sexta-feira, 2 de julho de 2010

SELEÇÃO DO BRASIL?

Gilson Gil (*)

Em clima de copa, todos só falam na seleção brasileira e seus feitos. Hoje, o time brasileiro enfrenta a Holanda, em decisiva partida. Muitos irão ler este artigo durante o jogo, torcendo por Kaká, Robinho, Juan e cia. As vuvuzelas estarão berrando e os ouvidos estourando nesse momento. Contudo, algo me incomoda e vale a pena parar e pensar, pois a próxima copa está chegando e será aqui em Manaus. Por que seleção “brasileira”? A CBF arrecadou em patrocínios, este ano, cerca de R$ 200 M. Seu presidente está viajando pelo país, “negociando” a presença da seleção e a tabela dos jogos em várias capitais. Os patrocinadores estão sendo mobilizados a investir nessa copa e o povo já sente mais e mais “guerreiro”.

Porém, esse clima de ufanismo me perturba, admito. Ele lembra 1970 e o “pra frente, Brasil”. Vamos pensar: por que seleção do Brasil? O que temos a ver com Dunga, Ricardo Teixeira e similares? Até que ponto participo das decisões e lucro com suas atitudes? Me incomoda ver o aparato que está sendo formado para a copa 2014, no qual a FIFA exige total isenção de impostos para seus fornecedores, e como somos levados a não pensar. A CBF quer isenções, subsídios públicos e parcerias, mas, na hora de abrirem suas contas, ela reclama que é uma entidade privada e nenhum órgão público pode fiscalizá-la. As verbas públicas só são boas para fazer estádios, promover reformas, amistosos e patrocínios.

Quais as razões para alguém ser escolhido treinador? Por que Dunga e não outro? Por que esses patrocinadores? Qual a identidade que temos com jogadores que aos 15 anos já estão na Europa, treinando e vivendo sob outros costumes, totalmente alheios ao que se passa aqui? Nossos times estão cada vez mais pobres, mas a copa nem fala neles. As divisões de base dos clubes brasileiros, porta de acesso ao esporte de muitos jovens pobres, nem são comentadas pela CBF, seus patrocinadores e os governantes. O lema da copa 2014 é só “construir, construir”. Quanto mais arenas houver, melhor?!

Enfim, o que desejo ressaltar é a necessidade de maior transparência nos negócios da CBF e mais reflexão por parte de nossa população. A copa 2014 não pode ser um cheque em branco. Por que isenções totais, quando nós, mortais, pagamos cerca de 40% sobre os rendimentos em impostos? O que lucramos com esses patrocínios? Para que servirá essa copa, além de engordar os bolsos da CBF, da FIFA, seus parceiros e agregados? Será que Ricardo Teixeira quer usar a copa para ser presidente da FIFA?

(*) É Professor, pesquisador do NCPAM/UFAM e articulista do Jornal Em Tempo.

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