sexta-feira, 1 de junho de 2012


DIMENSÃO CULTURAL – OS SABERES E AS TRADIÇÕES  POPULARES NO CONTEXTO DE UM MUNDO GLOBOLIZADO
          
                                                 Ademir Ramos (*)

          Reclama-se do governo do Amazonas políticas públicas assentadas na promoção, reconhecimento, valorização das culturas populares, exaltando a diversidade e os saberes do povo do Amazonas.  A contextualização do debate tem por referência as comemorações dos 40 anos do “Festival Folclórico Marquesiano”, que muito tem contribuído para o fortalecimento das práticas pedagógicas, visando garantir a participação dos agentes populares nas festas de rua, em respeito aos cantos, danças, saberes que dão visibilidades as expressões e linguagens do modo de ser de nossa gente.

 O festival começa no dia 22 e vai até o dia 24 de junho, sediado na Escola Estadual Marquês de Santa Cruz, nas imediações da Igreja de São Raimundo, padroeiro do bairro, que fica na Zona Centro Oeste de Manaus, capital do Estado do Amazonas. Antes dos folguedos populares, a coordenação do evento, organizou o I Fórum Marquesiano de Cultura, iniciando no dia 29 de maio, com encerramento no dia 01 de junho.

Na oportunidade, os organizadores buscaram repensar as suas práticas, numa perspectiva de assegurar a gestão do festival, dialogando com os parceiros quanto à possibilidade de novos investimentos para assegurar a continuidade do festival. Um dos principais ausentes do debate, embora tenha sido convidado, foi o Secretário de Estado da Cultura, Robério Braga, que tem por dever oferecer os meios necessários para o bom andamento das atividades culturais do Estado.

Bem diferente da Secretaria de Educação do Estado, que se fez presente, buscando estreitar cada vez mais as expressões e linguagens do festival na sala de aula. Esta inserção se dá de forma curricular, com destaque para a transversalidade como estratégia de desenvolvimento dos conteúdos escolares mediado pela prática da docência participativa e responsável.

Dirigismo Cultural

Os analistas da cultura do Amazonas denunciam constantemente o dirigismo cultural que orienta a política de cultura do Estado, resultando numa pratica de achatamento das culturas populares, desqualificando os protagonistas, sua história e a memória popular.

O dirigismo cultural é um a política impositiva, transplantada ou copiada por agente público serviçal, agindo contra os valores do povo, visando dominá-lo, politicamente, sob o taco de um governo populista a instrumentalizar o Estado em benefício dos interesses privados de seus apaniguados. O fato é que esses agentes e os governantes têm vergonha do seu povo, identificando-se muito mais com os valores dos seus algozes do que com a cultura do povo que lhes elegeu.

A lógica desses governantes é a mesma adotada pelo Coliseu Romano, que centralizava tudo neste lugar para dar visibilidades às imagens dos tiranos republicanos, enquanto o povo vivendo em extrema pobreza disputa entre si um pedaço de pão em forma de bolsa misericórdia. No entanto, sangra do seu corpo a coragem e a resistência de viverem em liberdade, resgatando suas tradições na forma de valores culturais radicalizados na memória coletiva da brava gente brasileira do Amazonas.       

A aldeia e o Mundo

Os governantes e seus agentes quando querem dominar e explorar seu povo desqualifica a cultura popular, floclorizando sua arte, seus saberes e o realismo cientifico de suas conquistas.  A folclorização é uma forma de não reconhecer a titularidade e o valor do bem cultuado pelo povo. Por isso, passam a projetar como se fosse um valor genérico, descontextualizado, para não reconhecer o processo criativo e muito menos a competência e habilidade de seus protagonistas.

Com o processo da globalização midiática, a massificação tornou-se uma estratégia reducionista, impondo sobre as culturas que não dominam e controlam determinado modo de comunicação um sentimento de inferioridade por ser diferente da forma dominante apresentada.

Nesse contexto, a aldeia em que vivemos pode parecer exótica, folclórica e até mesmo “selvagem” por não se enquadrar nos moldes do padrão globalizado do mercado. E para isso, tudo será feito para “integra-la” como consumidor de bens matérias e imateriais deste mundo globalizante.

Finalmente, nesse embate entre o local e o global construiu-se uma síntese radicada nas diferenças, exaltando mais a diversidade do que a hegemonia e os monopólios de mercado. Para esse fim pode-se afirmar que a economia é global, mas a cultura é local, transformando seus agentes em coluna mestra da sustentabilidade de sua história na perspectiva afirmativa das culturas das nações livres e soberanas.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do Núcleo de Cultura Política da UFAM.

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