Ademar Xico Gruber (*)
O escritor Morris West escreveu o romance homônimo a este texto e que por insistência de minha então professora de Português Velina Berwanger li em minha adolescência.
Isto aconteceu às margens do caudaloso Rio Uruguai, na cachoeira onde o visionário Hubert Engel havia construído acomodações do seu tradicional Hotel Mauá, em Itapiranga-SC. Nos idos dos anos 70.
O Livro que trata da história de um jovem, sua vocação, caminhos e descaminhos da igreja. De sua luta, privações e pecados dentro da hierarquia da Igreja católica. Seu sentido em dedicar sua vida a Deus (Recomendo a leitura). De buscar no exemplo de Pedro com seu calçado típico de uma época em que pescava homens.
Mas, não quero escrever sobre o livro. É que hoje (Domingo) logo cedo calcei um par de sandálias e fui em direção ás beira do Rio Maués-Açu. Senti algo diferente ao pisar e percebi que as sandálias haviam se partido ao meio, tirei-as e fui jogar no lixo.
Ao fazer este gesto um turbilhão de lembranças encheu meus pensamentos. As sandálias haviam sido do Ademar IIº (Meu filho) e uma semana após a sua morte, minha filha Sharon, num costume ancestral distribuiu suas roupas entre amigos e conhecidos. Ficou com duas camisetas, deu-me uma camisa e as sandálias de plástico que ele tanto gostava.
Este gesto ingênuo e simples sempre nos deu satisfação e agradecimento. Sendo comum encontrar o Max, o Rui e tantos outros amigos do meu filho usando algo que dele era. Como também toda vez que calçava as sandálias um pouco dele andava comigo. Isto aliviava o coração, este sim pesado, cheio e dolorido.
Não consegui segurar as lágrimas, uma dor lancinante, forte, sufocou os soluços. Sentei olhei ao rio ali perto, senti a insignificância de nossas vidas, da pequenez da ambição, da mesquinharia das coisas materiais, da efemeridade do poder.
Ele, jovem uma vida toda pela frente, não quis envelhecer e foi servir ao Senhor, de uma forma bem mais trágica do que o personagem do Livro acima citado.
Enquanto aquele enfrentou e viveu os assombros dos subterrâneos da Igreja. Meu filho deixou sua juventude, num gesto de afirmação que tomou sua vida num acidente bobo, num ato infantil e que dói em todos nós até hoje.
É, nossos caminhos são sempre diferentes e únicos. Uns vêm, outros vão. Ninguém fica. Apenas o que se semear, plantando com amor e dedicação se colherá aqui. De lá ninguém voltou para nos dizer como é que é.
O personagem de Morris West e meu filho são pescadores. Que Deus nos ilumine.Que nos transforme a todos em pescadores de idéias, de transformações e benesses.
(*) É escritor com reconhecido trabalho na cultura de Maués (AM).
Foto: Xico Gruber, ao centro, dando explicações sobre o projeto de leitura cidadã implantado em Maués.
O escritor Morris West escreveu o romance homônimo a este texto e que por insistência de minha então professora de Português Velina Berwanger li em minha adolescência.
Isto aconteceu às margens do caudaloso Rio Uruguai, na cachoeira onde o visionário Hubert Engel havia construído acomodações do seu tradicional Hotel Mauá, em Itapiranga-SC. Nos idos dos anos 70.
O Livro que trata da história de um jovem, sua vocação, caminhos e descaminhos da igreja. De sua luta, privações e pecados dentro da hierarquia da Igreja católica. Seu sentido em dedicar sua vida a Deus (Recomendo a leitura). De buscar no exemplo de Pedro com seu calçado típico de uma época em que pescava homens.
Mas, não quero escrever sobre o livro. É que hoje (Domingo) logo cedo calcei um par de sandálias e fui em direção ás beira do Rio Maués-Açu. Senti algo diferente ao pisar e percebi que as sandálias haviam se partido ao meio, tirei-as e fui jogar no lixo.
Ao fazer este gesto um turbilhão de lembranças encheu meus pensamentos. As sandálias haviam sido do Ademar IIº (Meu filho) e uma semana após a sua morte, minha filha Sharon, num costume ancestral distribuiu suas roupas entre amigos e conhecidos. Ficou com duas camisetas, deu-me uma camisa e as sandálias de plástico que ele tanto gostava.
Este gesto ingênuo e simples sempre nos deu satisfação e agradecimento. Sendo comum encontrar o Max, o Rui e tantos outros amigos do meu filho usando algo que dele era. Como também toda vez que calçava as sandálias um pouco dele andava comigo. Isto aliviava o coração, este sim pesado, cheio e dolorido.
Não consegui segurar as lágrimas, uma dor lancinante, forte, sufocou os soluços. Sentei olhei ao rio ali perto, senti a insignificância de nossas vidas, da pequenez da ambição, da mesquinharia das coisas materiais, da efemeridade do poder.
Ele, jovem uma vida toda pela frente, não quis envelhecer e foi servir ao Senhor, de uma forma bem mais trágica do que o personagem do Livro acima citado.
Enquanto aquele enfrentou e viveu os assombros dos subterrâneos da Igreja. Meu filho deixou sua juventude, num gesto de afirmação que tomou sua vida num acidente bobo, num ato infantil e que dói em todos nós até hoje.
É, nossos caminhos são sempre diferentes e únicos. Uns vêm, outros vão. Ninguém fica. Apenas o que se semear, plantando com amor e dedicação se colherá aqui. De lá ninguém voltou para nos dizer como é que é.
O personagem de Morris West e meu filho são pescadores. Que Deus nos ilumine.Que nos transforme a todos em pescadores de idéias, de transformações e benesses.
(*) É escritor com reconhecido trabalho na cultura de Maués (AM).
Foto: Xico Gruber, ao centro, dando explicações sobre o projeto de leitura cidadã implantado em Maués.
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