terça-feira, 26 de junho de 2012

“TROCA-SE VOTO POR ASFALTO”
De imediato pode parecer condenável à manifestação pública dos comunitários quanto à oferta do voto. Contudo, o fato se faz orientar pela defesa da coisa pública, em atenção às reivindicações dos moradores, exigindo que se cumpra com as obrigações legais e legítimas advindas dos próprios governantes e de seus Agentes.

Ademir Ramos (*)
De vez em quando somos surpreendidos com esta máxima nas ruas de Manaus, reclamando providencias imediatas na pavimentação das ruas, com sarjetas, esgotos e calçadas. Os apelos dos moradores são recorrentes, mas pouco ou quase nada é feito para sanear os problemas que afligem a todos os moradores, que além do asfalto, exigem ser tratados com dignidade e respeito. Sabe-se que a troca do voto por algum bem ou serviço é crime, no entanto, esses moradores não suportando mais o abandono e o descaso dos Agentes públicos expressam a sua vontade de forma anônima, condicionando o voto às obras e demais políticas públicas.

De imediato pode parecer condenável à manifestação pública dos comunitários quanto à oferta do voto. Contudo, o fato se faz orientar pela defesa da coisa pública, em atenção às reivindicações dos moradores, exigindo que se cumpra com as obrigações legais e legítimas advindas dos próprios governantes e de seus Agentes. A grita dos moradores denuncia também o quanto os governantes e políticos não cuidam da cidade como um todo, quando muito procuram realizar alguma obra em determinadas áreas estratégicas para cumprir tabela e pousar de Prefeito ou Governador.


O dever do voto a ser consagrado nas urnas é expressão da consciência prática do cidadão, que reclama dos políticos o reconhecimento dos direitos coletivos - educação, saúde, segurança, habitação, saneamento, infraestrutura, lazer, esporte, cultura, meio ambiente saudável, transporte, empregabilidade, entre outros. A realização dessas políticas de forma satisfatória, não só atende as exigências materiais, como também reconforta a pessoa, propiciando um verdadeiro enlace afetivo entre o político e o eleitor, resgatando, dessa feita, a credibilidade e a confiança no governante.


Confiança e credibilidade são valores que devem orientar a consciência prática do voto do cidadão. São as exigências que fazemos antes, muito antes do ato de votar. Confiança significa reconhecer no outro, a capacidade e competência para operar determinado projeto político sob o controle das forças populares. 
A credibilidade, por sua vez, é a condição necessária para devotar no outro a confiança do voto, sabendo que ele é capaz de cumprir com o dever de respeitar a coisa pública e criar condições para que todos possam usufruir de forma responsável.


Para isso, é preciso avaliar e examinar bem a ficha do candidato, principalmente, se ele já exerceu algum mandato popular. Procurar saber o que ele fez como se comportou e quais foram seus projetos. A partir desse levantamento pode-se devotar confiança ou não as suas propostas. Se o candidato não lhe dá respeito e não orienta o seu mandato para o interesse público, promovendo o bem-estar político e social do seu povo, não deve merecer o voto da consciência prática do cidadão.


Ademais, é necessário analisar também se as práticas desses candidatos contribuíram de forma direta ou indireta para o fortalecimento da cidadania plena, consagrada na participação e controle social. Do mesmo modo, deve-se julgar o candidato pela aplicação do recurso público, com transparência e responsabilidade, examinando se os seus atos não contrariam a vontade popular, em favor de grupos ou corporações privadas. 


Se assim for deve-se condenar nas urnas esses candidatos, votando pela sua reprovação e desmoralização pública. Enquanto isso é nosso dever votar nos candidatos responsáveis que buscam celebrar com o nosso povo a confiança e a credibilidade, na perspectiva de garantir a vontade da maioria e a defesa dos valores republicanos visando assim, o bem-estar de nosso povo, particularmente, daqueles que gritam por justiça social.


(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.     

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