MASSIFICAÇÃO DA CULTURA NO AMAZONAS E A FRAGILIDADE DE NOSSAS FRONTEIRAS
Pesa contra
nós o descaso pelo meio ambiente, a extrema pobreza, a falta de infraestrutura
e o descrédito das lideranças políticas regionais. Sendo assim, o governo
federal enquanto cúmplice desta situação deveria repensar o seu projeto de militarização
da Amazônia e redirecionar os programas de governo de forma transversal para
garantir a unidade territorial brasileira assentada na estratégia das
fronteiras humanas como muralha do território nacional.
Ademir
Ramos (*)
O melhor de uma
nação é a garra, a coragem e a determinação do seu povo. Estas marcas
identitárias podem ser reconhecidas na cultura de nossa gente a se manifestar
em sua arte, música, gestual, linguagem, enfim no modo de intervir
politicamente na sociedade como protagonista da situação e sujeito da história.
Esse processo decorre de várias iniciativas, principalmente, quando se trata de
uma sociedade de classe gerida pela força de uma economia capitalista, que
reduz a cultura aos interesses de mercado e o cidadão em consumidor.
Para esse fim, os
governantes e seus agentes tudo fazem para reordenar as políticas públicas,
potencializando sua estratégia em direção ao mercado para afirmar cada vez mais
o domínio do Estado em relação à Sociedade, assim como também a competitividade
individual como norma geral para inclusão social, ou seja, o consumo extensivo
tão bem representado pela classe C.
Nessa circunstância, os
meios de comunicação de massa intensificam suas mensagens oferecendo todo tipo
de facilidade para que os emergentes sintam-se parte desse mundo do consumo “do
luxo e riqueza” tão bem representados pelo “faz de conta” ostentado nas páginas
sociais e nas novelas televisivas. Os governantes e políticos oportunistas
valem-se dessa regra de mercado para vender suas imagens visando angariar do
povo o seu consentimento para justificar os programas governamentais que operam
para satisfazer a necessidade de um povo que vive na extrema pobreza, expropriado
de bens materiais e simbólicos.
Nestas condições é que
se encontra o povo do Amazonas, principalmente aquela gente que vive na
periferia da cidade e no interior da floresta a sofrer a falta da proteção do
Estado em atenção à saúde, educação, segurança e valorização da cultura como
espinha dorsal de sua dignidade e soberania. O descaso com a cultura popular no
Amazonas é uma afronta, a começar pela construção de escolas sem bibliotecas,
falta de política editorial e de formação de leitores, bibliotecas públicas
fechadas, o centralismo e negação da diversidade cultural e a não proteção do
patrimônio cultural de nossa gente.
A massificação dos
programas culturais como expressão de políticas públicas é o modo que o governo
do Estado encontrou para descaracterizar os valores populares incutindo no povo
o desanimo, a desesperança e a vergonha de ser o que é. O diagnóstico desse
quadro é tão grave porque denuncia a vulnerabilidade da fronteira territorial
do Estado brasileiro na Amazônia, criando condição objetiva para instalação das
forças internacionais na Amazônia brasileira.
Pesa contra nós o
descaso pelo meio ambiente, a extrema pobreza, a falta de infraestrutura e o
descrédito das lideranças políticas regionais. Sendo assim, o governo federal enquanto
cúmplice desta situação deveria repensar o seu projeto de militarização da
Amazônia e redirecionar os programas de governo de forma transversal para
garantir a unidade territorial brasileira assentada na estratégia das
fronteiras humanas como muralha do território nacional.
Estas medidas a serem
tomadas requer urgência, exigindo dos entes federados, sob a direção do governo
federal, a elaboração de um projeto para Amazônia, que promova o amplo diálogo
com a sociedade civil organizada, definindo assim, políticas públicas seguido
de programa de investimento que garanta o controle do território nacional como
expressão da soberania popular para garantir a salvaguarda da nossa Amazônia
como patrimônio do povo brasileiro.
(*) É professor,
antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.
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