sábado, 14 de agosto de 2010

O REENCONTRO

Ademar Fernandes Gruber (*)

Final da tarde de Domingo. De mãos dadas ando em direção ao Mercado Municipal. Florianópolis ao final do dia é linda. De onde estava avistava as cores da Ponte Hercílio Luz começar a iluminar a noite.

Olho para as mesas espalhadas nas calçadas e a vejo. Empalideço! Meu coração tem uma parada repentina. Tremo. Minha esposa percebe algo diferente e pergunta:
- O que foi? Estás Bem? O que aconteceu?
Tento falar, mas minha voz está embargada. Pigarreio. Respiro fundo e consigo responder:
- Quanto tempo! Trinta anos e volto a vê-la...
-Ver quem? Do que você está falando? Pergunta-me ela com um ar desconfiado.
( Ela está linda. O tempo foi justo, a vida não. Ela conversa com um amigo, ainda não me vê.)

Nova respirada e refeito respondo:
- A cidade. Eu não me lembrava o quando era bonita neste horário. Olha lá o pessoal! Emendo rapidamente e aponto para a dita mesa.
Nos voltamos. Aceno e somos notados. Chegamos mais perto, João se levanta, Madalena também, os outros apenas observam.

Cumprimento João, que me abraça. Minha esposa fica um passo atrás embaraçada. Volto-me e antes de me dirigir à Madalena, digo:
- Ei gente, esta é a minha esposa.

Todos a saúdam. Dou um passo desajeitado. Pego na mão de Madalena. Um leve tremor percorre nossos corpos. Sinto a sinergia. Olho em seus olhos, ela os abaixa. Levo meu rosto para perto do dela para os beijinhos de saudação. Ambos estamos titubeando. Nervosos, desconfiados. Seu perfume é o mesmo e me inebria. Um leve toque e voltamos no tempo.

João me cutuca, dizendo alegremente:
- Ei! Tá bom. Tá bom. Vocês dois parecem namorados que não se vêem há muito tempo.
Parece saber que é isto que ela e eu estamos sentindo. Rimos nervosamente. Nos olhamos. Milhões de palavras estão nesta troca de olhares. Nos acalmamos. Sentamos. A vida passa num piscar de olhos. O coração volta ao toque normal. Estamos felizes por nos vermos mais uma vez...Pode até ser a última. Valeu a pena o reencontro. Nada mais nos interessa.

Somos dois adolescentes cinquentões que a vida separou. Construímos famílias e vivemos momentos distintos, distantes, separadamente. Mas, lá no fundo, cada um de nós esperava este reencontro. Passamos nossa vida a limpo. Rimos alegremente de momentos passados. Choramos os momentos difíceis de rumos diferentes e ao final na despedida a certeza de que mesmo separados, nossas almas sempre estiveram juntas. É muito bom o sentimento do amor, mesmo que interrompido. Na viagem de volta, venho mais leve. O coração mais solto. Uma saudade menor.
Valeu a pena! Ufa! Que bom.

(*) É escritor e observador arguto da semântica das relações.

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