DIMENSÃO CULTURAL – OS SABERES E AS TRADIÇÕES POPULARES NO CONTEXTO DE UM MUNDO GLOBOLIZADO
Ademir Ramos (*)
Reclama-se do
governo do Amazonas políticas públicas assentadas na promoção, reconhecimento,
valorização das culturas populares, exaltando a diversidade e os saberes do
povo do Amazonas. A contextualização do
debate tem por referência as comemorações dos 40 anos do “Festival Folclórico
Marquesiano”, que muito tem contribuído para o fortalecimento das práticas
pedagógicas, visando garantir a participação dos agentes populares nas festas
de rua, em respeito aos cantos, danças, saberes que dão visibilidades as
expressões e linguagens do modo de ser de nossa gente.
O festival começa no dia 22 e vai até o dia 24
de junho, sediado na Escola Estadual Marquês de Santa Cruz, nas imediações da
Igreja de São Raimundo, padroeiro do bairro, que fica na Zona Centro Oeste de
Manaus, capital do Estado do Amazonas. Antes dos folguedos populares, a
coordenação do evento, organizou o I Fórum Marquesiano de Cultura, iniciando no
dia 29 de maio, com encerramento no dia 01 de junho.
Na oportunidade, os
organizadores buscaram repensar as suas práticas, numa perspectiva de assegurar
a gestão do festival, dialogando com os parceiros quanto à possibilidade de
novos investimentos para assegurar a continuidade do festival. Um dos
principais ausentes do debate, embora tenha sido convidado, foi o Secretário de
Estado da Cultura, Robério Braga, que tem por dever oferecer os meios
necessários para o bom andamento das atividades culturais do Estado.
Bem diferente da
Secretaria de Educação do Estado, que se fez presente, buscando estreitar cada
vez mais as expressões e linguagens do festival na sala de aula. Esta inserção
se dá de forma curricular, com destaque para a transversalidade como estratégia
de desenvolvimento dos conteúdos escolares mediado pela prática da docência
participativa e responsável.
Dirigismo Cultural
Os analistas da
cultura do Amazonas denunciam constantemente o dirigismo cultural que orienta a
política de cultura do Estado, resultando numa pratica de achatamento das
culturas populares, desqualificando os protagonistas, sua história e a memória popular.
O dirigismo cultural é
um a política impositiva, transplantada ou copiada por agente público serviçal,
agindo contra os valores do povo, visando dominá-lo, politicamente, sob o taco
de um governo populista a instrumentalizar o Estado em benefício dos interesses
privados de seus apaniguados. O fato é que esses agentes e os governantes têm
vergonha do seu povo, identificando-se muito mais com os valores dos seus
algozes do que com a cultura do povo que lhes elegeu.
A lógica desses
governantes é a mesma adotada pelo Coliseu Romano, que centralizava tudo neste
lugar para dar visibilidades às imagens dos tiranos republicanos, enquanto o
povo vivendo em extrema pobreza disputa entre si um pedaço de pão em forma de
bolsa misericórdia. No entanto, sangra do seu corpo a coragem e a resistência de
viverem em liberdade, resgatando suas tradições na forma de valores culturais
radicalizados na memória coletiva da brava gente brasileira do Amazonas.
A aldeia e o Mundo
Os governantes e seus
agentes quando querem dominar e explorar seu povo desqualifica a cultura
popular, floclorizando sua arte, seus saberes e o realismo cientifico de suas
conquistas. A folclorização é uma forma
de não reconhecer a titularidade e o valor do bem cultuado pelo povo. Por isso,
passam a projetar como se fosse um valor genérico, descontextualizado, para não
reconhecer o processo criativo e muito menos a competência e habilidade de seus
protagonistas.
Com o processo da globalização
midiática, a massificação tornou-se uma estratégia reducionista, impondo sobre
as culturas que não dominam e controlam determinado modo de comunicação um
sentimento de inferioridade por ser diferente da forma dominante apresentada.
Nesse contexto, a
aldeia em que vivemos pode parecer exótica, folclórica e até mesmo “selvagem”
por não se enquadrar nos moldes do padrão globalizado do mercado. E para isso,
tudo será feito para “integra-la” como consumidor de bens matérias e imateriais
deste mundo globalizante.
Finalmente, nesse
embate entre o local e o global construiu-se uma síntese radicada nas
diferenças, exaltando mais a diversidade do que a hegemonia e os monopólios de
mercado. Para esse fim pode-se afirmar que a economia é global, mas a cultura é
local, transformando seus agentes em coluna mestra da sustentabilidade de sua
história na perspectiva afirmativa das culturas das nações livres e soberanas.
(*) É professor,
antropólogo e coordenador do Núcleo de Cultura Política da UFAM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário