terça-feira, 17 de maio de 2011

OLHANDO OS RIOS

Ellza Souza (*)

Foi rio é encantado e é encantador. Mas dois rios da minha região são a mais pura expressão do encantamento e da magia. São eles os rios Negro e o Solimões ou Amazonas a partir do abraço dos dois. É difícil imaginar ao olhar para tão abençoadas águas, o que nos reserva se forem implacavelmente toldadas pela poluição e pela ganância dos homens. Diferente do mar, claro e exuberante, os meus rios, o preto e o branco, se abraçam, se completam, se unem sem briga, deslizam juntos na mesma direção adocicando um pouco as salgadas águas oceânicas.

O que se vê ao olhar para esses rios é uma placidez inebriante, é o brilho do sol ou da lua que torna seus espelhos d’água sofisticados e ternos. O que se vê mesmo é mistério baseado nas lendas, nos personagens, nas histórias de seus heróis que viveram por essas bandas e lutaram pela liberdade. Água adentro não se vê nada. A natureza é sábia já pensou com essa fúria humana de ganhar um trocado com tudo, ao enxergarem a riqueza existente rio abaixo, já teriam feito milhares de pontos (ou portos?) poluidores para extrair tudo que pudessem alcançar.

O rio é a estrada da Amazônia que diminue um pouco a solidão e a imensidão destas paragens e de seus habitantes. A ciência não consegue contar as suas incontáveis espécies que nos alimentam e dão continuidade ao ciclo da vida na terra. Muitos peixes nem chegaremos a conhecer dada a insana pressa que temos em degradar o que está aí para o nosso bem como águas e peixes dos rios e igarapés. Mais de cem riozinhos se infiltravam pela área onde hoje é a cidade de Manaus. Os que não foram aterrados estão comprometidos pelos esgotos, pelo lixo, pela poluição, pelo trabalho mau feito de obras como as do Prosamim.

A sustentabilidade da Amazônia passa pela sobrevivência digna de seus habitantes. Claro que isso implica em muita seriedade e competência das autoridades, dos cientistas, dos que buscam soluções adequadas para o desenvolvimento da região sem acabar com a natureza. O sábio homem chegou na terra há pouco tempo. Vieram primeiro as flores, os mares, as bactérias que nos geraram, os dinossauros, as árvores, tudo na natureza chegou primeiro e aí chegamos com sanha de donos e paulatinamente queremos desconstruir o que está ordenadamente construído e interligado.

Somos água e bactérias e, portanto, temos que zelar infinitamente pelas águas do planeta. É o mínimo que podemos fazer se queremos viver mais. Olhar só para o seu dedão do pé é pouco. O certo é conhecer como funciona a estratégia do meio ambiente para a sobrevivência de seus componentes. Prestar atenção na formiga, no sapo, na chuva, na aranha, no gato eriçado, nas palmeiras morrendo, no homem cego que não enxerga mais a sua própria necessidade de água e a continuar assim vai morrer na secura ou enferrujado com água contaminada de óleo derramado de embarcações.

O PORTO DAS LAJES NÃO É SOLUÇÃO E SIM PURA AGRESSÃO.
VIVA PARA SEMPRE O ENCONTRO DAS ÁGUAS EM MANAUS.

Foto: Valter Calheiro.

(*) É jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM.

3 comentários:

Marisa Lima disse...

Emocionante esse artigo e nos convida a reflexão. Sou apenas uma cabocla nascida e criada à beira do rio Amazonas, mas sinto pavor e aflição ao perceber que quem deveria estar a frente das ações em defesa da natureza, da vida no Planeta, está cego e surdo para a agonia na qual se debatem as diversas espécies de vida, dos recursos naturais: Florestas,água doce; rios, lagos, igarapés e igapós, esse último quase extinto. Quando viajo pelo beiradão, fico tiste ao observar que a mata ciliar está desaparecendo, devido a falta de manutenção desta importante flora. É preciso que os órgãos ambientais criem um SOS Mata ciliar, enquanto ainda há o que preservar. Uma árvore desta espécie quando cai é preciso poda-la p/ a mesma renovar, ficar mais forte e continuar a manter a terra de várzea no devído lugar, sem ir p/ o leito do rio causar mais assoreamento. A mata ciliar pede socorro. Vamos cuidar desta riqueza tão importante p/ a manutenção dos cursos de água e das espécies que ali habitam. Obrigada.

Anônimo disse...

Concordo plenamente com a internauta Mariza de que a mata ciliar é uma riqueza a ser preservada. O projeto do Terminal Portuário das Lajes (TPL), dentre outros benefícios que trará para a nossa gente que paga a cesta básica mais cara do país, diminuirá significativamente o trânsito de veículos pesados nas intransitáveis ruas e avenidas da capital. Somente que é cega e tendenciosa, e trabalha para a manutenção do perverso monopólio que cobra o frete mais caro do Brasil, pode ser contra a construção do TPL, do Porto da Siderama e de outros que vierem. Falando em mata ciliar, o projeto do TPL protege integralmente a mata de várzea nas margens do Lago do Aleixo, por que a ponte de acesso ao cais flutuante passa muito acima da copa das palmeiras nativas.
Viva as matas ciliares, viva a nossa várzea e viva as pessoas que almejam reduzir a pobreza no Amazonas.

Anônimo Convicto.

Anônimo disse...

Quero dizer p/ o anônimo convicto que essa lenga-lenga de que o porto das Lajes vai preservar isso e aquilo é conversa p/ enganar besta. Sou conhecedor de vários portos desse tipo pelo Brasil a fora e te garanto que menhum deles preservou, preserva ou preservará a natureza. Quanto ao que você grosseiramente insinua p/ a Marisa, é uma falta de rspeito não só com ela, mas com toda a população de Manaus e do Amazonas que ao contrário de você não se vende p/ quem pretende usurpar nossos Bens naturais, paisagísticos e culturais. Quanto ao trânsito, você não tem noção do que fala, se esse porto fosse constrído no Encontro das Águas, os moradores da Colônia Antônio Aleixo não mais teriam direito de trafegar pela estrada do Aleixo, a mesma seria diariamente tomada por centenas de carretas lotadas de contêineres. Antes de você tentar agredir e ofender as pessoas, tenta raciocinar, dá uma chance p/ o teu cérebro funcionar, não deixe a propina subir p/ tua cabeça. Tente ganhar seu sustento trabalhando honestamente, apoiar quem é corrupto geralmente dá péssimo resultado. Abre teu olho.