Ellza Souza (*)
A impressão
que tenho é que alguns seres humanos baseados na prepotência e na ignorância
têm raiva de árvore, de água limpa, de bicho, de reconhecer a sua própria
existência e sobrevivência no planeta azul, verde, dourado, cinza até mais
perfeitamente harmonioso entre os seres vivos ou não, mas na terra todos
possuem alma segundo os nossos indígenas.
O domingo, por exemplo, amanheceu
cinzento, mas o clima amenizou tendo em vista uma série de fatores como as
sombras das árvores, as águas fartas que ainda temos e um conjunto de fatores
que nos dão colher de chá vez por outra. Mas no Lago da Aleixo, nas
proximidades da Penitenciária de Puraquequara, no final do lago e início do
igarapé da Castanheira, um “senhor das terras”, madeireiro, achou que estava na
hora de “limpar” o terreno e amanheceu o dia passando o trator no local,
derrubando inclemente toda a mata que ainda por ali resiste. Fico imaginando o
que este senhor não destruiu, vidas sem importância para ele e seus
descendentes que não sabem o valor da integração no meio ambiente. Pequenos
seres esmagados sob as rodas pesadas de um trator, macaquinhos e pássaros que
não vão mais poder contar com as matas que lhe protegem e alimentam. Para se
vingar assim de seres indefesos este homem deve ter sido um bárbaro em outros
momentos e precisa dar o troco de alguma forma. Seja lá o que for o seu
negócio, é completamente inadmissível a devastação sem critérios e sem amor.
Tem ainda o agravante que na área
existem pequenas comunidades como a Bela Vista e o Lago do Aleixo, pessoas
desassistidas que por lá vivem há muito tempo. O “senhor
das terras” ofereceu uma quantia às pessoas para que saíssem do local mas o que
os moradores da área querem é dignidade e estão inconformados com a situação de
abandono e de demonstração de poder de um agressor que acha que está acima da
lei.
“Está chovendo” diz uma testemunha
nessa cálida manhã de domingo e “os tratores começaram a derrubar a mata”. E
continua: “Eu estou no lago e os moradores não querem sair de suas casas”.
O que temos a apresentar na
Rio + 20 e na Cúpula dos povos? A realidade no Amazonas é de depredação à
natureza, indignação, infortúnio das comunidades ribeirinhas e muito mais do
que vinte agressões ao meio ambiente. O lixo que o diga espalhado na terra e no
valente rio Negro que se defende como pode.
(*) É escritora, jornalista e
articulista do NCPAM.
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