Isaac Roitman (*)
Na última semana de julho realizou-se a 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Natal, no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Entre as temáticas da reunião, a educação foi objeto de discussões realizadas em conferências, mesas-redondas, em grupos de trabalho e mesmo nos debates com candidatos à Presidência da República. É consenso que a educação básica — primeira infância, infantil, fundamental e médio — se constitui na principal tragédia da educação brasileira. Abundantes dados de avaliações nacionais e internacionais comprovam a tragédia.
Comecemos com a educação da primeira infância, que tem como cenário principal o ambiente familiar e as creches. Não existe no Brasil uma política pública consolidada para a educação de crianças de até 3 anos. Segundo James Heckman, Prêmio Nobel de Economia em 2000, colocar mais crianças na escola, como tem feito o Brasil, é bom. Cuidar da melhoria da qualidade de ensino é ainda melhor. Mas essas duas iniciativas, por mais bem executadas, não chegarão a fazer muita diferença se não investirmos nas crianças de até 3 anos de idade, a chamada primeira infância.
Ele ressalta que aos 3 anos de idade começa a distância, em termos de melhoria nas condições de vida, entre as pessoas cujos pais tratam de estimulá-las, lendo para elas,engajando-as em jogos e conversas, e aquelas que são negligenciadas por eles. É a partir daí que começa a surgir a grande divisão, fazendo com que a desigualdade se perpetue nas gerações posteriores. Segundo ele, baseado em projetos desenvolvidos nos Estados Unidos, cada dólar investido na educação da primeira infância deu um retorno de US$ 9 para a sociedade.
No entanto, os ganhos obtidos com esses programas podem ficar para trás se a criança for depois matriculada em escolas de baixíssima qualidade, que é o caso da grande maioria das escolas públicas brasileiras. Nas discussões da reunião anual da SBPC em Natal, várias dimensões foram analisadas visando à conquista da qualidade de educação nas escolas públicas.
A dimensão mais importante é o papel desempenhado pelo professor. É um requisito fundamental que o professor do futuro — novo professor — tenha formação adequada para educar o jovem contemporâneo dentro de um contexto da "era do conhecimento", em que a relação social é influenciada de forma permanente pelos rápidos avanços científicos e tecnológicos. Assim ele não será um simples instrumento de transmissão de novos conhecimentos, atuando como um facilitador da aprendizagem.
A missão do professor deverá ser valorizada pela sociedade. Uma meta nesse sentido é que, em 2014, o piso salarial do professor de ensino básico, que hoje está em torno de R$ 1 mil, seja de R$ 4 mil. Essa meta foi apresentada nos debates com os candidatos à Presidência da República. Até 2022 o salário do professor deverá estar entre os melhores no serviço público. As condições de trabalho deverão ser propícias ao ambiente educacional e os planos de carreira, baseados em desempenho.
Os conteúdos e os processos pedagógicos deverão ser revisados estimulando a autonomia dos estudantes, orientando para o respeito a si mesmo e aos demais e para a solidariedade. As futuras gerações deverão ser preparadas para respeitar a natureza, compreender a diversidade cultural e fazer o que estiver ao seu alcance para trabalhar pela paz e pela igualdade de seus semelhantes.
Uma nova concepção pedagógica deve apontar para um conhecimento integrador dentro de um cenário que estimule a criatividade e a crítica e, sobretudo, a construção de valores da cidadania. As atividades culturais, artísticas e esportivas deverão ser incentivadas, respeitando-se as tendências e as sensações individuais dos estudantes.
Outras dimensões, como infraestrutura, gestão, avaliação e integração com os pais e a sociedade, deverão ser também aperfeiçoadas. Esses desafios deverão estar na pauta de nossos governantes nas próximas décadas. A educação de qualidade é um investimento caro. Para aqueles governantes que usam esse argumento para pouco fazer pela educação, seria pertinente lembrar o pensamento de Derek Curtis Bok, ex-presidente da Universidade de Harvard, que disse:
"Se você acha que a educação é cara, tenha a coragem de experimentar a ignorância".
(*) É Coordenador do Grupo de Trabalho de Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e articulista do Jornal Correio Braziliense
Na última semana de julho realizou-se a 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Natal, no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Entre as temáticas da reunião, a educação foi objeto de discussões realizadas em conferências, mesas-redondas, em grupos de trabalho e mesmo nos debates com candidatos à Presidência da República. É consenso que a educação básica — primeira infância, infantil, fundamental e médio — se constitui na principal tragédia da educação brasileira. Abundantes dados de avaliações nacionais e internacionais comprovam a tragédia.
Comecemos com a educação da primeira infância, que tem como cenário principal o ambiente familiar e as creches. Não existe no Brasil uma política pública consolidada para a educação de crianças de até 3 anos. Segundo James Heckman, Prêmio Nobel de Economia em 2000, colocar mais crianças na escola, como tem feito o Brasil, é bom. Cuidar da melhoria da qualidade de ensino é ainda melhor. Mas essas duas iniciativas, por mais bem executadas, não chegarão a fazer muita diferença se não investirmos nas crianças de até 3 anos de idade, a chamada primeira infância.
Ele ressalta que aos 3 anos de idade começa a distância, em termos de melhoria nas condições de vida, entre as pessoas cujos pais tratam de estimulá-las, lendo para elas,engajando-as em jogos e conversas, e aquelas que são negligenciadas por eles. É a partir daí que começa a surgir a grande divisão, fazendo com que a desigualdade se perpetue nas gerações posteriores. Segundo ele, baseado em projetos desenvolvidos nos Estados Unidos, cada dólar investido na educação da primeira infância deu um retorno de US$ 9 para a sociedade.
No entanto, os ganhos obtidos com esses programas podem ficar para trás se a criança for depois matriculada em escolas de baixíssima qualidade, que é o caso da grande maioria das escolas públicas brasileiras. Nas discussões da reunião anual da SBPC em Natal, várias dimensões foram analisadas visando à conquista da qualidade de educação nas escolas públicas.
A dimensão mais importante é o papel desempenhado pelo professor. É um requisito fundamental que o professor do futuro — novo professor — tenha formação adequada para educar o jovem contemporâneo dentro de um contexto da "era do conhecimento", em que a relação social é influenciada de forma permanente pelos rápidos avanços científicos e tecnológicos. Assim ele não será um simples instrumento de transmissão de novos conhecimentos, atuando como um facilitador da aprendizagem.
A missão do professor deverá ser valorizada pela sociedade. Uma meta nesse sentido é que, em 2014, o piso salarial do professor de ensino básico, que hoje está em torno de R$ 1 mil, seja de R$ 4 mil. Essa meta foi apresentada nos debates com os candidatos à Presidência da República. Até 2022 o salário do professor deverá estar entre os melhores no serviço público. As condições de trabalho deverão ser propícias ao ambiente educacional e os planos de carreira, baseados em desempenho.
Os conteúdos e os processos pedagógicos deverão ser revisados estimulando a autonomia dos estudantes, orientando para o respeito a si mesmo e aos demais e para a solidariedade. As futuras gerações deverão ser preparadas para respeitar a natureza, compreender a diversidade cultural e fazer o que estiver ao seu alcance para trabalhar pela paz e pela igualdade de seus semelhantes.
Uma nova concepção pedagógica deve apontar para um conhecimento integrador dentro de um cenário que estimule a criatividade e a crítica e, sobretudo, a construção de valores da cidadania. As atividades culturais, artísticas e esportivas deverão ser incentivadas, respeitando-se as tendências e as sensações individuais dos estudantes.
Outras dimensões, como infraestrutura, gestão, avaliação e integração com os pais e a sociedade, deverão ser também aperfeiçoadas. Esses desafios deverão estar na pauta de nossos governantes nas próximas décadas. A educação de qualidade é um investimento caro. Para aqueles governantes que usam esse argumento para pouco fazer pela educação, seria pertinente lembrar o pensamento de Derek Curtis Bok, ex-presidente da Universidade de Harvard, que disse:
"Se você acha que a educação é cara, tenha a coragem de experimentar a ignorância".
(*) É Coordenador do Grupo de Trabalho de Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e articulista do Jornal Correio Braziliense
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