AI SE EU NÃO TE PEGO...
Ellza
Souza (*)
Para o usuário de ônibus o caos no centro de Manaus
está instalado. Fui pegar o 123 na avenida 7 de Setembro pois a estação da
Matriz está interditada por motivo da imundície que ficou mais visível com o
avanço do rio Negro. Bueiros entupidos, lixo pra todo lado, mau cheiro. A
improvisada estação poderia muito bem servir à sua finalidade se não fossem os
despreparados motoristas que embolam todo o percurso fazendo o povo correr
igual as baratas que saem dos bueiros, tontinhas. Pensei: “O ônibus vai ter que
parar nem que eu tenha que me jogar na frente dele”. Cansada e depois de
esperar um tempão na parada, o 123 aparece passando ao largo de outros ônibus.
Fui para o meio da rua e fiz parada. Aí o motorista que dificilmente cumpre
corretamente a sua parada (e às vezes nem pára) resolveu apontar o dedo para a
beira da rua onde parou corretamente bem à frente já que o espaço é pouco para
tantos veículos. E com sacola pesada que carregava corri que nem as baratinhas
tontas para o ônibus pois outro só dali a uma hora no mínimo.
Para os ambulantes não tem tempo ruim.
“Água, água” gritam insistentemente e a população não vê outro jeito a não ser
contrair mais essa despesa já que água potável por aqui é coisa rara. Agora a
antes arborizada e agradável avenida da “Quatro e Quatrocentos” (hoje loja
Marisa), virou um mar de garrafas plásticas. O povo que joga tudo que é
embalagem no rio não se emendou. Emporcalhado o Negro agora descarta seus
detritos avenida acima como se tivessem empregados para juntar suas tranqueiras.
Isso na cara dura como se fosse a coisa mais natural do mundo. Só a ignorância
no mais alto grau, a profunda falta de educação e de amor ao lugar em que vive,
pode causar tanto desleixo e cegueira.
O centro da cidade que antes fazia
gosto andar naquelas ruas com boas lojas, calçadas, ponto do fuxico nas
esquinas, árvores guerreiras e restaurantes de qualidade agora acho melhor
fechar todas as poucas lojas que ainda resistem e fazer um grande camelódromo
ao ar livre com produtos de quinta e preços de primeira linha. E no meio fio
enfileiradas barraquinhas coloridas de pastel e lanches rápidos ao
cheiro desagradável das águas servidas que escorrem abertamente pra todo lado.
Tudo na maior desorganização.
Concluo que é algo mais ou menos assim.
As autoridades não fazem a sua parte pois ouvi hoje o governador dizer numa
rádio que Manaus precisa de um planejamento de longo prazo (isso eu já sabia),
o dinheiro é curto pra isso e as coisas não se arrumam nunca. E olha que a
impressão que eu tenho é que os políticos são sempre os mesmos portanto a mesma
política de governo. E com o impacto de tanta gente chegando do interior à
procura do lugar onde rola dinheiro (no meu bolso ainda não rolou), a capital
do grandioso estado do Amazonas fica cada vez pior. Por falta de planejamento,
de interesse de começar, de eficiência nos projetos. Esqueci que quem cuida da
cidade é o prefeito. Tá explicado.
O morador então está longe de
cumprir o seu papel na sociedade. E ficamos como dantes na terra das baratas
estonteantes.
(*) É escritora, jornalista e
articulista do NCPAM.
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