segunda-feira, 25 de maio de 2009

CRISE ECONÔMICA AFETA SETOR DE RECICLADOS EM MANAUS.



Desta forma, é necessário que o poder público ofereça ajuda a essas empresas criando incentivos também na área da indústria da reciclagem, oferecer linhas de financiamento para os catadores para incentivar a criação de galpões de coleta, ajudar na orientação e na educação dos catadores, pois só comprar o lixo de catadores e sucateiros não é a solução, deve-se também investir em programas educacionais sobre o ambiente e a importância da reciclagem do lixo para que eles também passem para a população esses aprendizados na hora da coleta


Myrna Libermann*

Em âmbito mundial a crise econômica afeta todos os setores: imobiliário, financeiro e as grandes multinacionais, bancos entram em estado de alerta, financiamentos negados, ações caindo rapidamente, desemprego em massa, paralisação da produção nas fábricas e a preocupação de um amanhã incerto, fatores que estão influenciando o decorrer deste ano de 2009 e prejudicando a vontade de grandes empresas e do consumidor.

Mas quem sofre realmente com essa crise mundial? Grandes bancos, multinacionais, empresários riquíssimos? A surpresa para muitos é saber que as grandes oscilações da economia mundial, que antes pareciam prejudicar só a escala macroeconômica, estão mais perto do que imaginávamos prejudicando a população individualmente, tanto com o desemprego, como com a quebra de microempresas, entre elas e de maior surpresa para a maioria da população, é a do setor de reciclagem, que viu os preços dos seus produtos desvalorizarem-se rapidamente.

Um exemplo de referência em reciclagem na cidade de Manaus é o Instituto Ambiental Dorothy Stang que, de forma cooperativa e comunitária, atua na área coletando cerca de trinta toneladas de lixo por mês, agregando 27 famílias de catadores, elo mais importante da cadeia da reciclagem, arrecadando cerca de 84 Kg de lata mensalmente e mais dezenas de quilos de papelão e plástico que são recolhidos das empresas do PIM e repassados aos pequenos armazéns do Instituto distribuídos pelos bairros de Santa Etelvina, Monte das Oliveiras e Centro da cidade, onde ocorrem a triagem e a reciclagem do material, retornando ao consumidor em forma de novas embalagens e aos catadores em forma de lucro.

O mercado de reciclagem, no entanto, vem enfrentando grandes dificuldades devido à diminuição dos valores pagos pelos materiais reciclados. Com o início da crise o número de material coletado nas ruas caiu de trinta toneladas ao mês para vinte a dezessete toneladas mensais, o preço dos produtos arrecadados também presenciou uma grande queda. Os rendimentos provenientes da coleta de materiais diminuíram em torno de 50%. O preço do quilo do plástico que custava R$ 1,00 passou para R$ 0,30, o alumínio da latinha de refrigerante ou cerveja custava R$ 3,50 baixou para R$1,00. O preço do papel, assim como o do papelão, caiu drasticamente gerando uma grande regressão do faturamento com o produto reciclado. A receita média semanal que antes era de R$ 120,00 por catador atualmente caiu para R$ 100,00. “Agora é preciso dobrar o trabalho para manter o mesmo salário no fim do mês, já que a renda das famílias que participam do instituto depende da coleta do lixo” relata Dona Aldenice, chefe dos catadores de uma das unidades do IADS localizada no bairro Monte das Oliveiras.

O valor diminuiu por conseqüência da redução na demanda por parte das empresas por produtos reciclados, sem a produção eficiente de antes, a vendagem empresarial caiu provocando uma paralisação na fabricação de novos produtos que utilizavam materiais reciclados em sua estrutura.

Desta forma, é necessário que o poder público ofereça ajuda a essas empresas criando incentivos também na área da indústria da reciclagem, oferecer linhas de financiamento para os catadores para incentivar a criação de galpões de coleta, ajudar na orientação e na educação dos catadores, pois só comprar o lixo de catadores e sucateiros não é a solução, deve-se também investir em programas educacionais sobre o ambiente e a importância da reciclagem do lixo para que eles também passem para a população esses aprendizados na hora da coleta, a fim que haja condições de melhorar a produtividade e que o comércio do lixo cresça na cidade de Manaus, pois no mundo afora empresas ganham milhões com esse produto aparentemente sem valor. Além do mais é de conhecimento geral que a maioria dos trabalhadores da coleta seletiva é proveniente de bairros periféricos, com baixa escolaridade e que a criação de uma quantidade cada vez maior de cursos de técnicas de reciclagem e produção de obras-primas em arte e artesanato, agregando valor aos produtos reciclados contribuiria não apenas para o reconhecimento de questões vitais como a preservação do meio ambiente, mas também para auxiliar na busca de novos caminhos para a arte e a cultura que acompanha os elementos de crescimento do homem como ser pensante e dinâmico, dando ênfase ao processo de inclusão social a esses cidadãos.

A população manauara precisa aprender a reciclar, precisa aprender a dar valor ao trabalhador que usa o lixo como ferramenta de trabalho e renda, que transformam algo inútil em útil novamente, assim sendo, o principal incentivo para essas pessoas que trabalham na coleta de lixo seria se nós, pessoas físicas, separássemos o lixo de nossas residências e entregássemos nos postos de coletas a esses trabalhadores, sem dúvida seria um grande passo no desenvolvimento social e econômico de Manaus.

*A autora é graduanda de Ciências Econômicas da UFAM e pesquisadora do NCPAM.

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