sábado, 21 de maio de 2011

A ÚLTIMA PALMEIRA DA MINHA TERRA

Ellza Souza (*)

Um dia ao subir uma rua do Conjunto Kissia no bairro D. Pedro, vi no final da mesma uma árvore solitária num montinho de terra recortada por um céu muito azul. A solidão daquela árvore num lugar onde até pouco tempo tinha uma área onde o verde da mata era exuberante, me deu uma sensação de fim de mundo. Aquela árvore ficou como um símbolo do que o homem é capaz de fazer com o meio ambiente. Ficou só. Tiraram seus galhos e a casca de seu tronco. Tiraram a possibilidade de muitos passarinhos fazer suas casas nela e em todas que foram derrubadas. A esses bichinhos restaram os fios de alta tensão, frios, sem alma. No bairro D. Pedro existem muitos conjuntos residenciais mas já foi uma extensa área verde com muitas palmeiras circundada por igarapés que refrescavam essa terra.

Não só as palmeiras mas outras grandes árvores frutíferas se espalhavam no local. Mangueiras, abacateiros, laranjeiras, bambus, açaizeiros. Os buritis que antes faziam lama na área não existem mais. Foram sendo derrubados pela especulação imobiliária que não encontra jeito de conviver com a natureza. Como sempre deixaram uma ou duas palmeirinhas sem forças que cansadas não dão mais frutos. O saboroso suco de buriti cuja lembrança me remete à infância quando tive o prazer de tomá-lo com pão doce.

No D. Pedro, próximo à praça dos Jornalistas entre o conjunto Kissia e o conjunto Tocantins II placas espalham-se ameaçando o fim de toda a vegetação do bairro. Prédios e casas tomarão o seu lugar. Não teremos mais a mata adornando o nosso bairro e descansando as nossas vistas. Quando o trator aparece a terra estremece.

No lugar das inofensivas árvores e de seus habitantes vai ficar uma terra desprotegida e frágil. Porque o homem não pode conviver com o verde? Precisa arrancar suas entranhas, sua proteção? Porque não fazer um parque com o nome do dono do terreno e preservar as espécies nativas e plantar muitas outras. Porque esta aversão ao que temos de melhor que é a nossa mata? O mato não representa sujeira, esconderijo de bandido ou entrave para se morar bem. Ao contrário representa qualidade de vida, pois nos protege, nos dá sombra e nos acalma nos momentos mais turbulentos de nossas vidas. E pede em troca apenas o silêncio, a observação, o respeito. Um bosque nessa área enriqueceria o cotidiano de todos.

Os buritizeiros pedem socorro e as pessoas de bom senso também. Ah, a inofensiva palmeirinha que achei ficaria para lembrar os seus pares foi arrancada até a última palma. Nada restou no lugar que lembre a imponência do Criador. Ficou apenas pedra sobre pedra numa frieza de dar dó.

(*) É jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM.

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