quarta-feira, 6 de junho de 2012

MANAUS, ENCHENTE 2012


AI SE EU NÃO TE PEGO...

      Ellza Souza (*)

            Para o usuário de ônibus o caos no centro de Manaus está instalado. Fui pegar o 123 na avenida 7 de Setembro pois a estação da Matriz está interditada por motivo da imundície que ficou mais visível com o avanço do rio Negro. Bueiros entupidos, lixo pra todo lado, mau cheiro. A improvisada estação poderia muito bem servir à sua finalidade se não fossem os despreparados motoristas que embolam todo o percurso fazendo o povo correr igual as baratas que saem dos bueiros, tontinhas. Pensei: “O ônibus vai ter que parar nem que eu tenha que me jogar na frente dele”. Cansada e depois de esperar um tempão na parada, o 123 aparece passando ao largo de outros ônibus. Fui para o meio da rua e fiz parada. Aí o motorista que dificilmente cumpre corretamente a sua parada (e às vezes nem pára) resolveu apontar o dedo para a beira da rua onde parou corretamente bem à frente já que o espaço é pouco para tantos veículos. E com sacola pesada que carregava corri que nem as baratinhas tontas para o ônibus pois outro só dali a uma hora no mínimo.

Para os ambulantes não tem tempo ruim. “Água, água” gritam insistentemente e a população não vê outro jeito a não ser contrair mais essa despesa já que água potável por aqui é coisa rara. Agora a antes arborizada e agradável avenida da “Quatro e Quatrocentos” (hoje loja Marisa), virou um mar de garrafas plásticas. O povo que joga tudo que é embalagem no rio não se emendou. Emporcalhado o Negro agora descarta seus detritos avenida acima como se tivessem empregados para juntar suas tranqueiras. Isso na cara dura como se fosse a coisa mais natural do mundo. Só a ignorância no mais alto grau, a profunda falta de educação e de amor ao lugar em que vive, pode causar tanto desleixo e cegueira.

O centro da cidade que antes fazia gosto andar naquelas ruas com boas lojas, calçadas, ponto do fuxico nas esquinas, árvores guerreiras e restaurantes de qualidade agora acho melhor fechar todas as poucas lojas que ainda resistem e fazer um grande camelódromo ao ar livre com produtos de quinta e preços de primeira linha. E no meio fio enfileiradas  barraquinhas coloridas de pastel e lanches rápidos ao cheiro desagradável das águas servidas que escorrem abertamente pra todo lado. Tudo na maior desorganização.

Concluo que é algo mais ou menos assim. As autoridades não fazem a sua parte pois ouvi hoje o governador dizer numa rádio que Manaus precisa de um planejamento de longo prazo (isso eu já sabia), o dinheiro é curto pra isso e as coisas não se arrumam nunca. E olha que a impressão que eu tenho é que os políticos são sempre os mesmos portanto a mesma política de governo. E com o impacto de tanta gente chegando do interior à procura do lugar onde rola dinheiro (no meu bolso ainda não rolou), a capital do grandioso estado do Amazonas fica cada vez pior. Por falta de planejamento, de interesse de começar, de eficiência nos projetos. Esqueci que quem cuida da cidade é o prefeito. Tá explicado.

O morador então está longe de cumprir o seu papel na sociedade. E ficamos como dantes na terra das baratas estonteantes.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM.

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