segunda-feira, 25 de maio de 2009

A DITADURA DOS PARTIDOS



Sandoval Amparo*

Este desagravo poderá vir a ser motivo de deboche por aqueles para quem é impossível mudar a realidade nossa do dia a dia. Para nós, os sonhadores, contudo, acredito que é um testemunho importante de um brasileiro que acredita em caipora, curupira, e até Saci-Pererê, mas não que o Brasil seja realmente um país democrático, pois não é. Vivemos isto sim, numa ditadura dos partidos. Desejava até dizer que não tão dura quanto a ditadura militar a qual não vivi e, portanto, “não poderia falar”, já que não estive lá, e logo, poderia ser denunciado por isso... infelizmente, porém, não creio que seja bem assim.

Embora de outra natureza, esta ditadura em que vivemos é tão ou mais dura que a militar. Como gosta de falar o presidente, nunca antes na história deste país houve tanta violência, seja urbana, seja rural, seja doméstica, psicológica ou policial. Igualmente, nossos direitos continuam sendo extorquidos pelo dia-a-dia no qual se instala e prevalece a lei do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, que por si só, já é bastante reveladora do que passa quem não manda nada no Brasil. Pior ainda, a mensagem subliminar que transmite: mande nalguma coisa... E assim, na base da porrada continuam os brasileiros acostumados a não questionar pelos direitos que temos.

Tudo aqui é difícil, e quando o agente da infração é alguém “poderoso” ou o próprio Estado, aí então ria-se dos direitos, ria-se da constituição. Banalizando a democracia, uma grande diversão estatística em tempos de eleição, votar é fácil, e cada dia mais nosso número total de eleitores é motivo de orgulho... Difícil é ser eleito. E se você não tem partido então, difícil não, impossível.

Se, é funcionário público e não é de algum partido, esqueça sua carreira, suas chances de promoção: essas vagas são pros afilhados do Partido, que no Brasil é realmente maior que a constituição. Tudo no Governo é Partido, qual seja. Inclusive cargos estratégicos, que parecem representar muito pouco, mas que correspondem aos micro-poderes essenciais para a melhoria da qualidade do Serviço Público, para fazê-lo, por exemplo, funcionar.

Estes cargos, no entanto, ao invés de estarem na mão daqueles técnicos que tanto estudaram e submeteram-se a provas duras, estão na mão dos partidos, que designam gente de todo tipo para deles se apossar, no melhor estilo “trabalho e aventura”, como lembrava o bom e velho Sergio Buarque de Holanda, revelando pouco ou nenhum compromisso com o trabalho de que trata. O Serviço Público, sempre foi público no sentido de quem paga as contas, nunca no de quem precisa do serviço, pois para o público, já se sabe que muitos parlamentares até estão se lixando, imaginem aqueles que têm a anuidade do Partido em dia... Nada os poderá tirar de lá nesta condição, senão um acordo político entre partidos por um cargo aqui ou ali.

Não se admite ser eleito sem partido, ou pior ainda, soube-se recentemente, com a reforma política, que candidatos bem votados de partidos pequenos perdem a vaga para candidatos bem votados de partidos grandes... ou ainda pior, que a tal da “margem eleitoral” corresponde ao que cada partido tem na câmara (de deputados) no momento das eleições, ou seja, uma roda que já foi feita torta e que assim se movimenta, fechada.

Assim é a política brasileira, fechada. Seja eleito se tiver um partido, o mesmo que te obriga a votar, na nossa democracia onde temos tantos deveres quanto direitos, sendo que só valem os primeiros...

Por fim, no nosso país as instituições públicas pertencem aos partidos (e por conseqüência, aos políticos) e não à sociedade, já que os partidos não nos representam (se não lá estávamos... filiados). Acho que para nossa democracia evoluir de verdade, poderia começar diminuindo os poderes dos partidos, e valorizar mais iniciativas comunitárias ou de bairro.

*Geógrafo da FUNAI

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