domingo, 10 de junho de 2012

                                                    ÓDIO À NATUREZA

Ellza Souza (*)

A impressão que tenho é que alguns seres humanos baseados na prepotência e na ignorância têm raiva de árvore, de água limpa, de bicho, de reconhecer a sua própria existência e sobrevivência no planeta azul, verde, dourado, cinza até mais perfeitamente harmonioso entre os seres vivos ou não, mas na terra todos possuem alma segundo os nossos indígenas.

O domingo, por exemplo, amanheceu cinzento, mas o clima amenizou tendo em vista uma série de fatores como as sombras das árvores, as águas fartas que ainda temos e um conjunto de fatores que nos dão colher de chá vez por outra. Mas no Lago da Aleixo, nas proximidades da Penitenciária de Puraquequara, no final do lago e início do igarapé da Castanheira, um “senhor das terras”, madeireiro, achou que estava na hora de “limpar” o terreno e amanheceu o dia passando o trator no local, derrubando inclemente toda a mata que ainda por ali resiste. Fico imaginando o que este senhor não destruiu, vidas sem importância para ele e seus descendentes que não sabem o valor da integração no meio ambiente. Pequenos seres esmagados sob as rodas pesadas de um trator, macaquinhos e pássaros que não vão mais poder contar com as matas que lhe protegem e alimentam. Para se vingar assim de seres indefesos este homem deve ter sido um bárbaro em outros momentos e precisa dar o troco de alguma forma. Seja lá o que for o seu negócio, é completamente inadmissível a devastação sem critérios e sem amor.

Tem ainda o agravante que na área existem pequenas comunidades como a Bela Vista e o Lago do Aleixo, pessoas desassistidas  que por lá vivem há muito tempo.  O “senhor das terras” ofereceu uma quantia às pessoas para que saíssem do local mas o que os moradores da área querem é dignidade e estão inconformados com a situação de abandono e de demonstração de poder de um agressor que acha que está acima da lei.

“Está chovendo” diz uma testemunha nessa cálida manhã de domingo e “os tratores começaram a derrubar a mata”. E continua: “Eu estou no lago e os moradores não querem sair de suas casas”.

O que temos a apresentar  na Rio + 20 e na Cúpula dos povos? A realidade no Amazonas é de depredação à natureza, indignação, infortúnio das comunidades ribeirinhas e muito mais do que vinte agressões ao meio ambiente. O lixo que o diga espalhado na terra e no valente rio Negro que se defende como pode.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM.

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