A greve nas federais se
alastra
A greve das universidades federais
chega ao seu 20.º dia, com a realização de uma marcha de professores, em
Brasília, para pressionar o governo a atender às reivindicações dos grevistas.
Além de reclamar da defasagem salarial com relação a outras carreiras federais,
a categoria exige mudança na estrutura de cargos, melhores condições de
trabalho, incorporação de gratificações e unificação da carreira, com 13 níveis
de remuneração e variação de 5% entre esses níveis.
Com base nos índices do Dieese, os
professores pleiteiam ainda um aumento de R$ 1.597,92 para R$ 2.329,35 no piso
salarial para o regime de 20 horas semanais. E também criticam o Programa de
Apoio à Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, que foi lançado
pelo presidente Lula em 2007. Segundo eles, a criação de novas instituições
federais de ensino superior e a construção de novas unidades por instituições
já existentes foram feitas às pressas, com salas lotadas, excesso de
disciplinas, orientações pedagógicas conflitantes e ausência de laboratórios,
de bibliotecas, de estrutura para pesquisa e de política de assistência ao
estudante.
Quando a greve foi deflagrada, o
ministro Aloysio Mercadante afirmou que não via sentido na paralisação, uma vez
que o governo vinha cumprindo o acordo firmado no ano passado, que previa um
reajuste de 4% nos salários dos professores das universidades federais e das
instituições técnicas mantidas pela União. Em nota, o Sindicato Nacional dos
Docentes do Ensino Superior (Andes) alegou que o acordo de 2011 foi
"emergencial". Disse que as autoridades educacionais haviam prometido
negociar um novo plano de carreira. E pediram "o agendamento de reuniões
com urgência", para evitar um impasse.
Mercadante dispôs-se a receber os
líderes dos grevistas e alegou que a demora para o início das discussões foi
causada pela morte, em janeiro, do secretário executivo do Ministério do
Planejamento, Duvanier Paiva, o principal negociador do governo. Contudo, a
reunião marcada para a semana passada com o comando de greve e a direção do
Andes foi cancelada a pedido do ministro da Educação, que alegou estar com
"problemas de agenda".
Outra reunião prevista para esta
semana com o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento,
Sérgio Mendonça, também foi desmarcada. A justificativa foi de que a equipe
econômica do governo tem de reavaliar sua posição, antes de apresentar uma
contraproposta de reajuste salarial para o professorado. O Palácio do Planalto
teme que todos os setores do funcionalismo federal, invocando isonomia, exijam
o que for concedido aos professores. Os sindicatos dos servidores da União já
acenaram com a possibilidade de promover uma greve geral ainda este mês.
A greve dos docentes começou na
segunda quinzena de maio com a suspensão das aulas em 41 das 59 universidades
federais. Quase três semanas depois, 49 universidades e 4 dos 40 institutos de
ensino técnico e centros tecnológicos federais estão com as atividades
suspensas. Até as principais universidades da rede - como as de São Paulo e do
Rio de Janeiro - aderiram à paralisia. A maior de todas - a UFRJ - não entrava
em greve desde 2001. As aulas também foram suspensas nas universidades que o
governo do presidente Lula criou nas cidades onde estão os maiores redutos
eleitorais do PT. É esse o caso, por exemplo, da UFABC, com sede em Santo
André. Segundo o Andes, mais de 1 milhão de alunos estão sem aula, por causa da
greve. No governo, a estimativa é de que a paralisação tenha atingido apenas
500 mil alunos. Convertida em entidade chapa-branca, a União Nacional dos
Estudantes (UNE) limitou-se a emitir notas de apoio aos professores das
federais, sugerindo que a receita a ser obtida com a exploração do pré-sal seja
aplicada em educação.
O ensino superior foi um dos
principais redutos do PT, durante anos. A greve está mostrando que, se o
partido continua controlando o movimento estudantil, perdeu sua hegemonia entre
as entidades docentes.
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