segunda-feira, 16 de maio de 2011

A CIÊNCIA DA FELICIDADE E AS POLÍTICAS PÚBLICAS

Ademir Ramos (*)

No Amazonas, a rádio tropical FM, que agora atende por uma nova designação, tem o seguinte bordão: “Se a tropical não deu nada aconteceu”. No rastro dessa onda vem a CBN com a mesa pavulagem. Digo isso para afirmar que hoje pela amanhã escutei o jornalista Gilberto Dimenstein, com quem trabalhei na década de 70, em pesquisa da UNICEF sobre as crianças na Amazônia, relatando de Nova York uma pesquisa acadêmica sobre o contágio da felicidade, da tristeza e outros sentimentos.

O fato é que a neurociência busca conhecer a pessoa total mergulhando na subjetividade para melhor compreender o grau de satisfação, contentamento, tristeza e felicidade. Cria-se dessa forma uma ciência que busca apreender as aptidões da pessoa não em si mesmo, mas em relação às aparências e as afetividades relativas.

Aparentemente nada de mais. No entanto, se esses experimentos forem comprovados e destinados unicamente para expansão do mercado dos bens matérias e simbólicos, as pessoas se tornarão presa fácil da industrialização tal como o cachorro de Pavlov a babar pelo alimento digo pelo bem veiculado nos meios de comunicação, visando unicamente o consumo e mais consumo.

A ciência da felicidade fora pensada há muito mais tempo por Aristóteles, em seu Tratado da Política, quando exigia dos Magistrados o dever de promover a felicidade dos homens da Polis. Não mais como um simples valor, mas como processo de políticas públicas a ser promovido pelos governantes para satisfazer seus concidadãos.

Considerando que, as relações de Poder fundam-se tanto na objetividade como na subjetivada, de onde emana a legitimidade dos atos dos magistrados. Nesse contexto, a felicidade deveria ser promovida de modo que exaltasse o direito das pessoas de viverem com dignidade, segurança e em reciprocidade numa sociedade soberana mediada pela estética da natureza inserida na cultura dos povos.

No Amazonas, se os acadêmicos por aqui viessem para pesquisar o contágio da felicidade, no contexto das políticas públicas, possivelmente, iriam comprovar muito mais tristeza e decepção ou será que estou enganado, com a palavra os nossos consulentes.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.

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