quinta-feira, 21 de maio de 2009

JOÃO DAVID CONTRA O FANTASMA DA MORTE



Semanalmente, o militante político João David manifestava sua opinião por meio da seção de Cartas de a Crítica, um dos matutinos de maior circulação de Manaus. Ainda, nessa quarta-feira (20), o jornal publicou uma de suas epístolas denunciando que: “aqui os lucros vão apenas para os banqueiros”. A editoria de a Crítica tal vez não saiba, mas João David encontra-se no pronto socorro 28 de agosto lutando contra morte cerebral. Na foto, João David é o primeiro da direita ao lado do professor da Universidade Federal do Amazonas, Amecy Souza e do renomado escritor Márcio Souza.

O registro se deu na Livraria Valer, quando juntos analisávamos o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) sobre a pretensa construção do Porto das Lajes, nas confluências do Encontro das Águas, na zona leste de Manaus.

João David é um desses cidadão indignados, homem de opinião, que não tem medo de cara feia e nem tampouco de “engravatados” arrostando conhecimento muito mais pela pose do que pelos argumentos sensatos pautados na ciência e na racionalidade dos fatos. Sua postura era a mesma tanto em sala de aula no Centro de Ensino Superior FUCAPI (Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica) como nas conferências e debates partidários.

Baiano de nascimento e militante do Partido Democrático Trabalhista do Amazonas, João David, 42 anos, sofreu nesse domingo (17) um Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico, nocauteando o combativo companheiro, que se encontra em coma na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do pronto socorro 28 de agosto de Manaus, lutando contra o fantasma da morte cerebral.

O ocorrido se deu às 23h, no interior de uma drogaria no bairro do Parque 10 de novembro, onde João Davi buscava ajuda para amenizar a dor que lhe atormentava. Desacordado foi conduzido por uma ambulância até o pronto socorro.

Para os médicos, o quadro de saúde do João David é gravíssimo. Pois, até o momento o paciente não tinha expressado nenhuma reação vital. Os procedimentos estão sendo tomados visando transferi-lo para o pronto socorro João Lúcio, pois além das tomografias que deverão ser feitas, o quadro requer também o acompanhamento de um neurologista para avaliar as funções vitais e motoras do companheiro, o que não foi possível por razões do agravante do quadro, o que piora a cada dia.

Por hora, João David encontra-se fora de combate, mas todos nós esperamos que organicamente venha reagir, vencendo mais essa disputa, voltando quem sabe a participar da nossa luta contra a construção do porto das Lajes e possa ainda manifestar através de suas epístolas a indignação contra o desgoverno e a corrupção que assola o País.

Recorre-se a mais um registro fotográfico de João David (o primeiro em pé à direita) dessa vez, junto aos militantes do Movimento SOS Encontro das Águas, posicionando-se contra a construção do porto das Lajes por entender que esse patrimônio deva ser preservado e que muito significa para a identidade do povo do Amazonas.

Finalmente, publica-se uma de suas últimas epístolas, que fala de seu estado de ânimo frente à política econômica e o mercado financeiro no Brasil para despertar a indignação e responsabilidade frente ao descaso e a desgovernabilidade imperante porque, segundo João David:

A base do fundamento trabalhista é o trabalho e a poupança. Para um país em desenvolvimento isso é imprescindível. É lamentável o que tem ocorrido no Brasil. Mais uma vez o governo deixa de fazer economia e enxugar custos e entra na briga por ofertar negócios melhores no mercado financeiro que a poupança, para fechar o rombo do caixa. Um exemplo vem do Japão. Quando se compra um carro, o IPVA só é pago no ano seguinte; os juros são baixíssimos; é preferível dar toda condição para causar benefícios à produção. Aqui os lucros vão apenas para os banqueiros e para o governo. Se você compra um carro financiado, vai pagar três: um para você e outros dois para o governo e ao banco. Nos Estados Unidos, as grandes empresas não agüentaram sobreviver sem lucro. Aqui no Brasil, o corporativismo sindical torna as empresas inviáveis e cria todas as dificuldades para que não haja resultados. Se só existem condições de multiplicarem as riquezas por meio das organizações e ao trabalhador ter garantias essenciais por meio de poucas oportunidades, por que nos tiram mais uma? Cobrando da gente juros absurdos, impostos terríveis e ainda inviabiliza tanto as empresas quanto os cidadãos de obterem o mínimo de tranqüilidade. Por que além de não ter mais Previdência Social temos que apelar para as empresas do setor privado e estatais para investimento em fundos? Aí vem um balanço todo distorcido para enganar os investidores, como é caso da Petrobras, que sofrerá uma CPI. O que me deixa triste é que ninguém reage à altura e ainda acha graça nesse tipo de atitude.

2 comentários:

Ademir Ramos disse...

Aos companheiros de luta de João David, eu não tenho uma boa notícia. Ao contrário, informo que o militante foi vencido pela morte em condição desigual porque foi covardemente atacado. Morreu nesse domingo e seu corpo foi levado para Belém do Pará para ser sepultado. Perdemos um combativo companheiro, mas os ensinamentos ficam....que Deus lhe abençoe!!!!

Alrivan Gomes disse...

Caramba professor! Pelo visto foi tão súbito tudo isso, não tive o prazer de conhecê-lo, mas tenho certeza que foi um grande homem e que deixou sim uma parcela de contribuição pra todos nós! Sou prova de como o senhor se preocupou com ele quando estava no hospital sendo medicado, estava assistindo sua aula quando o senhor articulava, ao celular, uma forma de ele ser melhor assistido, pois não tinha família nessa cidade e vi grande zelo pelo amigo....trago minha solidariedade!!