domingo, 11 de julho de 2010

A COPA DE 2014

Márcio Souza (*)
A responsabilidade agora é das autoridades brasileiras: em 2014 a Copa do Mundo será aqui. E Manaus é uma das capitais que acolherão jogos eliminatórios. A solenidade de lançamento do símbolo teve altos e baixos. A parte cultural foi pífia e não representou a diversidade cultural do nosso país, mas o discurso do presidente Lula foi divertido e inteligente.

O símbolo é feio e pobre. Concordo com os especialistas. Parecem mãos encobrindo o rosto de quem sente vergonha. O Brasil é reconhecido como um país de grandes criadores no campo das ares visuais e da ilustração. Mas a FIFA preferiu um escitório francês que deve ter-se inspirado nos piores clichês que circulam no mundo a nosso respeito. Devemos tomar isto como um sinal de alerta, para que estes clichês que impregnaram o novo símbolo não se confirmem em 2014.

Em seu discurso o presidente Lula prometeu transparência. O povo brasileiro e o mundo poderão acompanhar os gastos através da internet. Espero que esta medida seja adotada pelos estados anfitriões. Mas que não se limitem a publicar planilhas e licitações. Os projetos, planos, cronogramas, convênios, contratações de pessoal também devem estar amplamente disponível, já que não haverá nada secreto e que comprometa a segurança nacional.

Tudo deve ser de agora em diante feito com clareza e espírito republicano, como prometeu o presidente da República. O presidente da CBF disse em seu discurso que através da Copa do Mundo os povos iam conhecer melhor a grande inovação tecnológica brasileira que era a sua engenharia social que produzia tolerância, alegria, criatividade e esperança. Estas palavras contradizem o triste e ensimesmado símbolo criado pelos franceses.

Esperamos que esta nossa tecnologia seja a base inspiradora de todas as ações para a construção da infraestrutura que servirá de lastro para que o evento se torne um acontecimento inesquecível. Quando esta crônica for publicada e lida por meus sete leitores, Espanha e Holanda estarão prestes a entrar em campo para decidir o vitorioso desta emocionante Copa africana.

A África está em nós, sejamos pretos, brancos, amarelos ou vermelhos. Foi nas savanas africanas que o Homem surgiu, e com ele a inteligência e o raciocínio. E foi na África que o futebol mundial levantou a bandeira da luta contra o racismo e a intolerância. Espero que no final desta tarde de domingo a Espanha possa erguer a taça de sua primeira vitória mundial em futebol. Se não for o caso, não está menos pobre.

A Espanha é uma grande nação, capaz de conviver com tantas culturas distintas. A Espanha já levantou outras taças tão ou mais importantes que a Copa do Mundo, seu povo conquistou ao longo de sua gloriosa história muitos troféus, como o Prêmio Nobel de Literatura por exemplo. Mas levando ou não para casa a Copa do Mundo, que o Brasil se volte para a Espanha e aprenda com os catalães, como eles enfrentaram o desafio de sediar as Olimpíadas e fizeram desse desafio o grande salto que transformou Barcelona numa das mais modernas e bela cidades do mundo, legando após o gigantesco evento desportivo uma infraestrutura que trouxe a o povo catalão mais conforto e mais qualidade de vida.

Os homens públicos da Catalunha imbuíram-se de suas responsabilidades históricas e buscaram, par além de seus interesses políticos imediatos, criar as bases funcionais para que os atletas e os viajantes de todo o planeta sentissem a tradicional hospitalidade ibérica, mas não permitiram que a megalomania e os interesses escusos deixassem para trás elefantes brancos dispendiosíssimos e insensíves.

Tudo o que foi construído, todo o dinheiro que foi gasto, retornou com lucro para o povo. É isto que o povo brasileiro espera de seus políticos e administradores. A visão deve estar para o amanhã, provando que a nossa engenharia social é para valer.

(*) É Amazonense de Manaus, escritor, dramaturgo e articulista de A Crítica, onde escreve todos os domingos.

NR: A Espanha abate a Holanda no segundo tempo da prorrogação e vence por 1 x 0, tornando-se Campeã da Copa Mundo de 2010, em terras Africanas.

Nenhum comentário: