Ademir Ramos*
A Amazônia, por sua diversidade cultural e pela reserva de recursos naturais que conserva em seu território circunscrito por rios e florestas, tem sido a matriz de pensamento do movimento ambientalista internacional para se definir a construção de um novo reordenamento da sociedade política contemporânea fincada nas práticas culturais que regram a relação dos empreendimentos econômicos com a ética da responsabilidade ambiental.
Para o capitalismo estruturante o novo reordenamento vem seguido de uma política coercitiva, pautada na tese do desenvolvimento sustentável concebida e formulada nos fóruns supranacionais para industrializar o meio ambiente e seus recursos naturais sob o foco da racionalidade conservacionista, garantindo dessa feita, a presente e futuras gerações o usufruto de um meio ambiente saudável em consonância com o equilíbrio planetário.
Desse modo, para o capitalismo pós-industrial o enigma foi decifrado dando razão ao mercado, iludindo a todos que a racionalidade consiste no valor de uso e não mais na troca de bens e serviços industrializados resultantes de um processo produtivo predador marcado pela desigualdade e exclusão social.
No entanto, parece que tudo foi equacionado, favorecendo o pleno funcionamento do sistema quanto à divisão internacional do trabalho, que incorpora em seu processo integracionista, novos territórios, assim como também, a apropriação de novos recursos ambientais para acelerar a produção em escala mundial.
O reordenamento desse mercado competitivo internacional coordenado pelos organismos multilaterais vinculados à Organização Mundial do Comércio e a própria Organização das Nações Unidas é movido por interesses empresariais associados à política neo-imperialista, minimizando a autonomia dos Estados Nação das sociedades periféricas, que são detentoras de valiosos estoques de recursos naturais, reduzindo seus poderes constituídos em favor desses oligopólios supranacionais avalizados pelos Estados Unidos da América do Norte e/ou pelo Mercado Comum Europeu.
Para a consecução desses objetivos, os agentes operacionais desse novo processo de rapinagem da riqueza dos povos subalternizados, recorrem à corrupção como estratégia vigente para dominar os governantes dessas nações, oferecendo regalias internacionais em forma de migalhas aos interlocutores governistas dessas Nações, em detrimento da miséria do nosso povo.
Para esse fim valem-se dos recursos públicos para encaminhar e garantir interesses privados, criando instrumentos aparentemente legais para justificar a redução do meio ambiente e seus recursos naturais em favor das agências interlocutoras que representam interesse do mercado internacional.
Em suma, na economia neocapitalista típica, segundo Robin Blackburn (Ideologia na Ciência Social, 1982), “os objetivos principais do capitalismo são os mesmos, mas métodos cada vez mais racionais são usados para atingi-los – a acumulação de capital e o lucro”.
O enunciado justifica-se pelos encaminhamentos operacionais de um Grupo de Trabalho (GT) formado por intelectuais, lideranças políticas, sociais e partidárias, recém criado na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) através do NCPAM para discutir a temática do Ecossocialismo referenciado no “Recado Amazônico”, assim qualificado os discursos do ex-senador da república Evandro Carreira proferidos em defesa da Amazônia.
Os discursos do ex-senador amazonense estão condensados em 10 volumes publicados pelo Senado Federal. São as obras que o projetaram internacionalmente como o primeiro político a lutar pela Ecologia Amazônica fundamentado no seguinte axioma: “a vocação hidroheliofitozoológica da Amazônia”, que sintetiza as manifestações das culturas varzeana, ictiológica, ribeirinha, hidroviária, extrativista, fotossintética e pomicultura.
O primeiro mandato popular de Evandro Carreira data de 1960, como vereador de Manaus. Mais tarde, na década de setenta, Evandro Carreira foi eleito senador da república, assumindo o seu mandato em fevereiro de 1975, quando pelos seus discursos ganhou visibilidade internacional em defesa da nossa Amazônia, contrariando a política de integração nacional da ditadura militar caracterizada pela depredação da floresta e o reducionismo das populações indígenas ao nacionalismo de Estado.
Para o senador do Amazonas, “a sofreguidão do imediatismo monetarista crematístico se abate sobre as florestas, devastando-as. Sobre rios, lagos e mares, infectando-as com os dejetos industriais. Sobre a atmosfera, poluindo-a com o vômito de anidrido carbônico do novo dragão, o novo tiranossauro do século XX – o automóvel -, além do clorofluorometano, destruindo a camada de ozônio que nos protege dos raios ultravioletas”.
A proposta do GT é verticalizar os estudos e agregar ainda mais novos participantes para juntos estudar as várias concepções do Ecossocialismo, considerando que para Michael Löwy (in Ecossocialismo: Rumo a uma Nova Civilização): “as atuais crises econômicas e ecológicas são parte de uma conjuntura mais geral e histórica: nós estamos confrontados com uma crise do atual modelo de civilização, a civilização capitalista/industrial moderna ocidental, baseada na expansão e acumulação ilimitada do capital na ‘comercialização de tudo’ (Immanuel Wallerstein), na cruel exploração do trabalho e da natureza, no individualismo e na competitividade brutais, e na destruição massiva do ambiente. A ameaça crescente do colapso do equilíbrio aponta para um cenário catastrófico – o aquecimento global – que coloca em perigo a própria sobrevivência da espécie humana”
Nessa perspectiva, as discussões do GT deverão ser apreciadas no Seminário de Estudo a ser realizado na UFAM, no dia 20 de agosto próximo, contando com o apoio da Fundação Lauro Campos e de outros parceiros que queiram compreender a conjuntura histórica, bem como o cenário de depredação do meio ambiente e dos recursos naturais, em detrimento da qualidade de vida do homem no planeta, tendo como pano de fundo a nossa Amazônia.
Em tela as políticas de governança ambiental, que são tão reclamadas e exigidas nos empreendimentos capitalistas com selo de sustentabilidade. No entanto, confronta-se com a voracidade da acumulação do capital enquanto força determinante na organização política do Estado e das formas de governo socialmente justas orientadas para a efetividade das políticas de desenvolvimento humano. O confronto gerador dessa crise sustenta as condições materiais de se afirmar o ecossocialismo como alternativa possível e historicamente viável na perspectiva de assentar os valores de uma cultura política.
Para tanto, o GT estará reunido nesta quinta-feira (15) às 16h no NCPAM, no campus universitário, na unidade do Instituto de Ciências Humanas e Letras para dar seqüência aos estudos e definir sobre os temas geradores do Seminário, tendo por referência a Amazônia e suas determinações históricas, ambientais, econômicas, culturais e políticas.
Da primeira reunião participaram o professor Gerson, Aloísio Nogueira, Elson Melo, Evandro Carreira e outras lideranças. Na próxima contamos com a sua presença.
*Professor, Antropólogo e Coordenador Geral do NCPAM vinculado ao Departamento de Ciências Sociais da UFAM.
A Amazônia, por sua diversidade cultural e pela reserva de recursos naturais que conserva em seu território circunscrito por rios e florestas, tem sido a matriz de pensamento do movimento ambientalista internacional para se definir a construção de um novo reordenamento da sociedade política contemporânea fincada nas práticas culturais que regram a relação dos empreendimentos econômicos com a ética da responsabilidade ambiental.
Para o capitalismo estruturante o novo reordenamento vem seguido de uma política coercitiva, pautada na tese do desenvolvimento sustentável concebida e formulada nos fóruns supranacionais para industrializar o meio ambiente e seus recursos naturais sob o foco da racionalidade conservacionista, garantindo dessa feita, a presente e futuras gerações o usufruto de um meio ambiente saudável em consonância com o equilíbrio planetário.
Desse modo, para o capitalismo pós-industrial o enigma foi decifrado dando razão ao mercado, iludindo a todos que a racionalidade consiste no valor de uso e não mais na troca de bens e serviços industrializados resultantes de um processo produtivo predador marcado pela desigualdade e exclusão social.
No entanto, parece que tudo foi equacionado, favorecendo o pleno funcionamento do sistema quanto à divisão internacional do trabalho, que incorpora em seu processo integracionista, novos territórios, assim como também, a apropriação de novos recursos ambientais para acelerar a produção em escala mundial.
O reordenamento desse mercado competitivo internacional coordenado pelos organismos multilaterais vinculados à Organização Mundial do Comércio e a própria Organização das Nações Unidas é movido por interesses empresariais associados à política neo-imperialista, minimizando a autonomia dos Estados Nação das sociedades periféricas, que são detentoras de valiosos estoques de recursos naturais, reduzindo seus poderes constituídos em favor desses oligopólios supranacionais avalizados pelos Estados Unidos da América do Norte e/ou pelo Mercado Comum Europeu.
Para a consecução desses objetivos, os agentes operacionais desse novo processo de rapinagem da riqueza dos povos subalternizados, recorrem à corrupção como estratégia vigente para dominar os governantes dessas nações, oferecendo regalias internacionais em forma de migalhas aos interlocutores governistas dessas Nações, em detrimento da miséria do nosso povo.
Para esse fim valem-se dos recursos públicos para encaminhar e garantir interesses privados, criando instrumentos aparentemente legais para justificar a redução do meio ambiente e seus recursos naturais em favor das agências interlocutoras que representam interesse do mercado internacional.
Em suma, na economia neocapitalista típica, segundo Robin Blackburn (Ideologia na Ciência Social, 1982), “os objetivos principais do capitalismo são os mesmos, mas métodos cada vez mais racionais são usados para atingi-los – a acumulação de capital e o lucro”.
O enunciado justifica-se pelos encaminhamentos operacionais de um Grupo de Trabalho (GT) formado por intelectuais, lideranças políticas, sociais e partidárias, recém criado na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) através do NCPAM para discutir a temática do Ecossocialismo referenciado no “Recado Amazônico”, assim qualificado os discursos do ex-senador da república Evandro Carreira proferidos em defesa da Amazônia.
Os discursos do ex-senador amazonense estão condensados em 10 volumes publicados pelo Senado Federal. São as obras que o projetaram internacionalmente como o primeiro político a lutar pela Ecologia Amazônica fundamentado no seguinte axioma: “a vocação hidroheliofitozoológica da Amazônia”, que sintetiza as manifestações das culturas varzeana, ictiológica, ribeirinha, hidroviária, extrativista, fotossintética e pomicultura.
O primeiro mandato popular de Evandro Carreira data de 1960, como vereador de Manaus. Mais tarde, na década de setenta, Evandro Carreira foi eleito senador da república, assumindo o seu mandato em fevereiro de 1975, quando pelos seus discursos ganhou visibilidade internacional em defesa da nossa Amazônia, contrariando a política de integração nacional da ditadura militar caracterizada pela depredação da floresta e o reducionismo das populações indígenas ao nacionalismo de Estado.
Para o senador do Amazonas, “a sofreguidão do imediatismo monetarista crematístico se abate sobre as florestas, devastando-as. Sobre rios, lagos e mares, infectando-as com os dejetos industriais. Sobre a atmosfera, poluindo-a com o vômito de anidrido carbônico do novo dragão, o novo tiranossauro do século XX – o automóvel -, além do clorofluorometano, destruindo a camada de ozônio que nos protege dos raios ultravioletas”.
A proposta do GT é verticalizar os estudos e agregar ainda mais novos participantes para juntos estudar as várias concepções do Ecossocialismo, considerando que para Michael Löwy (in Ecossocialismo: Rumo a uma Nova Civilização): “as atuais crises econômicas e ecológicas são parte de uma conjuntura mais geral e histórica: nós estamos confrontados com uma crise do atual modelo de civilização, a civilização capitalista/industrial moderna ocidental, baseada na expansão e acumulação ilimitada do capital na ‘comercialização de tudo’ (Immanuel Wallerstein), na cruel exploração do trabalho e da natureza, no individualismo e na competitividade brutais, e na destruição massiva do ambiente. A ameaça crescente do colapso do equilíbrio aponta para um cenário catastrófico – o aquecimento global – que coloca em perigo a própria sobrevivência da espécie humana”
Nessa perspectiva, as discussões do GT deverão ser apreciadas no Seminário de Estudo a ser realizado na UFAM, no dia 20 de agosto próximo, contando com o apoio da Fundação Lauro Campos e de outros parceiros que queiram compreender a conjuntura histórica, bem como o cenário de depredação do meio ambiente e dos recursos naturais, em detrimento da qualidade de vida do homem no planeta, tendo como pano de fundo a nossa Amazônia.
Em tela as políticas de governança ambiental, que são tão reclamadas e exigidas nos empreendimentos capitalistas com selo de sustentabilidade. No entanto, confronta-se com a voracidade da acumulação do capital enquanto força determinante na organização política do Estado e das formas de governo socialmente justas orientadas para a efetividade das políticas de desenvolvimento humano. O confronto gerador dessa crise sustenta as condições materiais de se afirmar o ecossocialismo como alternativa possível e historicamente viável na perspectiva de assentar os valores de uma cultura política.
Para tanto, o GT estará reunido nesta quinta-feira (15) às 16h no NCPAM, no campus universitário, na unidade do Instituto de Ciências Humanas e Letras para dar seqüência aos estudos e definir sobre os temas geradores do Seminário, tendo por referência a Amazônia e suas determinações históricas, ambientais, econômicas, culturais e políticas.
Da primeira reunião participaram o professor Gerson, Aloísio Nogueira, Elson Melo, Evandro Carreira e outras lideranças. Na próxima contamos com a sua presença.
*Professor, Antropólogo e Coordenador Geral do NCPAM vinculado ao Departamento de Ciências Sociais da UFAM.
2 comentários:
AMAZÔNIA
(Por Evandro Carreira)
Imenso laboratório
Onde o informe e o disforme
Se convulsionam num turbilhão em líquido.
Afloram vivos,
Em ânsia de síntese,
Em angústia de análise.
O ciclo se fecha
E garante a viagem pelo Sidéreo.
Romper o ciclo é o finito,
Mantê-lo é cavalgar estrelas
Na certeza do encontro com o ABSOLUTO.
Muito antes de Marina Silva, o senador Evandro Carreira já defendia a Amazônia. Faltam políticos que defendam vigorosamente a Amazônia, com muito cientificismo e honestidade, no Congresso Nacional, tal qual fazia o senador Evandro Carreira.
Diante da notória mudança climática global (invernos e verões extremos, períodos de estiagem mais longos e fora de época, etc.), faz-se premente a preservação da Amazônia.
Contudo, infelizmente, os políticos de hoje em dia, em sua maioria, quando não relegam a Amazônia para terceiro plano, simplesmente a ignoram, pois estão vendidos ao capitalismo selvagem. A Amazônia é a maior vítima do capitalismo selvagem.
Vídeo-tributo ao ex-senador Evandro Carreira
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