sexta-feira, 3 de junho de 2011

O SILÊNCIO DOS LIVROS

Esta semana estávamos reunidos com a Ministra da Cultura Ana de Hollanda e com os dirigentes da cultura das capitais do norte, quando se falou dos investimentos destinados as bibliotecas do Brasil. De imediato pensamos sobre a nossa biblioteca pública, que há mais de 03 anos está fechada para reforma, completamente abandonada pelos gestores e por alguns leitores, que pouco caso fazem a leitura e ao enredo que encerra esse universo civilizatório. Para todos (as) que iniciaram seus estudos por esse equipamento cultural para suprir os deveres escolares ou para nutrir a alma com as leituras dos clássicos, elevando o espírito a fazer profunda reflexão, em resposta as condições existências em que se encontra a humanidade frente aos desencantos do mundo acelerado pela volúpia do capital e a incivilidade dos governantes que de forma irresponsáveis não cuidam da cultura, da educação e muito menos da saúde dos povos. O fato é que tais Atores medíocres reduzem as políticas públicas aos seus interesses e por força da alienação transformam a nação em "puteiro" como cantava o imortal Cazuza. Mas, entre nós ainda reina indignação para superar o descaso, gritando pela abertura da Bliblioteca Pública como patrimônio do povo do Amazonas; não fique calado grite conosco, assim como a nossa escritora Ellza Souza, quebrando o silencio criminoso dos governantes e seus seguidores para fazer valer o acesso a leitura e ao encantado mundo da cultura.

Ellza Souza (*)

Vou sempre retomar o assunto. Uma fisgada atravessa meu peito ao passar em frente da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas no centro de Manaus. Ali, na frente de todos, o prédio, um belo exemplar do que constitui a nossa arquitetura dos tempos áureos, está em reforma há muito tempo. Fico pensando onde foram parar os livros. Cadê o acervo de preciosidades que serviu a muitas gerações? E os jornais antigos que retratam a nossa história? Esses jornais que consultei algumas vezes já tão frágeis. Fico imaginando se foram removidos por pessoas que não sabem do seu valor histórico. Os livros, muitos raros, velhinhos, “sem valor nenhum”, para alguns. É mais fácil jogar no lixo ou dar para uma criança recortar suas páginas. Ou quem sabe ir para alguma biblioteca particular. É mais fácil comprar novas coleções, modernas, com graves erros de português e de história.

Estou preocupada. Soube que os livros da Biblioteca foram levados para vários lugares. Para onde? Quem levou? Em 1945 um incêndio na Biblioteca arrasou o seu acervo de obras importantes e raras. Apenas os livros que haviam sido emprestados para a Feira de Amostras, um grande evento que estava acontecendo em Manaus, na época, escaparam. Moacir Andrade, pintor e fundador da Pinacoteca do Estado que funcionou nesse prédio, foi testemunha da tragédia e lembra com tristeza do acontecimento que abalou a cidade.

Muita gente circula no local mas parecem ter esquecido a Biblioteca por onde passaram tantas gerações de estudantes. Se fosse um camelódromo com todo tipo de objetos piratas desses que inundam o centro da cidade haveria alguém para lembrar da importância dessa atividade comercial para a população. Ao contrário das bibliotecas, livrarias (quantas existem numa cidade como a nossa com quase dois milhões de pessoas?), museus (pobre do Museu do Porto), galerias de arte, parecem não fazer falta. Ninguém reclama. Ninguém cobra das autoridades o descaso com o patrimônio histórico abandonado no centro da cidade. O abaixo assinado está em desuso. E assim a nossa história vai sendo apagada.

O povo vai ficando cada vez mais desinformado. E nós, do extremo norte brasileiro, que já estamos isolados pelas grandes distâncias, ficaremos isolados pela falta de informação, de cultura, de conhecimento. E ficaremos sempre rebaixados perante governos que não precisam disso para viver.

(*) É jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM.

Um comentário:

Soraia Magalhães disse...

Também não me calo diante dessa falta de respeito. Venho fazendo várias indagações em meu Blog CAÇADORES DE BIBLIOTECAS sobre uma data para a reabertura da Biblioteca Pública e não há resposta.

Fico feliz quando encontro outros questionamentos...