quinta-feira, 21 de maio de 2009

DO LIXO, UM NICHO..., UM LUXO ?

Lena Andréa Lima Muniz*

N
as sociedades pré-industriais, o lixo era constituído basicamente de sobras de alimento que eram dadas aos animais, às sobras de madeiras usadas como lenha, tudo era reaproveitado e nada se jogava fora.

Com o advento da industrialização houve uma divisão social do trabalho e de suas técnicas o que levou a uma crescente especialização das atividades. O homem passou a consumir cada vez mais, não mais para satisfação de suas necessidades básicas de sobrevivência e de seu grupo, mas como um indicador de poder e riqueza, o excedente traduziu-se em status social, poder de compra. A partir de sua necessidade ilimitada o homem passou a confeccionar os supérfluos com a prerrogativa de que ter é poder, desencadeando um consumismo exacerbado levando a utilização desordenada dos recursos.

Pesquisas indicaram que cada pessoa gera, durante toda sua vida, uma média de 25 toneladas de lixo e nos últimos anos a quantidade de lixo multiplicou-se e com ele a proliferação de doenças e outros problemas sociais.

Hoje, o lixo representa um grande desafio para o bem estar e para a saúde da população.

Existem em Manaus, várias associações que sobrevivem daquilo que para a maioria é considerado algo inútil, sem valor, o lixo. Sim, o lixo como geração de renda e resgate social.
Uma dessas associações é o Instituto Ambiental Dorothy Stang, sediado na comunidade de Santa Etelvina e com galpões localizados em bairros adjacentes, tais como o Monte das Oliveiras. Fundado há 04 anos, o IADS abriga hoje cerca de 27 famílias, que dependem da coleta seletiva do lixo para o seu sustento próprio através da reciclagem.

São pessoas simples, porém, verdadeiros empreendedores, pois conseguiram vislumbrar uma oportunidade de fazer negócio, pois, o que se chama ou se trata como lixo, é na verdade, um conjunto de resíduos com grande potencial de reaproveitamento.

Esses empreendedores fizeram da dificuldade um trampolim, da escassez o surgimento de novos produtos, sem falar na questão da responsabilidade social, pois interferem positivamente reduzindo os impactos que o lixo causa ao meio ambiente.

Apesar de imaginar, que essas pessoas nem saibam do benefício que prestam ao meio ambiente, ou seja, para a qualidade de vida de todos, principalmente em nosso país, onde as políticas públicas voltadas para esse campo são muito tímidas e a escassez de recursos técnicos e financeiros faz com os órgãos responsáveis por ordenar as disposições dos resíduos, lance o lixo diretamente no solo, no ar e nos recursos hídricos.

Esses catadores conseguem extrair cerca de 30 toneladas por dia de lixo, da Cidade de Manaus, fazem a separação dos resíduos sólidos com a utilização de máquinas e equipamentos que compraram com o dinheiro arrecadado através de parceiros institucionais e entidades privadas, e conseguem obter um faturamento em média de 50 reais por semana com café da manhã entre as 27 famílias.

Sem depender de recursos governamentais, eles fazem o que devem fazer e não o que gostariam, são verdadeiros vencedores, pois a cada dia contam com a sorte, lideram a si mesmo, defendem seu ganha pão, contribuem em grande parcela na tão falada Responsabilidade Social, da qual, as grandes empresas, para participarem recebem concessões, isenções, incentivos governamentais e premiações, para que projetos voltados para esses fins sejam implantados, sendo as mesmas as maiores causadoras dessa problemática.
Essas pessoas interferem positivamente no rumo das coisas, fazem acontecer, percorrem caminhos ainda não percorridos, não olham para a grama do vizinho achando que o verde é mais reluzente, ao contrário, regam a cada dia o seu jardim, mesmo que tenham que buscar a água a longas distâncias.

Afinal de contas empreender é ser um catalisador de mudanças, é transformar o ambiente que vivemos, é reagir diante das circunstâncias.

São práticas desse tipo de mostram como o homem consegue dar a volta por cima (principalmente o brasileiro), diante de tantas vicissitudes.

*Professora da Ufam, economista e aluna de Ciências Sociais.

Um comentário:

Anônimo disse...

Com certeza, se existisse vontade politica, nosso estado poderia ser um dos primeiros a reciclar o lixo. Com fábricas especializadas no assunto, não só de papel, mas de vidro, e plástico, já que o residuo de plástico é em grande volume... perfeito o artigo!