domingo, 24 de junho de 2012

MASSIFICAÇÃO DA CULTURA NO AMAZONAS E A FRAGILIDADE  DE NOSSAS FRONTEIRAS

Pesa contra nós o descaso pelo meio ambiente, a extrema pobreza, a falta de infraestrutura e o descrédito das lideranças políticas regionais. Sendo assim, o governo federal enquanto cúmplice desta situação deveria repensar o seu projeto de militarização da Amazônia e redirecionar os programas de governo de forma transversal para garantir a unidade territorial brasileira assentada na estratégia das fronteiras humanas como muralha do território nacional.

                                                    Ademir Ramos (*)
                  O melhor de uma nação é a garra, a coragem e a determinação do seu povo. Estas marcas identitárias podem ser reconhecidas na cultura de nossa gente a se manifestar em sua arte, música, gestual, linguagem, enfim no modo de intervir politicamente na sociedade como protagonista da situação e sujeito da história. Esse processo decorre de várias iniciativas, principalmente, quando se trata de uma sociedade de classe gerida pela força de uma economia capitalista, que reduz a cultura aos interesses de mercado e o cidadão em consumidor.

Para esse fim, os governantes e seus agentes tudo fazem para reordenar as políticas públicas, potencializando sua estratégia em direção ao mercado para afirmar cada vez mais o domínio do Estado em relação à Sociedade, assim como também a competitividade individual como norma geral para inclusão social, ou seja, o consumo extensivo tão bem representado pela classe C.

Nessa circunstância, os meios de comunicação de massa intensificam suas mensagens oferecendo todo tipo de facilidade para que os emergentes sintam-se parte desse mundo do consumo “do luxo e riqueza” tão bem representados pelo “faz de conta” ostentado nas páginas sociais e nas novelas televisivas. Os governantes e políticos oportunistas valem-se dessa regra de mercado para vender suas imagens visando angariar do povo o seu consentimento para justificar os programas governamentais que operam para satisfazer a necessidade de um povo que vive na extrema pobreza, expropriado de bens materiais e simbólicos.

Nestas condições é que se encontra o povo do Amazonas, principalmente aquela gente que vive na periferia da cidade e no interior da floresta a sofrer a falta da proteção do Estado em atenção à saúde, educação, segurança e valorização da cultura como espinha dorsal de sua dignidade e soberania. O descaso com a cultura popular no Amazonas é uma afronta, a começar pela construção de escolas sem bibliotecas, falta de política editorial e de formação de leitores, bibliotecas públicas fechadas, o centralismo e negação da diversidade cultural e a não proteção do patrimônio cultural de nossa gente.

A massificação dos programas culturais como expressão de políticas públicas é o modo que o governo do Estado encontrou para descaracterizar os valores populares incutindo no povo o desanimo, a desesperança e a vergonha de ser o que é. O diagnóstico desse quadro é tão grave porque denuncia a vulnerabilidade da fronteira territorial do Estado brasileiro na Amazônia, criando condição objetiva para instalação das forças internacionais na Amazônia brasileira.

Pesa contra nós o descaso pelo meio ambiente, a extrema pobreza, a falta de infraestrutura e o descrédito das lideranças políticas regionais. Sendo assim, o governo federal enquanto cúmplice desta situação deveria repensar o seu projeto de militarização da Amazônia e redirecionar os programas de governo de forma transversal para garantir a unidade territorial brasileira assentada na estratégia das fronteiras humanas como muralha do território nacional.

Estas medidas a serem tomadas requer urgência, exigindo dos entes federados, sob a direção do governo federal, a elaboração de um projeto para Amazônia, que promova o amplo diálogo com a sociedade civil organizada, definindo assim, políticas públicas seguido de programa de investimento que garanta o controle do território nacional como expressão da soberania popular para garantir a salvaguarda da nossa Amazônia como patrimônio do povo brasileiro.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.             

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