POLÍTICA, PAIXÃO E
ROCK-ROLL
Ademir Ramos (*)
A geografia política dos campos em
disputas encontra-se minada pelo gosto, prazer, vício e racionalidades como
parte desse processo tão necessário para se ordenar o fato político nas
estruturas organizacionais do Estado. É jogo duro, que requer muito rebolado,
jogo de cintura para se afirmar no contexto e definir território como
protagonista de um empreendimento político capaz de catalisar votos e
interesses, acenando para uns e agradando a outros numa unidade determinada por
múltiplas vontades amasiadas por promessas, ganhos e benefícios, que perpassam
gabinetes e alcovas.
Este é o campo da política, onde o jogo requer competência e
habilidade para atuar com retidão aparente e ambiguidade comportamental. Por
isso, o “sim” na política não é o que pensamos ser, da mesma forma o “não”. Vai
depender do seu contexto, do simbolismo que encerra, podendo deslumbrar outros
enunciados em favor de variados encaminhamentos para se garantir ganhos diretos
ou indiretos numa perspectiva coletiva ou individual.
O fato político não é linear. Ele se faz pela ambiguidade e
de modo algum tal conduta minimiza a sua importância para sociedade. Isto
porque, trata-se de expressões relativas à cultura de um povo ou, quando não,
resulta do desenvolvimento cognitivo de uma classe dirigente orientada por
determinada liderança vinculada ao processo produtivo local de forma direta ou
não.
E o Rock e Rool faz dançar homens, mulheres e transexuais no
mesmo diapasão balizado por normas e regras a serem celebradas na Corte com
pompas e ritos, sabendo que a transgressão está sujeito à penalidade para o bom
ordenamento das práticas sociais. No entanto, conforme as determinações
políticas tudo pode ser desfeito ou até mesmo refeito com grandes ritos, quando
a povo reclama por mudanças, desalojando os ratos e seus comanditas dos
aparelhos do Estado.
Na Democracia a vontade do povo se faz sagrada nas urnas,
devendo ser cultuada no altar das representações iconográficas da política,
garantindo aos seus protagonistas o reconhecimento de participar ativamente do
controle de suas decisões, visando combater os corruptos e malversadores do
erário público. Na ausência de um povo organizado e participativo, as decisões são
eivadas de vícios porque estão vinculadas a extrema pobreza, desqualificando a
política como instrumento de cidadania, fazendo crer que o resto do banquete
oferecido em forma de bolsas e outros apetrechos compensatórios, são o único
meio para assegurar o direito de nossa gente.
A visibilidade dos fatos podem ser conferidas nas campanhas
publicitários governamentais, em véspera das eleições, destacando os feitos dos
governantes como se fosse atos de justiça social. Nada mais do que medidas
paliativas para prolongar a dor, a dependência dos necessitados, visando
garantir o voto de cabresto dos excluídos.
Mas o povo faz história. É bom saber que a paixão é fogo
contagiante, ingrediente necessária da política a mobilizar o povo em campo
difuso, criando situação de massa insustentável para os grupos situacionistas
que pensam ter o povo sob o controle de suas forças. No entanto, por impulso ou
por exaustão a Paixão e o Rock dos governantes e políticos oportunistas transformam-se
em vício, desmoralizando as instituições democráticas e a própria família como
unidade de sustentação da propriedade privada e do Estado. Então, o quadro muda,
o cinismo, a impunidade e a corrupção deixam de ser tolerados e os políticos
sujos serão julgados pelo povo nas ruas e nas urnas, renovando os poderes
constituídos em louvor a Democracia Popular.
(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.
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