terça-feira, 20 de julho de 2010

NO ENCONTRO DAS ÁGUAS, A PAIXÃO PELA VIDA

Ellza Souza (*)

Já estou apaixonada pela idéia do Tombamento das nossas águas claras e escuras que se unem mas não se misturam. Será que alguém no mundo não concorda com isso? Olhem por um só instante uma foto do lugar, a beleza, a exuberância e ao mesmo tempo a fragilidade dos rios Negro e Solimões. Ali, à nossa disposição, dando-nos água, comida e roupa lavada. É tão lindo o cenário onde os dois rios enormes e tão diferentes entre si formam o nosso Encontro das Águas. Como alguém pode ter ousado fazer um projeto para a construção de um Porto naquele exato lugar. Porto é bom mas vá fazer lá na “conchinchina” não aqui nas lajes, não nas nossas águas que se encontram. Porto ali vai trazer devastação da mata, poluição das águas com a praga do petróleo que está sempre derramando por aí, escassez dos peixes nos lagos das redondezas.

Vale a pena dizer que se tem o dinheiro, a inteligência, o poder, porque não inventam coisas em prol da humanidade, sem destruir, sem acabar com a natureza que parece frágil mas já vimos que não é. A intervenção exagerada do ser humano no meio ambiente está nos custando muito caro. Não apenas em termos de preço, de custo, de dinheiro mas em termos de vida, de dignidade, de moralidade. Confesso que tinha uma quedinha pela empresa dona do projeto mas essa insistência em levar avante tão funesta idéia me fez rever a minha admiração.

Será que em nome do vil metal temos o direito de misturar tão pacatas águas sem medir as conseqüências? Vale a pena insistir nisso? Uma empresa é feita de pessoas e todos vivem num planeta só. Aqui se faz aqui se paga. Num mundo onde muitos já estão sofrendo com a escassez de água potável contribuir para a poluição dos rios, é fechar totalmente os olhos para a vida, dos outros e a sua própria.

Aos autores desse projeto sugiro dar uma volta no sertão brasileiro. Vão dar uma olhada nos seres humanos que por lá habitam e sofrem sem ter água para beber. Sua pele é tão árida quanto a terra. Por enquanto vocês estão bebendo suas águas minerais francesas. Por enquanto. Se não for preservado esses rios, essas águas, todos brevemente estaremos nos arrastando na lama, no óleo, no esgoto. Todos, homens e bichos, serão arrastados pela ganância do único ser que Deus criou com inteligência porém com livre arbítrio.

(*) É jornalista de Manaus e estudiosa da cultura do Amazonas.

Foto: O ícone do tempo de Valter Calheiros.

Nenhum comentário: