham força, os liberais correm pedindo socorro do poder público, o mesmo poder publico, o mesmo que tanto sentenciavam com supérfluo. Como dissera Lula Molusco, o mercado é apenas um adolescente que, quando em dificuldades, volta correndo para as asas do Estado...


Ao contrario do que os consercadores pensavem, Marx não é tão anacronico assim...

*Editor e pesquisador no NCPAM

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Ricardo, você toca num ponto importante: a relevância “crítica da crítica” da econômica política (sim, CRÍTICA DA CRÍTICA). Este é o cenário intelectual que Marx se insere. Não penso que Marx esteja de volta. Penso, sim, que Marx nunca de foi! A sua contribuição para a “explicação” (outro conceito-chave) da mecânica do capitalismo inverte e coloca de cabeça-para-baixo tudo aquilo que um dia se chamou de economia política. E mais: relê-lo é um desafio a mais para os pesquisadores de hoje, pois se ainda pensarmos que tudo o que dissera ainda se confirma na prática é cair num dogma bobo e ingênuo; e deixa de lado a crítica da crítica ou a criatividade: a verdadeira contribuição do filósofo. Parabéns pelo artigo e um forte abraço.

Anônimo disse...

Bem vindos ao fim do lberalismo e Neoliberalismo e a nova versão do Socialismo por que salvar bancos em detrimento de pessoas e milhares de empregos e criminosamente anti-social!