domingo, 8 de maio de 2011

NO LOMBO DO TAMBAQUI

Ellza Souza (*)

Quem tem medo de comer um jaraqui não vive bem. Primeiro que segundo estudos esse nosso peixinho de água doce é rico de nutrientes, segundo um dos seus berços milenares é a também pré histórica Ponta das Lages. Tem também um ditado que diz “quem come jaraqui jamais sairá daqui”. A tudo isso somam-se as propriedades afrodisíacas do peixe principalmente a quem não deixa de comer uma certa ova verde do bichinho.

Mas o jaraqui é só um dos nossos abençoados peixes. São tantos que muitos nem chegamos a conhecer dado o avanço da depredação da natureza principalmente dos rios e todas as suas espécies. Comecei com o jaraqui para falar do encontro de amigos num restaurante famoso comandado por um paraense que entende do assunto. Tá explicado por que o peixe servido no local tem gosto de aconchego, de alegria, tem um gostinho especial pois é feito com honestidade, com bom humor e categoria de quem sabe preparar o peixe amazônico. Assado, frito, escabeche são servidos acompanhados de feijão coquinho, farofa, azeite doce. Simples assim como na casa da gente.

Por obra do destino se aboletaram ao redor da mesa a escritora Ana, a professora Elzanir, o professor Ademir e eu. E tome peixe e conversa fiada. Comeram de tudo que tinha gente ali que não é fraca não. Só não comeram o jaraqui. Rolou o alinhado tambaqui e a prosaica sardinha frita pra não escapar nem as espinhas da coitada. Mas rolou muito a tarde quase toda foi “espinhar” a vida alheia. O papo foi profundamente esclarecedor. Teve bom humor pois nesses momentos vale mais a vida dos outros que a sua própria, apesar de que entre uma espinhada e outra, sempre escapava uma auto avaliação aqui e ali, o que servia para um conhecimento mais profundo das partes envolvidas. Mas a principal sobremesa foi mesmo a existência do próximo que nesses momentos não podem faltar para o papo ser agradável e sofisticado como o saboroso tambaqui que ralamos nos dentes com direito à sobra embalada numa quentinha para a janta do Zeca da Ana.

E é assim que a vida pode ser vivida, sem traumas, sem culpas, sem paranóias, com um simples encontro perpetrado pelo destino. Colocamos as informações em dias (intelectual não faz fofoca troca informações). Pelo riso rasgado de todos valeu a chuvosa tarde de maio. Lembro que há exatamente um ano atrás curtia os cenários primaveris de uma Paris fria e bela. Mais uma história boa para quem a viveu.

(*) É jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM.

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