quarta-feira, 28 de julho de 2010

MÁRCIO SOUZA E A INSUSTENTÁVEL CONSTRUÇÃO DO MONOTRILHO

Indignado, o escritor amazonense Márcio Souza, por mais de uma vez, bota a boca no trombone para criticar o projeto insustentável do Monotrilho que pretendem construir na cidade de Manaus no rastro das obras da Copa 2014. A destruição do estádio Vivaldo Lima já começou a ser feita sob o pretexto de se construir uma Arena Esportiva - um tipo de Coliseu Baré -, atendendo às exigência da FIFA, segundo explicam os agentes públicos do Estado sem convencer o grande público. Contudo, contrariando, os investimentos "politicamente correto", a empresa Vale do Rio Doce, representada pela Log-In Logística Intermodal S/A, pretende "melar" o projeto Copa 2014, do Governo do Amazonas, construindo um Porto no Encontro das Águas, cartão postal da cidade de Manaus, que muito significa para a economia ambiental e turística da Amazônia. O empreendimento vem recebendo manifestações contrárias de diversos segmentos da sociedade nacional, que exige do governo federal, por meio do IPHAN, providências imediatas quanto ao Tombamento desse Patrimônio, garantindo dessa feita, sua proteção contra o modal pretendido pela Vale. O mais grave de tudo é a atitude do Governo do Estado do Amazonas que tem feito vista grossa ao projeto, permitindo desse modo, que tudo seja feito para privatização do Encontro das Águas dos Amazonenses. O que põe em risco o próprio projeto sustentável da Copa do mundo de 2014. O fato é que a Arrogância do governo é tão cínica que ofusca o pouco da racionalidade presente nesses Agentes. Confira o texto abaixo e expresse sua indignação:

ARROGÂNCIA IMPRESSIONA

Márcio Souza (*)

É impressionante a arrogância dos tecnocratas do governo do Estado, no que diz respeito ao projeto do Monotrilho. Eles são verdadeiramente impossíveis, não se rebaixam a dar explicações aos simples cidadãos preocupados com o iminente desperdício de dinheiro público, numa opção de transporte urbano de massas que foi largamente repudiada na Europa e nos Estados Unidos.
O projeto do Monotrilho continua a ser listado entre as obras a serem encetadas pelo governo estadual, seguida de um silêncio supulcral quanto à viabilidade e quais os interesses que estão nos bastidores. Repito aqui o que já escrevi antes: o monotrilho é uma navalhada no rosto urbano da capital amazonense. É obra de quem não tem raízes e nem respeito a cidade.

Mesmo nos casos em que o Monotrilho acabou vencendo a resistência dos cidadãos, este passou ao largo dos centros históricos e logradouros que significavam algo na paisagem afetiva das cidades. Mas, aqui não vamos contar com o isso, os tecnocratas e os administradores públicos que insistem nessa calamidade nunca ouviram falar em sensibilidade, são movidos por outros interesses, bem distantes do espírito republicano e do bom funcionamento democrático.

A coisa se agrava na medida em que o prefeito Amazonino Mendes, com sua larga experiência de administrador, desaprovou o Monotrilho. E apresenta a opção correta: o BRT - Bus Rapid Transit, que em portugês quer dizer Trânsito Rápido de Ônibus.

Milhares de cidades do porte de Manaus adotaram esta forma de transporte de massa racional, inventada em Curitiba, na administração do então prefeito Jaime Lerner. Quem já passou por Cáli e Bogotá, na Colômbia, ou em Hamburgo, na Alemanha, sabe como o sistema funciona e é eficiente. Há problemas ambientais, embora bem menores que os causados pelo Monotrilho, que exige intervenção radical na implantação do seu trajeto.

Aqui os inimigos de Manaus querem demolir parte da memória do centro da cidade, além de infernizar a vida de milhares de habitantes da periferia. O BRT provoca ruído e trepidação, além da poluição do ar. Mas a rapidez com que o BRT trafega, com sinais limitados e sem barreiras, permite que o trânsito como um todo flua com mais desenvoltura.

A construção desse malfadado Monotrilho é um acinte aos nossos brios, tal qual a pretensão de alguns empresários gananciosos que querem construir um porto de carga no Encontro das Águas.

Nossas forças vivas precisam dar um basta nesses arrivistas preconceituosos, que pensam que aqui podem excretar suas ambições de enriquecimento rápido brutalizando a nossa cidade e o povo. No caso do Monotrilho, o prefeito Amazonino tem a resposta correta, que o é o BRT, bem mais barato e mais eficiente. No entanto, o mesmo prefeito precisa tomar providências quanto à situação caótica do sistema de transporte de massa que atualmente existe. 'Para começar, já que vamos implantar aqui um sistema inventado pelo paranaense Jaime Lerner, é preciso romper com a quadrilha paranaense que mantém a cidade refém.

Nenhum BRT funcionará sob a condução dessa corja que se aferrou aqui como o último bastião de sua própria sobrevivência "empresarial", já que foram expulsos das cidades do interior de São Paulo, onde imperavam e se achavam acima da lei, ao ponto de perpetrar assassinatos de autoridades.

A minha impressão, e meus sete leitores que me corrijam, é que o prefeito Amazonino já percebeu que não há a menor possibilidade da cidade contar com um sistema urbano eficiente com os atuais "empresários". Não sei se a solução é a criação de uma estatal, como o Brizola fez no Rio, mas cidades como Paris, Nova Iorque e San Francisco, têm sistemas de transportes geridos pelo poder público. E como não viraram cabides de emprego, costumam funcionar muito bem.

(*) É amazonense, escritor, dramaturgo e articulista de a Crítica.

Um comentário:

MIGUEL ANTONIO BRANDT CRUZ disse...

As considerações de Márcio Souza são a expressão da angústia de muitos de nós e necessitam de grande repercursão junto a todos os vivem nesta cidade já favelizada em função da falta de planejamento urbano.
Os empresários paranaenses (muitos de Pato Branco) fazem estrago amazônia a fora. É só mapear por onde essa corja anda.
Em 1993, nós os expulsamos de Laranjal do Jari - AP. Ali, queriam mandar e desmandar. Se ferraram.
Mas nesta capital esse tipo de empresário ainda encontra abrigo firme e seguro junto a politicos venais. Quem os sustenta?