quinta-feira, 12 de agosto de 2010

MANAUS E O CAOS CRIATIVO NÚMERO MIL

Ellza Souza (*)

Já escrevi vários textos sobre o caos do centro da cidade. Crio, recrio, aumento, suprimo mas não invento nada. Volto a tocar na mesma tecla pois quero muito que a cidade de Manaus melhore e volte a ser bela como um dia foi. É difícil mas não é impossível. Além da vontade pessoal de cada um de seus habitantes precisa da vontade política que deve impor um mínimo de regras e fazer cumprir.

O lixo é um dos graves problemas das ruas do centro. Até tentaram colocar umas lixeiras mas não deu certo. Foram arrancadas e jogadas no...lixo. O mais prático é jogar os detritos no rio, na rua ou em lugares determinados pela população. Sem regras a cidade virou um furdunço que nem inglês quer ver mais. E nem sempre foi assim.

Andando pela rua Marechal Deodoro, a famosa “bate palminhas”, me lembrei que por ali ficava o prédio do Correio. Aliás um prédio bonito, da época da borracha Uma edificação histórica que como muitos outros na área central, foi esquecido. Rastreando com o olhar vi que ele ainda estava de pé por trás de uma imensidão de barracas feitas de lonas vermelhas. Incrível mas faz muito tempo que o prédio está vazio, assim como o da Biblioteca Pública, o Paço da Liberdade, a Santa Casa, o Pavilhão Universal, o Mercado Adolpho Lisboa, o Museu do Porto. Será que estão esperando verba ou esperando cair? Reconheço que alguma coisa começou a ser feita. Mas quero ver a conclusão das obras, o mercadão exibindo as frutas cheirosas da nossa terra, a biblioteca pública cheia de livros e de estudantes em busca de conhecimento, quero ver o lixo dentro das lixeiras e quem jogar fora delas ser multado sem pena e dó.

Onde foi parar o sorriso da cidade de Manaus? Antes tão arborizada, pacata, com lindos casarões de cores fortes e pequenas casas espalhadas pelas ruas estreitas entremeadas de igarapés límpidos. Um empresário do “ramo” de flores que mora em Manaus há quarenta anos disse que quando chegou por essas bandas a cidade era “acolhedora, bela, limpa”. Veio o esperado progresso e tudo se transformou nessa bagunça perfeita que ninguém consegue organizar. A cada dia mais e mais lonas vermelhas se apertam no centro tomando conta das poucas calçadas e da passagem do pedestre. Será que por trás disso está a falta de emprego, a falta de governo e estamos predestinados a circular entre barracas e objetos piratas de toda espécie para sempre? Foi para isso que estudei minha mãezinha? Foi para ver isso que vivi mais de... ham...ham...?

Manaus, que poderia voltar a sorrir, está sucumbindo ao “rio” de lonas e de lixo. As pessoas que montam essas barracas indiscriminadamente pelo centro será que são trabalhadores, será que isso é o melhor para eles? Acredito sinceramente que não. A sociedade precisa de normas, de leis, de políticos sérios que procurem não só o voto mas o melhor para a coletividade.

As ruas do centro margeadas pelo lindo rio Negro formam um caldeirão sujo, fedorento e feio por causa das barracas e da sujeira. As pessoas que passam o dia no local e se acham o dono do espaço, vivem mal mas não arredam pé da área. A mercadoria pirata é colocada nas mãos desses “trabalhadores”, que não estudam, não se esforçam, tudo é feito ali na rua. Até amor. Famílias inteiras se espalham por ali assegurando o seu pedaço. Estão se formando gerações assim e cada vez mais a cidade caminha para a bancarrota. Também, os que são pagos para fazer alguma coisa pelo social não andam por essas bandas. Sua “praia” é outra. E por lá deve ser belo, limpo, cheiroso, chique, não tem lona para enfeiar o local.

Ainda bem que o turista que vem para cá, já avisado, foge do centro da cidade. Vai direto do aeroporto para a selva, com raras exceções. Ele está certo. O turismo expulsivo é muito praticado por aqui. Tirando o Largo São Sebastião e o Teatro Amazonas, onde poderíamos levar uma pessoa que queira conhecer o centro?

Bibliotecas, arquitetura antiga e revitalizada, museus, praças (devo reconhecer também o trabalho feito na praça da Polícia e da Saudade), padarias, livrarias, boas feiras de artesanato, mercado, ruas limpas, lugares que dão vida a uma cidade, são escassos na nossa. Para quem quer conhecer a história, a cultura, o folclore e fazer compras, procure outro rumo. Aqui só existem lonas vermelhas abrigando quinquilharias falsificadas. E lixo, muito lixo espalhado pra todo lado. E já até ouvi dizer que é a cidade mais limpa do Brasil. Balela. Vamos cair na real, reconhecer a nossa parcela de culpa e apontar o dedo para o principal culpado que são os governantes omissos que não servem nem para manter a outrora bela cidade, limpa.

Quem for pobre ou melhor quem for podre que esbarre nas centenas de barracas e caia de cara na lama do descaso, no lixo da omissão, no buraco sem fim da corrupção. Eu mereço...

(*) É jornalista, estudiosa da história da cultura do Amazonas e cronista do cotidiano.

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